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"Pivot" das dívidas ocultas e Armando Guebuza tinham comunicações directas


Armando Guebuza (à esquerda do filho Ndambi Guebuza) era chamado de "papá" por Jean Boustani
Armando Guebuza (à esquerda do filho Ndambi Guebuza) era chamado de "papá" por Jean Boustani

O antigo Presidente moçambicano Armando Guebuza esteve por dentro de todas as negociações em torno do reescalonamento das dívidas contraídas pelo seu Governo junto do Fundo Monetário Internacional (FMI), já no consulado de Filipe Nyusi.

O seu informante era o empresário libanês Jean Boustani, o pivot do caso “dívidas ocultas”, de acordo com revelações feitas no Tribunal de Brooklin, em Nova Iorque, no julgamento de Boustani.

A informação foi avançada por uma agente especial do FBI, a polícia de investigação americana, chamada Fatima Haque.

“A testemunha apresentou, dentre vários documentos, mensagens de texto trocadas entre o antigo Chefe do Estado e o executivo da Privinvest, que é considerado o cérebro das dívidas ocultas e está a ser julgado pelo Governo americano”, revela o Centro de Integridade Pública (CIP), de Moçambique, que está a acompanhar o processo.

A mesma fonte adianta que “as mensagens foram trocadas entre Março e Abril de 2016, período importante na história das dívidas ocultas”, quando o Governo de Filipe Nyusi reestruturou a dívida da EMATUM, transformado em garantia do Estado emitida para avalizar os títulos da dívida contraída pela EMATUM em dívida soberana.

Jean Boustani mantinha Armando Guebuza, a quem chamava de “Papá”, informado sobre o que estava a acontecer tanto em relação à negociação da reestruturação da dívida da EMATUM como em relação à negociação do Governo com o FMI após a descoberta das dívidas ocultas da MAM e ProIndicus e Ministério do Interior, num total 1.4 mil milhão de dólares, de acordo com o CIP.

Trocas de mensagens

Por exemplo, a 28 de Março de 2016, um dia antes do prazo para a reestruturação da dívida da EMATUM, Jean Boustani mandou uma mensagem a Armando Guebuza a dar conta das negociações.

“Papá. Para sua informação. Fui bem sucedido em refinanciar todos os projectos e emitir Eurobonds internacionais com grande sucesso. Portanto, está tudo bem. Sempre servindo a pátria como você desejou e instruiu. Abraço”, escreveu Boustani, tendo Guebuza respondido “Thanks, abraço”.

Mais à frente, a 20 de Outubro de 2016, quando uma delegação do Governo moçambicano estava em Washington em reunião com a então directora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, Jean Boustani manda outra mensagem para Guebuza.

“Boa tarde papá. Espero que esteja tudo bem. Ontem, a chefe do FMI reuniu-se com o PM, juntamente com António Carlos do Rosário e Isaltina Lucas. Correu muito bem. Assim, um comunicado será emitido brevemente para esclarecer os factos e expor toda a verdade. Só para saber, Luisa Diogo está lá também. Porém, não é parte da delegação oficial!! Estou a fazer tudo o que está ao meu alcance pelo interesse de Moçambique. Como você sempre me instruiu. Vou lhe manter informado. Abraço”, disse Boustani, com o antigo Chefe de Estado a responder “Fine meu filho. Abraço”

O nome de Armando Guebuza não foi citado durante o processo de contratação das dívidas ocultas que deixaram um enorme buraco financeiro nas contas do Estado moçambicano.

Entretanto, o filho dele, que não desempenhava nenhum cargo ligado com o Governo ou o sistema financeiro, Armando Ndambi Guebuza, recebeu milhões de dólares e foi considerado uma pessoa fundamental para conseguir a aprovação dos projectos.

Ndambi Guebuza, entretanto, está detido em Maputo a aguardar julgamento.

Na audiência de quarta-feira, 13, a agente do FBI indicou que o filho do antigo Presidente, terá recebido entre 50 e 60 milhões de dólares.

Manuel Chang, antigo ministro das Finanças de Moçambique e que se encontra detido na África do Sul, recebeu pagamentos de cinco milhões de dólares, provados com vários documentos utilizados pela agente, onde as alcunhas para Chang eram “Chopstick” e “Pantero”.

Personagem desconhecida

Outra personagem citada pelas testemunhas permanece como um grande mistério.

Ela foi referida pela alcunha de "Nuy", "Nys", "New Guy" e "New Man" e terá recebido a quantia um milhão de dólares em 2014.

Entretanto, a justiça norte-americana acredita que Ndambi Guebuza e Teófilo Nhangumele foram os principais responsáveis pelas comunicações com o então Presidente Armando Guebuza, para aprovação dos projectos.

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