José Saramago notabilizou-se como escritor no princípio dos anos 80, com a publicação de Memorial do Convento – a história da construção do Convento de Mafra.
Comunista convicto e homem polémico, viu a sua fama mundial ganhar proporções globais, ao ser distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 1998.
O Comité Nobel disse, na altura que, “em parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia nos permite, uma vez após outra, compreender realidades ilusórias”.
José Saramago estava doente há vários meses. Os seus restos mortais viajam amanhã para Portugal, onde será sepultado. Esta noite fica em câmara ardente na ilha de Lanzarote (no arquipélago espanhol das Canárias), onde vivia, e cujos residentes querem homenagear o escritor.
A sua morte foi lamentada um pouco por todo o mundo mas sobretudo no mundo em português. O secretário executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, convidou todos os falantes de português a dedicar um “pensamento de respeito e admiração” a José Saramago.
A escritora brasileira Lygia Fagundes Telles descreveu-o como o intelectual português que mais amou e compreendeu o Brasil. A Academia real espanhola chamou-lhe um mago da palavra.
Para o escritor angolano, José Eduardo Agualusa, Saramago foi um marco que abriu as portas do mundo à literatura em língua portuguesa. Agualusa pensa que ele facilitou o reconhecimento de outros escritores em português, incluindo africanos.
Confessa gostar mais das ideias nos livros de Saramago do que o seu estilo, e entre as obras do falecido conta O Ano da Morte de Ricardo Reis como o seu favorito.
José Saramago era considerado pelo público como um homem duro e antipático. Nada mais longe da verdade, diz a sua amiga de há quase três décadas Margarida Lages. Hoje é uma responsável do IPAD, o Instituto Português de Apoio à Cooperação, mas trabalhou no Ministério da Cultura, no Instituto Camões e no Instituto Português do Livro. A sua amizade com Saramago passou por estas instituições, mas começou, contudo, quando era jornalista, em 1982.
Trabalhava nessa altura na revista portuguesa Espaço T Magazine e entrevistou Saramago a propósito da publicação do livro que o tornou famoso: Memorial do Convento.
O escritor gostou tanto do artigo que lhe enviou uma nota de parabéns. Esse gesto foi a base de uma amizade aprofundada quando Margarida Lages trabalhou, mais tarde, no Ministério da Cultura e no instituto Português do Livro, onde era responsável pela promoção internacional de autores portugueses.
Desse convívio, e em jantares em sua casa durante as visitas de Saramago em Lisboa, Margarida Lages diz que conhece um homem “terno e carinhoso, amigo dos outros” cheio de energia, “muito divertido, com grande sentido de humor”. Clique no topo direito da página para ouvir as entrevistas de Luís Costa Ribas com José Eduardo Agualusa e Margarida Lages.