Investigação revela mundo obscuro de líderes mundiais e empresas offshore

Vladimir Putin

"Panama Papers" revela envolvimento de 12 antigos e actuais líderes mundiais.

Uma fuga enorme de documentos expõe companhias offshore fornece detalhes das transações financeiras ocultas de outros 128 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e actuais líderes mundiais.

A investigação denominada "Panama Papers" publicada este domingo, 3, revela que pessoas próximas do Presidente russo Vladimir Putin desviaram dois mil milhões de dólares através de bancos e empresas fantasma e mostra como funciona uma indústria global de sociedades de advogados, empresas fiduciárias e grandes bancos que vendem o segredo financeiro a políticos, burlões e traficantes de droga, bem como a multimilionários, celebridades e estrelas do desporto.

A investigação foi conduzida ao longo de um ano pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (International Consortium of Investigative Journalists, ICIJ), pelo jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” e por mais de uma centena de outros órgãos de comunicação social, entre eles o jornal português Expresso.

Além de Putim, há empresas offshore controladas pelos primeiros-ministros da Islândia e do Paquistão, o rei da Arábia Saudita e os filhos do presidente do Azerbeijão, bem como empresas e pessoas que constam de uma lista de person non grata da administração norte-americana por se envolverem em negócios com os patrões da droga mexicanos, organizações terroristas como o Hezbollah ou países como a Coreia do Norte e o Irão.

China, Reino Unido e Ucrânia

Os ficheiros mencionam empresas offshore ligadas à família do Presidente da China,

Xi Jinping, Presidente chinês

, que declarou querer combater "os exércitos da corrupção", e do Presidente ucraniano Petro Poroshenko, que se apresenta como um reformador num país abalado por escândalos de corrupção.

Os documentos contêm também novos pormenores de negócios feitos através de offshores pelo falecido pai do primeiro-ministro britânico David Cameron, um líder do movimento que quer reformar os paraísos fiscais.

A investigação mostra que os grandes bancos estão por detrás da criação de companhias fantasma difíceis de detectar nas Ilhas Virgens britânicas, no Panamá e outros paraísos fiscais.

Os ficheiros listam mais de 15.600 empresas fictícias que os bancos criaram para clientes que querem manter escondidas as suas finanças, incluindo algumas milhares de companhias criadas pelos gigantes internacionais UBS e HSBC.

Sigmundur David Gunnlaugsson

A rede e Messi

Os documentos que constam desta fuga de informação e que foram revistos por uma equipa de mais de 370 jornalistas de 76 países provêm de uma pouco conhecida, mas poderosa firma de advogados com sede no Panamá, a Mossack Fonseca, que tem filiais em Hong Kong, Miami, Zurique e em mais de 35 outros pontos do mundo.

Na Islândia, os documentos mostram como o primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson e a a sua mulher detêm secretamente uma empresa offshore que possuía milhões de dólares em obrigações do tesouro islandês durante a crise financeira islandesa.

Os documentos revelam que o escritório de advogados de Juan Pedro Damiani, membro da comissão de ética da FIFA, tinha relações de negócios com três homens que foram indiciados no escândalo da organização — o antigo vice-presidente da FIFA Eugenio Figueredo, bem como Hugo e Mariano Jinkis, a equipa pai-filho acusada de pagar subornos para ganhar os direitos de transmissão de eventos futebolísticos na América Latina.

messi

Os registos mostram que a sociedade de advocacia de Damiani no Uruguai representava uma empresa offshore ligada aos Jinkis e sete outras companhias ligadas a Figueredo.

O futebolista Lionel Messi também aparece nos documentos.

Os registos mostram que Messi e o seu pai eram donos de uma empresa do Panamá: Mega Star Enterprises Inc. Isto acrescenta um novo nome à lista de empresas de fachada conhecidas por estarem ligadas a Messi. Os seus esquemas de offshore são actualmente alvo de um inquérito sobre evasão fiscal em Espanha.

A Lava Jato

A Mossack Fonseca é um dos maiores criadores mundiais de empresas de fachada, estruturas empresariais que podem ser usadas para esconder a propriedade de património e dinheiro.

O braço da empresa estende-se ao tráfico ilegal de diamantes em África, ao mercado internacional de arte e a outros negócios que assentam no secretismo.

A empresa ajudou membros de casas reais no Médio Oriente suficientes para encher um palácio. Permitiu a dois reis, Mohammed VI de Marrocos e Salman da Arábia Saudita, saírem para o mar em iates de luxo.

Dilma Rousseff e Lula da Silva

No Brasil, a sociedade de advogados tornou-se um alvo na Operação Lava Jato, que levou a acusações judiciais contra políticos de relevo e a uma investigação ao popular ex-presidente Lula da Silva. O escândalo ameaça atingir a atual presidente Dilma Rousseff.

Em Janeiro, os procuradores brasileiros classificaram a Mossack Fonseca como uma "grande lavadora de dinheiro" e anunciaram que tinham aberto processos-crime contra cinco funcionários dos escritórios brasileiros da firma pelo seu papel no escândalo. A Mossack Fonseca nega quaisquer práticas ilegais no Brasil.

Mossack Fonseca

O sistema offshore assenta numa crescente indústria global de banqueiros, advogados, contabilistas e outros intermediários que trabalham em conjunto para proteger os segredos dos clientes. Estes especialistas em secretismo usam companhias anónimas, trusts e outras entidades-fantasma para criar estruturas complexas que podem ser usadas para disfarçar as origens de

Os homens que fundaram a firma há décadas — e continuam a ser hoje os seus principais sócios — são figuras bem conhecidas na sociedade e na política do Panamá.

Jürgen Mossack é um imigrante alemão cujo pai procurou uma nova vida no Panamá para a família depois de ter servido nas Waffen-SS de Hitler.

Ramón Fonseca é um romancista premiado e que nos últimos anos foi conselheiro do presidente do Panamá.

Tirou uma licença sem vencimento como conselheiro presidencial em março depois de a sua empresa se ver implicada no escândalo do Brasil, e o ICIJ e seus parceiros começarem a investigar o seu envolvimento.

O ICIJ divulgará a lista completa das empresas e pessoas a elas ligadas no início de maio.

Os dados incluem e-mails, relatórios financeiros, passaportes e registos empresariais que revelam os titulares secretos de contas bancárias e empresas em 21 jurisdições offshore, do Nevada, nos EUA, a Singapura ou às Ilhas Virgens Britânicas.