Sete meses após a tragédia que provocou vários mortos e feridos no Estádio do Nacional de Benguela, a LS Republicano, empresa que esteve sob a alçada da Polícia Nacional, volta a realizar um festival de música naquela província, quando a sociedade continua alheia aos resultados do inquérito.
É expectável que o grupo antilhano Kassav arraste milhares de cidadãos para a ponta da Restinga, cidade do Lobito, para um ambiente de euforia que sugere medidas de precaução.
A Administração do Lobito garante condições de segurança, mas nem isso tranquiliza o jurista Chipilika Eduardo, que não se opõe, todavia, a espectáculos que ajudam a esquecer os problemas sociais.
Activista cívico, Chipilika afirma, no entanto, que o evento de sábado, 13, denota um cenário de impunidade e falta de sensibilidade.
“Sobre a tragédia do ano passado, até ao momento a comissão de inquérito criada para o efeito não trouxe a público os resultados do inquérito e, pior, estes organizadores vão a outro espectáculo. Isso denota impunidade e falta de respeito a vidas humanas, até pelos seus argumentos infantis e desumanos, empurrando as culpas aos falecidos’’, critica o jurista.
No contacto com a VOA, houve espaço para uma analogia com a tragédia do Uíge, no arranque do Girabola 2017.
Os resultados do inquérito às cerca de 20 mortes foram conhecidos duas semanas depois.
“Estamos a duas velocidades. Por um lado, quando se quer que as coisas venham a público, elas surgem. Por outro, quando não se quer, os resultados ficam assim. Não se sabe se há processo em curso’’, indica aquele activista cívico, sublinhando que ‘’daquilo que sabemos, praia, álcool e euforia geram preocupação’’.
A trabalhar contra estes riscos, está o administrador municipal do Lobito,
Alberto Ngongo, que não faz previsões do número de espectadores, assegura que o promotor do evento não terá razoes de queixa.
“O senhor governador já anuiu sobre a realização do espectáculo, orientando a movimentação de agentes da Polícia. Portanto, vamos fazer tudo para que os organizadores não tenham problemas e realizem mais acções do género no nosso município’’, garante Ngongo.
Apesar das várias tentativas, não foi possível obter pronunciamento da empresa LS Republicano, bastante criticada por familiares das vítimas da tragédia do Nacional, nem do Ministério Público.
Na altura, 16 de Outubro de 2016, as informações oficiais apontavam para oito mortos, mas relatos de sobreviventes sugeriam um número superior.