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COVID-19/ Brasil: São Paulo vai desenterrar ossadas para criar espaço em cemitérios


Cemitério de Vila Formosa, São Paulo, Brasil. 22 de maio 2020
Cemitério de Vila Formosa, São Paulo, Brasil. 22 de maio 2020

A maior metrópole do Brasil tem um plano heterodoxo de liberar espaço nos seus cemitérios durante a pandemia de coronavírus: desenterrar os ossos de pessoas enterradas no passado e armazenar os seus restos ensacados em grandes recipientes de metal.

O serviço funerário municipal de São Paulo disse em comunicado na sexta-feira, 12 junho, que os restos mortais de pessoas que morreram há pelo menos três anos serão exumados e colocados em sacolas numeradas, e depois armazenados temporariamente em 12 contentores. Os contentores serão entregues em vários cemitérios dentro de 15 dias, segundo o comunicado.

São Paulo é um dos pontos com mais casos da Covid-19 no país mais atingido da América Latina, com 5.480 mortes até quinta-feira, na cidade de 12 milhões de pessoas.

Alguns especialistas em saúde estão preocupados com uma nova onda agora que um declínio na ocupação nos cuidados intensivos para cerca de 70% levou o prefeito Bruno Covas a autorizar uma reabertura parcial dos negócios nesta semana. O resultado foi transporte público lotado, longas filas em centros comerciais e amplo desrespeito ao distanciamento social.

Muitos especialistas em saúde prevêem que o pico da pandemia do Brasil chegará em agosto, tendo se espalhado pelas grandes cidades onde apareceu pela primeira vez no interior do país. Até ao momento, o vírus já matou quase 42.000 brasileiros e o Brasil superou Reino Unido na sexta-feira para se tornar o país com o segundo maior número de mortes no mundo.

Michael Ryan, director de emergências da Organização Mundial da Saúde, disse na sexta-feira que a situação no Brasil continua "preocupante", embora reconheça que as taxas de ocupação nos cuidados intensivos estão agora abaixo de 80% na maioria das áreas do país.

"No geral, o sistema de saúde ainda enfrenta problemas no Brasil, embora, com o número sustentado de casos graves que ainda vamos assistir", disse Ryan.

"Claramente, o sistema de saúde no Brasil em todo o país precisa de apoio significativo para sustentar seus esforços nesse sentido. Mas os dados que temos no momento apoiam um sistema sob pressão e um sistema que ainda está a lidar com o número de casos graves".

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Os especialistas não são os únicos preocupados.

No maior cemitério de São Paulo, Vila Formosa, Adenilson Costa estava entre os trabalhadores vestidos com fatos de proteção azuis que desenterraram sepulturas antigas na sexta-feira. Ele disse que o trabalho deles só se tornou mais árduo durante a pandemia e, ao remover ossos de caixões desenterrados, disse que teme o que está por vir.

"Com essa abertura de centros comerciais e lojas, ficamos ainda mais preocupados. Não estamos na curva; estamos no auge e as pessoas não estão conscientes", disse Costa. "Isso não acabou. Agora é o momento preocupante. E ainda há pessoas fora."

Em abril, os coveiros de Vila Formosa enterraram 1.654 pessoas, mais de 500 do que no mês anterior. Os números de maio e junho ainda não estão disponíveis.

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Antes da pandemia, disse Costa, ele e os seus colegas exumariam restos mortais de cerca de 40 caixões por dia se as famílias parassem de pagar as taxas exigidas pelas parcelas. Nas últimas semanas, esse número mais que dobrou.

Os restos armazenados nos contentores de metal serão transferidos para um ossário público, de acordo com o comunicado da agência funerária da cidade. O seu superintendente, Thiago Dias da Silva, disse à rede Globo que os contentores já foram usados anteriormente e são mais práticos e acessíveis do que a construção de novos ossários.

É tanto trabalho nos cemitérios de São Paulo desde o início do surto que um dos parentes de Costa foi enterrado a poucos metros de onde ele estava a trabalhar um dia - sem que ele soubesse. "Eu só descobri no dia seguinte", disse ele.

Três outras pessoas que ele conhecia também morreram com o vírus.

"As pessoas dizem que nada assusta coveiros. Covid," disse Costa.

Os Estados Unidos continuam no entanto a ser o país com o maior número de casos de Covid-19, com mais de dois milhões de infetados em todo o país e mais de 115 mil mortos devido à doença.

C/ Reuters

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