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Crise financeira, paz incerta e violência tornam 2017 num ano que não deixa saudades


Nyusi e Dhlakama, Gorongosa
Nyusi e Dhlakama, Gorongosa

E Nyusi diz que "apesar disso e porque somos um povo resiliente, podemos, com todo orgulho e sem receios, afirmar que: O Estado da Nação é desafiante, mas encorajador”.

O ano 2017 chega hoje ao fim sem deixar muitas saudades para os moçambicanos. Pois, as questões económicas fortemente marcadas pela austeridade derivada da descoberta, há dois anos, das dívidas ocultas obrigaram a todos a apertar o cinto.

Moçambique teve um ano de crise
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O Governo desdobrou-se em contactos com a Fundo Monetário Internacional (FMI) para o restabelecimento da confiança;a Procuradoria-Geral República divulgou o resumo do relatório da auditoria internacional e ndependente realizada pela empresa Kroll às empresas estatais Proindicus, EMATUM e MAM.

Porém, a não divulgação na íntegra dos nomes e responsabilização dos autores dos empréstimos de mais de dois mil miliões de dólares norte-americanos com garantias do Estado não contribuiu para o restabelecimento da confiança no país, defendem os analistas Lazaro Mabunda e Tomas Vieira Mario.

"Foi um ano bastante complicado, como já se previa desde o ano passado (2016), assim como se prevê que seja o próximo ano (2018)", diz Mabunda.

Tomás Vieira Mário, influente figura da comunicação social moçambicano e advogado, recorda que "quando se revelou que havia mais duas empresas constituídas na base de dívidas ocultas, em Abril, foi um choque enferme para toda nação moçambicana, e isso marcou certamente o ano (…) a consequência final foi a decisão dos parceiros de cooperação de moçambique de interromperem o seu apoio ao Orçamento de Estado, com todo impacto isto significou nas vidas das pessoas".

Paz, Nyusi e Dhlakama

Depois de no final do ano de 2016 o Presidente da República Filipe Nyusi e o Líder da Renamo, Afonso Dhlakama, terem iniciado uma nova forma de diálogo para a paz efectiva no país, Moçambique viveu o ano de 2017 de trégua nos confrontos militares.

No dia 6 de Agosto, na serra da Gorongosa aconteceu o encontro entre Nyusi e Dhlakama, do qual se pretendia dar celeridade na elaboração das propostas para a descentralização da governação e integração dos homens da Renamo na polícia e no exército.

Tais propostas até aqui não deram entrada na Assembleia da República, que encerrou os trabalhos, após tentativa de um segundo encontro no mês de dezembro.

"Essa decisão marcou um novo paradigma no formato do diálogo de paz em Moçambique, jamais se podia pensar que um chefe de Estado moçambicano deixasse a capital do país e fosse às matas atrás do líder da oposição. Pelo menos no mandato do anterior presidente da República isto era impensável", comenta Viera Mário.

Mabunda é de opinião que "a paz vai depender dos jogos de interesse existentes dentro do partido que está no poder", sustentando que "a saída do Presidente Nyusi para as matas de Gorongosa de forma secreta sem o consentimento do próprio partido, nem do governo e de qualquer pessoa ligada ao partido é sinal claro de que ele tem vontade, mas o grande problema é que ele não tem poder".

Com o calar das armas, a população procurou produzir, mas a austeridade adoptada pelo governo teve impacto negativo nos já deficientes sectores de educação, saúde e transportes.

Corrupção deve ser combatida

O combate à corrupção foi sempre prioridade nos discursos do presidente Nyusi. Alguns casos foram julgados, como o dos 24 acusados de defraudar o Estado em 170 milhões de meticais (cerca de três milhões de dólares americanos), através do Fundo de Desenvolvimento Agrário (FDA).

A antiga presidente do Conselho de Administração, Setina Titosse, foi condenada a 18 anos de prisão maior.

Porém, analistas ouvidos pela VOA dizem que faltaram ações enérgicas para estancar este mal.

Baltazar Faela, Investigador do Centro de Integridade Pública, diz que "se queremos combater a corrupção de forma enérgica, não podemos comparar os casos de corrupção aos casos de criminalidade comum (…) temos actuar com medidas mais enérgicas e não permitir que indivíduos envolvidos em casos de corrupção não cumpram efectivamente a pena que foram condenados".

"Para mim falou-se muito, mas pareceu-me não ser uma prioridade como tal”, diz Mabunda.

Vieira Mário acrescenta que o que “se verificou na prática foi o recrudescimento ou aparição de casos muito mais graves de corrupção ou de saque ao erário público de várias formas aos vários ministérios”.

Amurane, Mocímboa da Praia e resiliência

O assassinato de Mahamudo Amurane, presidente do Município de Nampula, marcou o retorno de violência contra políticos e defensores de direitos humanos.

Amurane foi morto a 4 de Outubro, dia da paz em Moçambique. Os autores ainda não foram identificados. A polícia diz que está a seguir.

No dia seguinte, 5 de outubro, tiveram inicio os ataques protagonizados por alegados radicais islâmicos, a postos da polícia e residências no distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.

Para Vieira Mário, os dois acontecimentos são um sinal de que a " cultura de violência em Moçambique é muito alta, somos um povo extremamente violento ainda, há muito índice de violência na nossa sociedade”.

O analista ressalva que os mencionados foram os mais mediatizados, “mas houve outros casos de população atacar sedes do governo distrital, população incendiando esquadras da polícia, tudo isso denota um índice de violência na nossa sociedade muito elevado".

Perante este quadro de 2017, Filipe Nyusi foi ao parlamento apresentar o Estado da Nação e escusou-se a atribuir uma nota positiva ou negativa.

"Apesar disso, e porque somos um povo resiliente, podemos, com todo orgulho e sem receios, afirmar que: O Estado da Nação é desafiante, mas encorajador”.

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