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Afirmação de "fome relativa" do Presidente angolano classificada de "insulto" e "insensibilidade"


João Lourenço, presidente do MPLA na abertura do VIII Congresso em Luanda, 9 de Dezembro de 2021
João Lourenço, presidente do MPLA na abertura do VIII Congresso em Luanda, 9 de Dezembro de 2021

João Lourenço disse que há muita produção em Angola e que o problema radica no poder de compra dos cidadãos

Num pronunciamento feito durante um comício no sábado, 11, para assinalar a sua reeleição no cargo de presidente do MPLA, João Lourenço disse que o país tem muita produção de bens alimentares e considerou que o uso incessante da palavra fome por vários actores talvez seja uma questão de conveniência própria ou política.

Ele acrescentou que, em rigor, o que se passa em Angola é um problema de poder de compra dos cidadãos, resultante dos altos índices de desemprego, devido à Covid-19.

As reacções não se fizeram esperar.

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"Talvez por conveniência própria, talvez por conveniência política convenha repetir incessantemente a palavra 'fome' mas eu diria que o grande problema de Angola, se quisermos ser mais precisos é o pouco poder de compra dos nossos cidadãos resultante dos altos índices de desemprego", afirmou o também Presidente da República.

O pastor evangélico e analista político Elias Isaac afirma que as palavras do presidente do MPLA são um insulto e mostra falta de sensibilidade para com os governados.

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"Quando você tem num país com 35 a 40 por cento da população desempregada, quando se reconhece mundialmente que mais de 60 por cento da população é pobre, é muita falta de sensibilidade da parte do presidente do MPLA e mesmo uma falta de respeito este tipo de pronunciamento", diz aquele líder religioso, acrescentando não entender porque “o Presidente insiste nisso, o Presidente não perde nada em reconhecer que há fome e declarar estado de emergência".

Para Issac, "há pessoas a comerem no contentor de lixo em Angola e não tem nada a ver com reduzido poder de compra, isto é desculpa, é so o Presidente andar onde há contentores de lixo, é so ir ao aterro e vai ver o que acontece neste país".

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Quem também considera que o Presidente da República foi insensível para os mais desfavorecidos é o jornalista Ilídio Manuel, quem entende que ao falar do desemprego, o próprio chefe do MPLA devia se envergonhar já que “foi ele quem não conseguiu cumprir os 500 mil empregos que prometeu” durante a campanha eleitoral.

"Estamos a viver paradoxalmente um cenário pior do que vivíamos em tempo de guerra, as pessoas vão à procura de comida nos contentores de lixo, há mais fome agora que havia em tempo de guerra, o que o Presidente tentou fazer foi minimizar a situação e isto demonstra insensibilidade da parte dele", sustenta Manuel.

Em sentido contrário, José Severino o presidente da Associação Industrial Angolana (AIA) pensa que não houve nada de invulgar no que disse Lourenço.

"A abordagem do presidente do MPLA tem certa lógica, dizer que há baixo poder de compra ou a falta dele, uma coisa é o baixo poder de compra e é o que o presidente do MPLA se referiu e nestas circunstâncias o baixo poder de compra se reflecte porque os cidadãos têm outras necessidades para além da sua sustentabilidade física", aponta aquele empresário, sublinhando, no entanto, haver “situações muito mais graves”.

“São os que não têm mesmo nenhum poder de compra, nalguns casos por desemprego, noutros por secas, problemas de isolamento, esta fome é a mais dramática e precisa ser atacada", conclui o presidente da AIA.

No seu discurso no sábado, João Lourenço reiterou que "a fome é sempre relativa".

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