Abstenção nas eleições angolanas poderá atingir nível recorde

Manifestantes pedem transparência nas eleições em Angola, Cacuaco

Analistas dizem que desilusão e "descrédito generalizado" dos partidos politicos podem levar eleitores a não votarem

O eleitorado angolano poderá abster-se de votar nas próximas eleições em números recordes, disseram dois analistas angolanos.

Nas últimas eleições de 2012 a abstenção rondou os 40% e receia-se que esse número seja ainda maior este ano

O analista Sérgio Kalundungo não tem dúvidas em afirmar que, a julgar
pelos níveis de desencanto dos cidadãos, o fenómeno da abstenção pode
estar bem presente nas eleições de 23 de Agosto.

Kalundungo fez notar que o número de eleitores que escolhem não participar tem vindo a caír desde 2008

“De 2008 a 2012 houve uma redução do número de pessoas que compareceu às mesas de voto e eu acredito que de lá para cá a nossa democracia viveu uma certa crise, na medida em que houve um afastamento, aumentaram os níveis de desencanto entre os cidadãos e a política”, disse o analista para quem “ os próprios políticos também se foram afastando dos cidadãos”.

“Não ficaria surpreso se o nível de abstenção e desinteresse fosse maior”, acrescentou.

Walter Ferreira, analista e coordenador da Plataforma Juvenil para a Cidadania, concordou em que é possível um aumento da abstenção.

“Há um descrédito generalizado dos partidos políticos e das instituições”, disse.

A campanha eleitoral completa Domingo a sua primeira semana e Sérgio Kalundungo deu uma avaliação positiva a esses primeiros dias de campanha e sublinhou os apelos à tolerância feitos pelo presidente da Comissão nacional Eleitoral e pelo Ministro do Interior.

“Fiquei muito agradado de ver o encontro entre o governador do Huambo que é também o primeiro secretário do MPLA com os seus pares de outros partidos para apelar à harmonia e paz”, disse fazendo notar um encontro “num culto” no Kwanza Sul entre o governador e membros de outros partidos.

Kalundungo criticou os tempos de antenas afirmando que em alguns casos de podem confudir “com uma sessão de comédia”.

Por outro lado o ativista cívico Walter Ferreira manifestou preocupação pelo que disse ser o envolvimento das igrejas a favor de um dos concorrentes.

“Esta intromissão da igreja nesta fase de pré campanha e campanha eleitoral é muito feita e é triste”, disse. Walter Ferreira que é também coordenador da Plataforma Juvenil para a Cidadania.

“Igrejas que durante um ano não oraram as mortes de pobres, as demolições de casas de cidadãos vêm agora orar para as eleições e isto é uma aberração”, acrescentou Walter Ferreira para quem nesta campanha eleitoral para a oposição “ seria mais importante do que criticar o MPLA introduzir uma forma diferente de dialogar com o eleitorado”.

O analista considerou que os partidos políticos devem fazer uma aposta mais forte na juventude já que o eleitorado mais velho está muito ligado a lealdade partidária sendo pouco provável que mude o seu voto em relação a eleições anteriores devido a “ligações históricas”.

A historia de Angola, disse, “muitas vezes confunde-se com a historia dos partidos políticos e daí eu achar que a oposição como quer chegar ao poder deveria explorar o eleitorado mais novo”.

Interrogado sobre o facto de todos os partidos prometerem combater a corrupção Walter Ferreira disse que a corrupção “é combatida por um lado com coragem e por outro lado pela separação do poder judicial do poder político”.

“Temos que ter uma procuradoria-geral da republica que efectivamente vá atrás daqueles que estão na gestão da coisa publica e que depois desviam e precisamos de ter uma independência dos tribunais”, acrescentou