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Professora da área da saúde faz apelo à comunidade internacional para ajudar no combate à tuberculose em Angola


Dispensário Anti-Tuberculose no Huambo
Dispensário Anti-Tuberculose no Huambo

Segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2016, a incidência estimada de tuberculose em Angola foi de 107 mil casos, sendo que 60,916 foram diagnosticados e encaminhados ao programa de Luta contra a Tuberculose. A cobertura de tratamento foi de 56%. A tuberculose é uma doença infecciosa e perigosa que ataca geralmente os pulmões, podendo também afectar outros órgãos.

Dispensário Anti Tuberculose
Dispensário Anti Tuberculose

Na província do Huambo, em 2017, foram diagnosticados 1484 casos de tuberculose, dos quais 869 com microscopia positiva, ou seja 59% com baciloscopia positiva.

Emília Marcelina dos Santos, 52, é professora no Instituto Superior Politécnico da Universidade José Eduardo dos Santos (UJES), Huambo, e também é doutoranda em saúde pública na Universidade do Porto, Portugal. Ela explica que os doentes de tuberculose em Angola enfrentam vários desafios para receber o tratamento, como auto-diagnóstico, auto-tratamento, falta de medicamentos e o seu alto custo, além de que várias comunidades não têm unidades de diagnóstico e tratamento.

O tratamento da primeira fase tem duração de dois meses e custa em torno de 200 dólares para os novos casos. Se o doente estiver fazendo o tratamento pela segunda vez, a primeira fase dura três meses e portanto custa mais caro.

Santos explica que os pacientes, depois de serem dignosticados, são obrigados a procurar e a comprar os medicamentos na farmácia. No entanto, como não possuem meios financeiros desistem antes de começar. Quando o doente não recebe tratamento, acaba contaminando a comunidade onde está inserido.

“A cobertura da saúde a nível de Angola é muito limitada,” diz Santos. Ela explica que o funcionamento dos programas de luta contra a tuberculose, do qual o papel fundamental é a detecção precoce, tem sido problemático porque as unidades não estão espalhadas em todas as localidades, ou seja, os doentes são obrigados a percorrer longas distâncias até encontrar uma unidade de diagnóstico e tratamento.

Santos observa que a tuberculose está ligada principalmente à pobreza e que boa parte dos pacientes são de nível social muito baixo. Esses factores podem afectar significativamente tanto a procura do diagnóstico como a criação de situações que disseminam a doença na comunidade.

Segundo Santos, o governo tem tentado fazer algo com relação às ramificações dessas redes sanitárias em diversas comunidades das províncias.

Profissionais de saúde do Hospital Sanatório do Huambo, Angola
Profissionais de saúde do Hospital Sanatório do Huambo, Angola

Para Emília Marcelina dos Santos o papel dos incentivos alimentares é essencial para o sucesso no combate à tuberculose em Angola. Ela lembra que em 2002, após os acordos de paz, o Programa Alimentar Mundial (PAM) passou a fornecer cestas básicas aos pacientes do Hospital Sanatório do Huambo, mesmo para quem vivia em localidades distantes.

“Como no final do mês sabia que levava os medicamnetos e mais uma cesta básica alimentar não desistia. Fazia tudo que fosse possível para chegar ao tratamento."

Segundo Santos, isso durou um período de seis anos, e foi constatado um sucesso, com 85% dos pacientes completando o tratamento.

Contudo, após o término dessa fase onde a cesta básica era oferecida, o quadro se reverteu e o número de doentes abandonando o tratamento aumentou.

Santos enfatiza que o incentivo alimentar é muito importante, como também o apoio ao transporte, mas esses não são os únicos incentivos que os doentes precisam receber.

“Esse paciente precisa ter apoio. Deve ter um incentivo a nível da instituição: uma preparação psicológica. Deve também ter apoio familiar – pela quantidade de comprimidos que a pessoa tem que tomar e o tempo da duração do tratamento.”

É por isso que Emília Marcelina dos Santos apela à comunidade internacional, principalmente àquelas organizações que têm investido em programas de combate à SIDA e à malária, para que também ajudem no combate à tuberculose.

“Essa população necessita muito dessa ajuda. Só assim podemos atingir o objectivo da OMS: a eliminação da tuberculose a nível global”.

Confira a entrevista na íntegra.

Entrevista com Emília dos Santos
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Emília Marcelina dos Santos, professora na Universidade José Eduardo dos Santos (UJES), Huambo.
Emília Marcelina dos Santos, professora na Universidade José Eduardo dos Santos (UJES), Huambo.

Emília Marcelina dos Santos é natural do Huambo. Licenciada em ciências biológicas pelo ISCED, Huambo. Mestre em ciências da saúde (Fisiopatologia) pela UNESC, Brasil. Doutoranda em saúde pública no ISPUP - Universidade do Porto- Portugal. Actualmente docente no Instituto Superior Politécnico da UJES - Huambo

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