Papa pede aos líderes católicos que escutem "o grito das crianças que pedem justiça"

Francisco reúne 200 líderes para debater abusos sexuais

O Papa Francisco pediu nesta quinta-feira, 21, aos líderes da Igreja Católica que adoptem "medidas concretas" para combater a pedofilia, ao abrir a cimeira sobre protecção de crianças e abusos sexuais no Vaticano sobre o tema que abala a Igreja.

"Escutemos o grito das crianças que pedem justiça", clamou Francisco frente 200 cardeais, arcebispos, bispos e superiores religiosos reunidos no Vaticano de hoje a domingo, e desafiou-os a encarar a "praga dos abusos sexuais" cometidos por membros da Igreja.

Francisco lembrou que pesa a responsabilidade pastoral e eclesial que obriga os líderes católicos a discutir em conjunto, de maneira sinodal, de forma sincera e profunda sobre "a forma de enfrentar esse mal que aflige a Igreja e a humanidade".

O líder do Vaticano anunciou que será entregue aos participantes "uma linha guia" para ajudar a reflectir, sendo esta apenas um ponto de partida das discussões.

Sobreviventes querem justiça

Longo combate

Esta é a primeira vez na história que os líderes católicos reúnem-se a pedido do Papa para debater a pedofilia, crime que minou a credibilidade da instituição em todos os continentes e que foi acobertado e negado durante décadas.

No Vaticano, o dia começou com um momento de oração, seguido por um vídeo com depoimentos de vítimas e as palavras de introdução de Francisco, que viu o seu pontificado ofuscado pela multiplicação de denúncias, principalmente, nos Estados Unidos, Chile, Austrália e Espanha.

Desde que explodiram os primeiros escândalos há 35 anos, a hierarquia da Igreja Católica adoptou uma série de medidas preventivas, aprovou leis, pediu desculpas e anunciou condenações, mas sem conseguir acabar com o que é conhecido como "cultura do encobrimento", ou seja, o silêncio.

As leis canónicas reconhecem um vínculo teológico, como o que existe com o pai, entre o bispo e seus padres, o que representa um aspecto muito difícil de mudar.

Na cimeira, o tema da prestação de contas será abordado na sexta-feira, enquanto o sábado ficará concentrado na transparência, com o Papa a encerrar a cimeira no domingo, 24, com um discurso aguardado com muita expectativa.