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Mário Soares: a trajectória de um lutador pelas liberdades


Maria Barroso, esposa, e Mário Soares
Maria Barroso, esposa, e Mário Soares

A trajectória de Mário Soares confunde-se com a luta pela liberdade e a implantação da democracia em Portugal, bem como da sua entrada na actual União Europeia.

Soares também liderou as negociações que selaram a independência das então colónias portuguesas, na sequência da luta dos diversos movimentos de libertação, PAIGC, MPLA, FRELIMO e MLSTP.

Mário Soares nasceu a 7 de Dezembro de 1924, em Lisboa, filho de Elisa Baptista e João Lopes Soares, sacerdote e ministro das Colónias de um Governo da I República.

Influenciado pela actividade política do pai, Mário Soares conheceu depois do Liceu aquele que viria a ser um dos seus mais marcantes inpiradores, amigos e adversários políticos, Álvaro Cunhal.

O fundador do Partido Comunista Português recrutou-o quando estudava Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa, onde encontrou-se com outras figuras da resistência portuguesa, como Jorge Borges de Macedo e António José Saraiva.

Com medo de ser obrigado a entrar na clandestinidade, recusou participar no congresso do PCP em 1943, mas continuou activo na luta contra o fascismo.

A 8 de Maio de 1945, no dia em que termina a II Guerra Mundial, juntou uma multidão numa manifestação liderada por ele no Rossio, em Lisboa, e no dia seguinte fez o seu primeiro discurso num acto público, num cortejo que teve por destino as embaixadas dos Estados Unidos, Inglaterra e França.

As prisões

No mesmo ano, em Outubro, participou na fundação do Movimento de Unidade Democrática (MUD), uma organização que junta praticamente todos os sectores de oposição à ditadura.

Meses depois, em 1946, Mário Soares foi preso junto com os membros do MED, depois de se terem oposto à entrada de Portugal na ONU.

Libertado sob fiança, foi mais uma vez preso no ano seguinte e continuou assim, sempre na luta contra o fascsimo, tendo sido detido mais 10 vezes.

Em 1949, foi escolhido para secretário pessoal do então candidato presidencial da oposição, o general Norton de Matos, mas foi afastado quando disse ser militante do PCP.

Mas mesmo assim, não se livrou da prisão um dia depois da eleição de 12 de Fevereiro, sendo posteriormente condenado a três meses de prisão.

Também perdeu os seus direitos políticos por cinco anos.

Neutralista e deportado

Em 1950 Mário Soares viria a ser expulso do PCP pela direcção de Júlio Fogaça, com Álvaro Cunhal preso, e no ano seguinte nasce a segunda filha, Isabel, que se junta a João Soares, nascido um ano antes.

Concluiu o curso de Letras e assumiu-se como "neutralista, nem pró-americano nem pró-soviético".

Sem poder exercer as funções de professor por ordem da ditadura, inscreveu-se no curso de direito da Universidade de Lisboa.

Em 1968, Mário Soares foi deportado por tempo indeterminado por Salazar para São e Tomé e Príncipe, por sua alegada participação na denúncia do escândalo "Ballets Rose".

Entre regressos e passagens por Portugal, Soares fundou, com companheiros, o Partido Socialista em Abril de 1973 na pequena cidade alemã e Bad Münstereifel, e é eleito secretário-geral.

O 25 de Abril de 1974 encontrou Mário Soares e a esposa em Bona, que regressam de imediato a Portugal.

Revolução, democracia e independência das então colónias

A partir de então, Mário Soares, a par de Álvaro Cunhal e outros destacados anti-fascistas, assumiu-se como um dos líderes da Revolução Portuguesa, que instituiu o Estado de Direito e negociou a auto-determinação das então colónias portuguesas em África.

Liderou as negociações com o PAIGC para a independência de Cabo Verde, em virtude de a Guiné-Bissau ter declarado a sua independência a 24 de Setembro de 1973.

Soares participou também nas negociações do Acordo de Luzaka, que, a 7 de Setembro de 1974, selou a independência de Moçambique.

Em Janeiro de 1975, Mário Soares integrou a delegação portuguesa que assinou o Acordo de Alvor entre Portugal e os movimentos de libertação angolanos, FNLA, MPLA e UNITA.

O Verão Quente

No ano de todas as decisões em Portugal, Soares tomou posse como ministro sem pasta do Governo Provisório, liderado pelo militar comunista Vasco Gonçalves.

No chamado Verão Quente de 1975, seria Soares que, como reconhecem todos os observadores da política portuguesa, quem viria a impedir u a eventual implantação de um regime comunista em Portugal.

Em 1976, Mário Soares tomou posse como primeiro-ministro do I Governo Constitucional.

Como chefe do Governo, protagonizou profundas mudanças económicas e políticas em Portugal, na esteira da sua modernização e democratização definitivo.

Mário Soares foi também o grande obreiro da entrada de Portugal na então Comunidade Económica Europeia, tendo, para o efeito, ameaçado aliar-se aos Estados Unidos.

Em 1985, lançou a sua candidatura à Presidência da República, tendo ganho, com o apoio dos comunistas, a eleição no ano seguinte ao candidato da direita, Freitas do Amaral.

Mário Soares tornou-se assim no primeiro civil na Presidência de Portugal desde a queda da I República, em 1926, sendo reeleito em 1991, com mais de 70 por cento dos votos.

Lutas até ao fim

Apesar de ter ditto na sua última Mensagem de Ano Novo como Presidente “Basta de política”, a 13 de Junho de 1999 foi eleito deputado pelo Partido Socialista ao Parlamento Europeu, mas abandonou o lugar antes de completer o mandato.

Até o fim da vida, Mário Soares continuou a defender, em artigos, conferências e declarações, as suas convicções, sendo, sem dúvida, a personagem maior da história recente de Portugal e um dos mais destacados dirigentes socialistas do mundo.

Destacou-se por ser um homem de letras, com livros e artigos publicados.

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