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Documentos em tribunal revelam que Alex Saab foi informante da agência contra droga dos EUA


Desenho de Alex Saab na sala de audiências do tribunal federal de Miami
Desenho de Alex Saab na sala de audiências do tribunal federal de Miami

Documentos revelados no tribunal federal onde o empresário colombiano e enviado especial da Venezuela é julgado indicam a relação que começou em 2016

O empresário colombiano e enviado especial da Venezuela Alex Saab, detido em Cabo Verde e extraditado para os Estados Unidos, onde é julgado por lavagem de dinheiro, foi informante da agência americana contra droga, DEA nas siglas em inglês.

A revelação surge em documentos divulgados na quarta-feira, 16, por ordem do juíz do tribunal federal do distrito sul da Flórida, em Miami, onde decorre o julgamento.

"Num período de 12 meses (...) Saab se envolveu numa cooperação proactiva como fonte confidencial da DEA", lê-se nos documentos que revelam que ele assinou um acordo de "fonte de cooperação" com a agência em meados de 2018.

No âmbito dessa colaboração, o então empresário também transferiu mais de 10 milhões de dólares para as autoridades norte-americanas entre Agosto de 2018 e Fevereiro de 2019, fruto de "actividades ilegais" que, segundo a acusação, desenvolveu com Álvaro Pulido, identificado como um dos co-conspiradores juntamente com Alex Saab no esquema de lavagem de dinheiro.

Antes de assinar o acordo, Saab havia reuniu-se várias vezes com agentes da DEA.

Negociações na Colômbia em 2016

Os documentos indicam que, na primeira reunião, em 2016, em Bogotá, os agentes explicaram as informações que tinham sobre ele e o esquema de lavagem de dinheiro e luvas que recebeu pelo seu envolvimento no projecto de construção de moradias para pessoas de baixa rendimento na Venezuela.

Em meados de 2018, após vários encontros, Alex Saab assinou o acordo como "fonte cooperante" e passou a ser oficialmente uma fonte para as autoridades americanas.

Os documentos agora revelados indicam que, em 2019, as autoridades americanas deram a Saab um prazo para se entregar voluntariamente às autoridades do Estado da Flórida e que, caso não o fizesse, deixaria de ser colaborador e teria às costas acusações criminais contra ele.

Defesa reage e acusação desconfia

O empresário colombiano e apontado como “testa-de-ferro” do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não se entregou e em Julho de 2019 o Departamento de Justiça formalizou acusações contra ele e activou a Interpol e outros países para deter Saab.

Entretanto, em resposta, o advogado de defesa David Rivkin emitiu também ontem um comunicado no qual diz que as reuniões que Saab manteve com a DEA tiveram o “único propósito (…) [de] confirmar que nem ele nem as empresas associadas a ele fizeram nada de errado”.

Rivkin assegura que qualquer interação que seu cliente tenha tido com as autoridades norte-americanas foi realizada com o “pleno conhecimento” do Governo venezuelano.

Nos documentos, as autoridades judiciais norte-americanas questionam os advogados de Saab, assegurando que seus argumentos de defesa não mencionam a cooperação que manteve com a DEA.

"O facto de a defesa (...) não ter mencionado esses factos na petição (...) levanta a importante possibilidade de que os advogados tenham sido contratados por outra pessoa física ou jurídica", lê-se num dos documentos, que conclui: “A defesa (…) falhou em provar para a satisfação do Governo dos EUA que, de facto, representa a Saab e não outra entidade ou indivíduo, incluindo o Governo da Venezuela”.

Prisão em Cabo Verde

Com um alegado estatuto de enviado especial da Venezuela ele foi detido a 12 de Junho de 2020 no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, em Cabo Verde, quando seguia para o Irão, alegadamente para tentar comprar alimentos para o Governo de Caracas.

Depois de um longo processo judicial, Alex Saab foi extraditado para os Estados Unidos a 16 de Outubro e no dia 18 apresentou-se ao tribunal em Miami, onde se declarou inocente.

O juiz Robert Scola, que trata do caso, marcou para o dia 10 de Junho a audiência que vai analisar recurso da defesa que alega a imunidade diplomática de Alex Saab.

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