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Portugal: maioria absoluta para os socialistas de António Costa


António Costa, líder do Partido Socialista Português
António Costa, líder do Partido Socialista Português

Eleiçōes legisltivas antecipadas deram a António uma vitória por maioria absoluta que surpreendeu; a extrema-direita arrecada importantes ganhos em que a extrema-esquerda perdeu muitos deputados

O Partido Socialista de centro-esquerda de Portugal ganhou uma terceira eleição geral consecutiva, devolvendo-o ao poder enquanto o país se prepara para empregar milhares de milhões de euros de ajuda da União Europeia para a economia, após a pandemia da COVID-19.

Os Socialistas elegeram pelo menos 117 legisladores no parlamento de 230 lugares.O PSD surge em segundo lugar com 71 deputados – perdeu seis lugares.

O ultra-direita Chega, passou a terceira força política, com 12 parlamentares (tinha apenas 1 deputado na anterior legislature); outro partido que subiu foi a Iniciativa Liberal (IL), que também passou de um para oito deputados.

O CDS-PP, à direita, perdeu pela primeira a sua representação no parlamento.

À esquerda, o Bloco de Esquerda desceu de 19 para 5 deputados, e a CDU, coligação de PCP e Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), perdeu metade dos deputados, de 12 ficou agora com apenas 6.

Ainda falta atribuir os 4 deputados que representam os portugueses no estrangeiro.

Político pragmático

O primeiro-ministro português António Costa, cujos socialistas obtiveram maioria absoluta nas eleicoes legislativas antecipadas de domingo, é um politico táctico e pragmático que chegou ao poder com o apoio da esquerda.

O ex-presidente de câmara de Lisboa tomou as rédeasdo governo em 2015 na sequência de uma votação em que os seus socialistas terminaram em segundo lugar atrás de uma coligação de centro-direita que tinha supervisionado um duro programa de austeridade imposto pela UE.

Numa jogada surpresa, convenceu dois partidos de extrema-esquerda mais pequenos a apoiarem um governo socialista minoritário, a primeira vez que isto era tentado em Portugal.

Muitos analistas previram que o governo da coligação - apelidado de "geringonça" ou "engenhoca" - duraria no máximo seis meses, mas completou o seu mandato de quatro anos.

Costa conduziu então os seus socialistas à vitória nas eleições seguintes em 2019, embora tenham ficado aquém de uma maioria absoluta.

No domingo, finalmente obteve uma maioria absoluta no parlamento numa eleição antecipada que viu os seus socialistas ganharem pelo menos 117 lugares no parlamento de 230 lugares, de acordo com os resultados.

Quatro lugares ainda têm de ser atribuídos nos próximos dias com os resultados dos votos expressos no estrangeiro, mas em 2019 os Socialistas obtiveram dois.

"Tenho de admitir que esta noite é muito especial para mim", disse Costa durante um discurso de vitória na sede de campanha do seu partido.

De um “optimismo irritante"

A cavalgar a onda da recuperação económica global e de um boom turístico, Costa, 60 anos, conseguiu desfazer algumas das medidas de austeridade impostas pelos seus antecessores, mesmo quando o seu governo equilibrou as contas orçamentais.

Na sua governação, Portugal, em 2019, registou o seu primeiro excedente orçamental em 45 anos de democracia, embora a pandemia de Covid tenha desde então causado mais uma vez o défice público.

Em Outubro de 2021, Costa não conseguiu assegurar o apoio orçamental dos dois partidos de extrema-esquerda mais pequenos que apoiavam o seu governo, o que motivou as eleiçōes de domingo.

Antes tinha prometido demitir-se se os seus socialistas não vencessem, mas também tinha manifestado a sua vontade de formar mais uma vez alianças, se vencesse mas sem uma maioria.

António Costa na vitória nas legislativas antecipadas 2022
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"Antonio Costa é um político muito experiente e muito ambicioso", disse o cientista político da Universidade de Lisboa José Santana Pereira.

"Em alguns contextos existem características que são boas qualidades, em outros podem ser vistas como falhas".

Mas o presidente conservador português Marcelo Rebelo de Sousa, que foi professor de Direito de Costa na Faculdade de Direito de Lisboa, uma vez chamou o primeiro-ministro pelo seu "optimismo crónico e ligeiramente irritante".

Pai escritor ; mãe jornalista

Nascido em Lisboa a 17 de Julho de 1961, Costa foi criado nos círculos intelectuais frequentados pelos seus pais, Orlando da Costa, um escritor comunista descendente de uma família de Goa, antiga colónia de Portugal na Índia, e Maria Antonia Palla, jornalista e defensora dos direitos das mulheres.

Apelidado de "babush", um termo de carinho para um menino em Konkani, um dialecto Goês Costa juntou-se à ala juvenil do Partido Socialista em 1975, quando tinha apenas 14 anos, um ano após um golpe de estado que pôs fim a uma ditadura de direita que durou décadas.

Em 1995, após ter obtido um diploma de Direito e Ciência Política, Costa foi nomeado Secretário de Estado para os Assuntos Parlamentares - um papel fundamental no governo minoritário socialista de António Guterres, o actual secretário-geral da ONU.

Costa foi promovido a ministro da justiça quatro anos mais tarde.

Após um breve período como membro do Parlamento Europeu, foi nomeado ministro do Interior em 2005 no governo de José Sócrates.

Despediu-se após dois anos e candidatou-se com sucesso a presidente da câmara de Lisboa. Foi reeleito para o cargo em 2009 e 2013.

A mudança para a política municipal permitiu a Costa distanciar-se de Sócrates, que se demitiu como primeiro-ministro em 2011 após negociar o plano de ajuda internacional de Portugal.

Sócrates foi detido em 2014, acusado de corrupção e evasão fiscal.

Adepto do Benfica, o pai de dois filhos já casados, gosta de relaxar fazendo puzzles.

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