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Morreu José Mário Branco, referência da canção portuguesa e da luta anti-fascista


José Mário Branco
José Mário Branco

Morreu nesta terça-feira, 19, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), um dos maiores expoentes da canção portuguesa, José Mário Branco.

Natural da cidade do Porto, onde nasceu em 1942, José Mário Monteiro Guedes Branco, de seu nome próprio, filho de professores, militou desde cedo no do Partido Comunista Português (PCP), facto que o obrigou a exilar-se, em 1963, na França.

Em Paris, dedicou-se à música e ao combate político contra o fascismo até que regressou a Portugal, após o golpe de Estado de 25 de Abril de 1975 que derrubou a ditadura.

Além de músico e autor, José Mário Branco foi responsável pela produção e arranjos musicais de uma série de discos de outros artistas portugueses, como Zeca Afonso, outro ícone de Abril, Sérgio Godinho a Fausto Bordalo Dias.

Entre outra obras marcantes, sem dúvida foi “Venham mais Cinco”,o último disco gravado por Zeca antes do 25 de Abril com José Mário Branco na capital francesa em 1973.

Em Novembro de 1971, em plena luta contra o Estado Novo e ainda exilado em França, dá à estampa o seu álbum mais emblemático, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, musicado a partir de textos de autores como Natália Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho.

É a partir desse período que começa a conquistar o seu lugar como um dos mais importantes autores da música de intervenção em Portugal, cimentado sobretudo no período da revolução do 25 de Abril.

Em 1982, lança “Ser solidário”, onde se inclui a faixa “FMI”, uma das mais célebres e muito recuperada anos depois.

A imprensa portuguesa e vários homens e mulheres inundaram os jornais e televisões em homenagem a Branco.

Citado pelo jornal Público, o director do Projecto de Percussões “Tocá Rufar”, Rui Júnior, que tantas vezes subiu ao palco com José Mário Branco, destacou a carreira riquíssima, coerente, íntegra do músico, sem nunca abdicar do seu papel interventivo.

“O Zé Mário nunca cedeu a modas, nunca comprometeu os seus princípios, nem na música, nem na vida. E soube acompanhar os tempos, envolvendo-se em movimentos políticos que considerava justos, mas sempre com grande independência. A cabeça do Zé Mário era só dele”, disse Rui Júnior, que concluiu: “Um revolucionário, não um revoltado. Um homem generoso que nos deixou obras-primas na música que fez para ele e na que fez para os outros”.

O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa admite condecorar José Mário Branco a título póstumo porque, apesar de ter tentado, diz Rebelo de Sousa, “foi sempre muito avesso a condecorações, a reconhecimentos públicos”.

“José Mário Branco era uma referência do período de resistência à ditadura, da revolução e pós-revolução de Abril e de uma geração que, através da sua voz, exprimiu a vontade de mudança política económica e social na sociedade portuguesa“, disse Marcelo Rebelo de Sousa, à rádio TSF, em reacção à morte do músico.

“Foi sempre um revolucionário, um insatisfeito, desejando sempre muito mais e muito melhor”, concluiu o Presidente português.

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