Angola Fala Só : Na saúde em Angola “pouco ou nada mudou”, diz o médico Benedito Quinta

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Benedito Quinta, cardiologista no Hospital Geral de Benguela, Angola

O estado do sector da saúde em Angola “pouco ou nada mudou” desde que o Presidente João Lourenço assumiu o poder em Angola, disse o cardiologista angolano Benedito Quinta.

Ao participar no programa “Angola Fala Só”, Quinta disse que quando o país alcançou a paz há 18 anos “todos nós esperávamos que por esta altura tivéssemos avançado alguns degraus, mas a situação não é ainda o que é desejável”.

“A mortalidade materna, a mortalidade infantil, o controlo das grandes endemias, tanto sejam as doenças crónicas não transmissíveis como as doenças infecciosas, ainda fazem parte da rotina em grande escala em todo o território nacional”, acrescentou, afirmando ainda que a todos os níveis do sector de saúde “a qualidade necessária para fornecer a assistência desejada está aquém do desejado.”

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Desde a subida de João Lourenço à Presidência, “não mudou muito ou quase nada, pois continuamos a ter problemas, os mesmos problemas com as mesmas dimensões”.

O cardiologista mencionou a falta de disponibilidade de medicamentos e tecnologia entre os problemas do sector, afirmando que, devido às insuficiências, doentes que deveriam ser atendidos no primeiro nível de postos médicos e hospitais municipais, afluem para o segundo nível que são os hospitais gerais, “que acabam por ter uma grande congestão de pacientes” devido aos poucos recursos existentes.

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No terceiro nível dos hospitais nacionais “o processo é o mesmo”, acrescentou.

Interrogado sobre como deveria o Governo angolano melhorar a situação, o cardiologista disse que é preciso definir prioridades em relação às infraestruturas, à gestão de recursos humanos e planos de formação de quadros.

Benedito Quinta defendeu a descentralização da gestão financeira do sistema de saúde pois, segundo disse, “os planos de necessidade de recursos humanos devem ser decididos localmente”.

“Somente quem está em determinada localidade é que pode sentir as suas reais necessidades, planificar os seus próprios recursos e fazer planos de formação”, advertiu aquele especialista para quem “é preciso ter um processo local de formação e, no caso de tal não ser possível, então encaminhar para o estrangeiro”.

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Questionado sobre a presença de médicos estrangeiros no país, o médico Quinta reconheceu que ainda não há em Angola a quantidade necessária de médicos que o país precisa, mas fez notar que “existe um grande número de médicos recém formados que não estão absorvidos pelo sistema nacional de saúde”.

Contudo, fez notar, não há também especialistas “em quantidade suficiente para atender as necessidades da população angolana”.

"Ainda há a necessidade de apoio estrangeiro”, disse, alertando, no entanto, que “não pode haver disparidade salarial ou de remuneração entre um médico expatriado e um nacional que muitas vezes fazem o mesmo trabalho”.

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Interrogado por um ouvinte sobre o facto de se dar mais atenção à epidemia do coronavírus do que aquelas doenças que mais matam em Angola como a malária, aquele especialista afirmou que a Covid-19 é uma doença “cujo controlo não está bem estabelecido, é difícil de controlar e por isso criou-se uma espécie de pânico generalizado que tem repercussões políticas”.

“A Covid-19 pela sua natureza e expansão à escala global acabou por ter uma repercussão muito maior porque todo o mundo foi atingido e os mecanismos de transmissão são bastante fluídos e de difícil controlo”, disse o médico .

Ele acrescentou ainda que "a forma como se dissemina muito rapidamente acaba por ser um problema global e Angola está dentro desse contexto.

Benedito Quinta é cardiologista no Hospital Geral de Benguela.