Muitas dúvidas pairam sobre o processo eleitoral angolano de 2017. Entre as dúvidas, o mau arranque do processo.
O registo dos eleitores, a usurpação de competencias do órgão ministerial MAT em relação à Comissão Nacional Eleitoral, a postura dos órgãos de comunicação social e o fraco entusiasmo do cidadão eleitor e sobretudo o receio por momentos tensos após a divulgação dos resultados por causa do espectro da fraude.
Estes e outros desafios vão ser detalhados pelos nossos interlocutoes: Makuta Nkondo, jornalista e antigo deputado a Assembleia Nacional, Nelson Pestana Bonavena, cientista político, Engenheiro Ngola Kabango, ministro do interior do governo de transição de Angola em 1974 e o jurista Elias Isaac, representante da Open Society em Angola.
Como manda a Constituição de 2010 da República de Angola, as eleições gerais realizam-se de cinco em cinco anos, as últimas eleições tiveram lugar em 2012, sendo assim 2017 é o ano das próximas eleições em Angola.
No ar pairam as questões e suspeições sobre fraude e Ngola Kabango histórico dirigente da FNLA, que já foi ministro do Interior no primeiro governo de transição angolano de 1974, assegura que não há crise que impeça a realização das eleições este ano.
''Já houve muitas dúvidas mas agora as eleições vão mesmo sair este ano a crise não é impedimento suficiente para travar as eleições'', diz o Ngola Kabango da FNLA.
A reforçar a ideia, Elias Isaac da Open Society Angola diz que realizar eleições é "uma obrigação, não há como não haver este ano".
''A crise não chega, o governo é obrigado a realizar eleições com ou sem crise, para evitar inconstitucionalidade e ilegalidade'', defende Elias Isaac.
O cientista político e jurista Nelson Pestana Bonavena também acredita que no final de Agosto ou Setembro os angolanos vão mesmo pintar o dedo.
Já cobriu várias eleições em Angola como no estrangeiro, o jornalista Makuta Nkondo é que não tem tanta certeza que haverá pleito eleitoral em 2017 e justifica: ''Duvido por causa da crise que dizem ser do petróleo mas que é do roubo desenfreado dos governantes, incluindo o Presidente da República e seus familiares; Outro motivo que me faz duvidar é a saúde de José Eduardo dos Santos''.
Uma vez realizada as eleições, o também antigo deputado da Assembleia Nacional pensa que não vão acontecer grandes mudanças.
''Não vejo grandes desafios para estas eleições de 2017 em que o MPLA tem a faca e o queijo na mão: Tem o dinheiro, tem a segurança, tem a comunicação social o MPLA usa e abusa da TPA uma televisão que se tornou partidária'', acrescentou Makuta Nkondo.
Nelson Pestana por seu lado diz não acreditar muito que a "comunicação social estatal com as pessoas que a dirigem venha mudar muito nestas eleições''
Por seu lado, Ngola Kabango exemplifica: ''Vimos no Gabão e na Gâmbia só não aconteceu um banho de sangue porque há esforços para travar este banho e sangue, o governo com mais responsabilidade no processo deve fazer tudo para evitar esse banho de sangue''.
Os pleitos eleitorais de 1992, de 2008 e 2012 deviam ajudar o executivo a não cometer as mesmas falhas diz Kabango.
O grande desafio para Nelson Pestana e que deve ser travado é a "repetição de manobras eleiorais para perpetuação do poder".
E o desafio maior seria para Elias Isaac "que pela primeira vez tivéssemos um pleito diferente dos anteriores".
''Em Angola nunca tivemos processos eleitorais trasparentes, justo e participativo e sem interferencia de instituições interessadas directamente no processo, as eleições devem ser do cidadão e não dos partidos'', afirmou.
Makuta Nkondo adiantou ainda que em conversa com um alto dirigente do MPLA, "José Eduardo dos Santos mantém a ideia de um dos seus filhos: Isabel ou Zenú dos Santos venham a ser cabeça de lista para as eleições de 2017 ou então forçar a sua própria presença a cabeça de lista caso a sua saúde permita''