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Seca e Al Shabab responsáveis pela fome na Somália


Uma criança com dois anos de idade, Abdirahman Arale, fotografada, na semana passada, no hospital de Banadir, em Mogadíscio
Uma criança com dois anos de idade, Abdirahman Arale, fotografada, na semana passada, no hospital de Banadir, em Mogadíscio

Peritos dizem que fome poderá alargar-se a outras regiões da Somália dentro de "dois ou três meses"

As regiões no Sul da Somália devastadas agora pela fome foram em tempos zonas de grande de produção alimentar. Uma combinação de seca, inflação e guerra transformou o que era uma crise alimentar numa zona de fome mortal.

Embora o resto do sul da Somália e de outras partes do leste de África também façam face a uma emergência alimentar graves, duas regiões na Somália – Bakool e Baixo Shabelle - foram atingidas duramente e são as únicas zonas designadas como zonas de fome.

Ironicamente estas duas regiões são também consideradas das áreas de maior produção alimentar na Somália e em tempos melhores podiam alimentar o país.

Mas um ciclo de seca, a pior dos últimos 60 anos, destruiu as duas últimas colheitas da região. O coordenador para ajuda humanitária das Nações Unidas Mark Bowden disse que “o que aconteceu foi que produção local de sorgo foi grandemente afectada”.

“Isso teve um efeito secundário na economia local provocando uma enorme inflação de preços,” acrescentou Bowden para quem “as reservas e bens das pessoas, investidas na pecuária foram grandemente reduzidos”.

“Ao mesmo tempo os preços subiram, incluindo os preços dos alimentos importados e registou-se uma inflação de 270 por cento,” disse.

O aumento do preços atingiu particularmente a população do Baixo Shabelle e Bakool porque um grande número vivem da agricultura e pastorícia que vivem de agricultura de subsistência ou pecuária.

A seca destruiu a sua produção e matou os animais que possuíam e por causa da inflação não podiam negociar os animais que ainda tinham por um preço adequado.

O conselheiro técnico da ONU para a segurança alimentar na Somália Grainne Moloney, disse que a população que vive da agricultura e pastorícia na região corre grandes riscos.

Moloney descreveu a população dessas regiões como um grupo particularmente vulnerável, marginalizado dos mercados e que vivem da subsistência.

Mas as secas não são algo de invulgar na zona o que levanta a pergunta: porque é que os agricultores não armazenaram cereais ou tomaram outras precauções.

Rashid Abdi da organização Grupo de Crises Internacionais disse que parte da culpa jaz com o grupo militante Al Shabab.

"A Al Shabab tem vindo a encorajar o cultivo de produtos comerciáveis, especialmente sementes de sésamo em parte da região de Shabelle e isso fez aumentar o problema da segurança alimentar porque comunidades que costumavam produzir produtos para se alimentarem e que costumavam armazena-los não têm agora uma retaguarda de apoio,” disse.

Bakool e a o Baixo Shabelle são zonas de implantação do grupo islamita que cobra impostos aos seus residentes para financiar a guerra contra o governo somali.

Os residentes foram assim forçados a cultivar produtos que pudessem ser transformados em dinheiro e não necessariamente que os pudessem sustentar durante períodos de ma produção.

A presença da Al Shabab na região limitou também grandemente as actividades de organizações de ajuda que afirmam que em circunstâncias normais podiam ter feito mais para ajudar as populações vulneráveis.

Em última análise contudo essas regiões não são muito diferentes de outras partes do sul da Somália.

Para uma região ser declarada como uma região de fome tem que atravessar duas de três condições, nomeadamente falta extrema de alimentos, malnutrição e morte. Grainne Moloney disse que Bakool e Shabelle são apenas as duas primeiras regiões a terem esses requisitos fatais.

Na verdade se as condições prevalecerem os peritos prevêem que o resto do sul da Somália será também declarado uma zona de fome dentro de dois ou três meses.





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