Um estudo de 2007 estima que, pelo menos, 250 mil crianças vivem na rua, no Quénia. Nairobi, a capital, tem 60 mil. Agências de adopção tentaram reduzir o número colocando as crianças orfãs a viver em famílias. Mas os preconceitos em torno da adopção dificultam o processo.
Kate Irungu tem dois filhos, um menino de dez anos e uma menina de oito anos. Para ela e seu marido, o sonho de ter uma família era quase impossível. Em oito anos de casamento, tentaram e não conseguiram ter filhos. Decidiram adoptar.
Para Kate, a adopção é boa porque se alguém não consegue ter um filho, dá essa oportunidade e a alegria de ser pai. Ela acha que os quenianos devem optar pela adopção.
Mas medos antigos sobre a adopção dificultam.
Susan Otwoma é presidente da organização Little Angels Network, que desde 2005 facilita mais de 300 adopções por ano. Diz ela que no Quénia há ainda muitos preconceitos sobre a adopção.
Susan explica que um dos maiores preconceitos é o facto de a adopção ser tida como algo para os casais que não podem conceber os seus próprios filhos. A sua organização investiu muito a informar as pessoas que mesmo os que têm filhos biológicos podem adoptar.
Outros, diz ela, acreditam que filhos adoptivos são desobedientes, e acham misterioso alguém adoptar uma criança que não gerou.
Susan descarta a justificação de que a adopção é muito cara para as famílias quenianas, sendo apenas para os mais ricos. Nas adopções locais é aplicada uma taxa equivalente a 400 dólares americanos, que é subsidiada pelo governo.
Kate argumenta que as crianças adoptadas não são diferentes das outras. Trazem consigo alegria e desafios.
Para ela, “é mais fácil adoptar uma criança mais nova, porque é possível moldar o seu caracter. Poderá ser difícil adoptar adolescentes, mas a adopção tem no geral o seu lado bom e mau, tal como educar as crianças em casa, do seu ventre ou não.”
Susan encoraja as famílias com filhos biológicos a abrir os seus corações e casas para mais crianças através da adopção.
Diz Susan que a sua organização defende que cada criança deverá crescer numa família. “Mesmo que as organizações possam fazer o melhor para cuidar das crianças, acreditamos que o ambiente familiar é melhor.”
O governo queniano está preocupado com a situação das crianças sem abrigo, em particular as que vivem na rua. Mas os defensores dos direitos da criança dizem que os programas existentes não são a solução viável para o problema social destas dimensões.