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Cabo Delgado: Insurgentes raptam pessoas e queimam três aldeias em Chiure


Chiúre, Cabo Delgado, IDPs tents
Chiúre, Cabo Delgado, IDPs tents

"Os al-shaabab ainda não atacaram o Posto administrativo, mas já estão a atacar aldeias grandes, depois de terem circulado nos povoados”,

Um grupo de insurgentes invadiu e queimou, em ataques simultâneos, palhotas de três aldeias em Mazeze, no distrito de Chiure, no sul da província moçambicana de Cabo Delgado, onde há relatos de rapto de cinco pessoas na tarde de sexta-feira, 9, contaram à VOA neste sábado, 10, várias fontes locais.

Um morador disse que o grupo armado tinha invadido e incendiado no início da noite a aldeia de Nacoja, onde ocuparam duas igrejas cristãs e uma escola. Também tinha queimado dezenas de palhotas noutras duas aldeias do interior, cuja população já tinha se refugiado na sede do posto administrativo de Mazeze.

“Os al-shaabab ainda não atacaram o Posto administrativo, mas já estão a atacar aldeias grandes, depois de terem circulado nos povoados”, disse Issa Salimo, realçando que o clima de medo tinha se instalado na sede de Mazeze.

Um outro morador, anotou que “os ataques dos rebeldes são imprevisíveis e rápidos” e que no início da manhã haviam relatos de que “estavam a atacar lá longe e de repente percebemos que já estão aqui muito próximo”, frisando que não havia força destacada para o combate aos insurgentes em Chiure.

“Há pessoas que foram raptadas, duas mulheres e três homens e, outros estão desaparecidos a fugir nas matas”, disse um professor local, na condição de anonimato, acrescentando que a situação se mantinha agitada na tarde deste sábado.

Ao considerar os ataques de “alarmantes e preocupantes”, um camponês local, que já estava refugiado com a família na sede de Mazeze, disse que “muita população já tinha saído das aldeias para a sede”, prevendo uma nova vaga de deslocados para Pemba, com a aproximação dos ataques.

No início desta noite outras fontes disseram que o grupo armado tinha abandonado as aldeias, sem causar vítimas à população. As pessoas raptadas seguiram com o grupo.

Reforço em Macomia

Num outro ataque, que sugere estar coordenado, os rebeldes reforçaram na sexta-feira, 9, a sua presença em Mucojo, uma vila importante de Macomia, que os insurgentes tinham ocupado a 21 de Janeiro.

Na costa, as forças de segurança retomaram Mucojo, sem luta, no dia 31 de Janeiro, mas voltaram a perder para os rebeldes após intensos confrontos e ocupação da posição militar na sexta-feira.

“Essa nova posição da força moçambicana (marinha) em Mucojo-sede foi ocupada. Neste momento há militares da força mortos e vários outros desaparecidos”, precisou uma fonte militar, baseada em Pemba, sem muitos pormenores.

Ataque a autocarro

Já na tarde deste sábado, 10, um condutor de uma carrinha ligeira de transporte de passageiros morreu atingido por bala após um grupo armado ter disparado contra a viatura em Meluco.

A viatura, que fazia o trajeto Pemba-Meluco, foi atacada cerca das 15:00 horas locais, e alguns passageiros continuavam desaparecidos, contou à VOA, um professor local, baseado em Muaguide-sede, citando um parente que sobreviveu ao ataque.

Avanço para o sul

As Forças de Defesa e Segurança moçambicanas ainda não comentaram sobre a nova vaga de ataques de grupos rebeldes.

Entretanto, o Projecto de registo de dados de conflitos (ACLED, na sigla em língua inglesa) indica que grupos de insurgentes avançaram de forma “dramática” para sul a partir de Mucojo, no distrito de Macomia, atravessando o distrito de Quissanga e espalhando-se pelos distritos de Metuge, Ancuabe, Mecufi e Chiúre.

Outro grupo seguiu até ao rio Lúrio, onde atravessou neste sábado, 10, e se acampado na aldeia Ciripa, do lado da vizinha província de Nampula.

Neste percurso os rebeldes emboscaram civis e forças de segurança pelo caminho. Os insurgentes iniciaram o seu avanço para sul, em Quissanga, no dia 19 de Janeiro, chegando a Mussomero, a apenas 4 quilómetros da sede distrital, quatro dias depois, refere a publicação Cabo Ligado, que acompanha o conflito em Cabo Delgado.

O Presidente Filipe Nyusi reconheceu estes movimentos no seu discurso do Dia dos Heróis, a 3 de Fevereiro, e afirmou que os insurgentes estavam a tentar desviar os avanços das forças de segurança para longe das bases insurgentes.

A nova vaga de ataques terroristas ocorre numa situação de transição, em que as tropas da SADC, que ajudam Moçambique no combate ao terrorismo desde Junho de 2021, estão em vias de saída do território moçambicano.

Até agora as autoridades ainda não confirmaram, comentaram ou reagiram aos recentes ataques.

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