Links de Acesso

Correia e Silva diz que africanos estão comprometidos com a democracia e pede que reformas sejam aceleradas


Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, em entrevista à Voz da América em Washington, DC, em 15 de dezembro de 2022
Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, em entrevista à Voz da América em Washington, DC, em 15 de dezembro de 2022

"Cabo Verde está do lado dos valores e dos princípios da liberdade e do respeito pela soberania e pela integridade territorial dos povos e dos países", disse o primeiro-ministro.

O primeiro-ministro de Cabo Verde fez uma forte defesa da democracia liberal constitucional, condenou os golpes de Estado em África e apontou que o descaso entre os cidadãos e o poder político quanto ao funcionamento da democracia é uma oportunidade.

Ao discursar neste sábado, 23, na 78a. Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, Ulisses Correia e Silva realçou a necessidade de reformas na arquitetura financeira internacional e operacionalização de instrumentos de financiamento climático e ambiental.

Na sua intervenção, ele citou a pesquisa recente do Afrobarómetro que mostrou que dois terços dos africanos preferem a democracia a qualquer outra forma de Governo, o que, para ele, "é oportunidade para mais e melhor democracia, boa governança, mais empoderamento dos cidadãos, combate à corrupção, transparência fiscal e financeira e políticas baseadas em resultados que de uma forma generalizada tocam a vida das pessoas, criam confiança e esperança".

"O mundo tem vivido momentos intensos de crises. Assistimos ao recrudescer do populismo e do extremismo e ataques à democracia. Assistimos a sucessivos golpes de Estado em países africanos", afirmou o Chefe de Governo, quem reiterou que "Cabo Verde está do lado dos valores e dos princípios da liberdade e do respeito pela soberania e pela integridade territorial dos povos e dos países".

"Em nome desses princípios", lembrou Correia e Silva que o seu país condenou a invasão da Rússia e "condenamos o recurso a golpes de Estado como forma de acesso ao poder".

Na base dessa realidade, aquele governante considerou que são questões de natureza política que "merecem ser assumidas e debatidas com sentido de prioridade pelos líderes políticos para que a estabilidade e a confiança sejam fatores promotores da paz, do progresso, da prosperidade e da sustentabilidade".

Abordagem alargada à segurança mundial

Ulisses Correia e Silva assumiu que "com espírito de colaboração e resolução, Cabo Verde está comprometido em trabalhar ao lado de todos os Estados-Membros das Nações Unidas para abordar a insegurança na região oeste-africana e no resto do mundo".

Nesse sentido, para superar as ameaças à segurança mundial, numa "abordagem alargada", o primeiro-ministro cabo-verdiano apontou a segurança sanitária, segurança climática e ambiental face às pandemias e às mudanças climáticas, a segurança alimentar e segurançaface às profundas desigualdades no acesso a bens básicos como a água, a eletricidade e ao saneamento, a segurança face ao tráfico de drogas, ao terrorismo, à pirataria marítima, ao tráfico de pessoas e ao cibercrime.

"O potencial pandémico de qualquer destes fatores de segurança é enorme e conhecido", alertou Correia e Silva, assegurando que "é somente por meio da colaboração estreita, da parceria e da solidariedade que podemos criar um ambiente de segurança global duradoura".

Acelerar as reformas

O contexto global difícil não deve ser motivo para descontinuar ou enfraquecer os compromissos para a Agenda 2030, segundo o primeiro-ministro, para quem deve-se acelerar as "reformas, os investimentos, os financiamentos, as parcerias e a solidariedade internacional".

Ulisses Correia e Silva detalhou a necessidade de reformas na arquitetura financeira internacional, operacionalização de instrumentos de financiamento climático e ambiental, aumento substancial dos direitos especiais de saque com simplificação das regras para a sua emissão e atribuição e alívio da dívida dos países menos desenvolvidos.

"As parcerias para o desenvolvimento e, particularmente as condições de financiamento, são importantes, mas existe uma condição determinante. O desenvolvimento só se alcança com um forte comprometimento endógeno de cada país: governos, cidadãos, empresas e organizações da sociedade civil", afirmou Correia e Silva, que destacou que "África precisa crescer mais e ter melhor inserção na economia mundial para produzir, exportar, criar empregos bem remunerados, erradicar a pobreza extrema e proporcionar felicidade aos seus povos".

Falta de conetividade em África

O continente, ainda segundo aquele governante, "precisa de transformações estruturais ao nível do perfil de muitas economias baseadas em commodities com baixo valor acrescentado, para economias mais diversificadas, com maior integração nas cadeias de valor, e mais competitivas".

Para o Chefe de Estado cabo-veridano, a falta de conetividade é um dos grandes constrangimentos à integração económica africana e, por isso, afirmou que a "África precisa de uma aposta decisiva, consistente e eficaz no capital humano,educação de qualidade para todos, saúde para todos e acesso a bens básicos como a água, a eletricidade e o saneamento, em casa de cada família".

Ele reconheceu no entanto que os investimentos transformadores de longo prazo, exigem recursos concessionais, previsibilidade, efeitos de escala e tempos de execução adequados para poderem produzir impactos significativos.

"O peso da dívida externa, os níveis dos riscos soberanos e as condições de financiamento dos países e das empresas africanas são assuntos sérios que bloqueiam as saídas para o desenvolvimento. Precisam de soluções estruturadas e consistentes", disse Correia e Silva, que, no caso do seu país, reafirmou o compromisso de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com políticas integradas e de "erradicar a pobreza extrema em 2026".

O primeiro-ministro concluiu que o seu Governo quer "transformar Cabo Verde numa nação digital e diversificar a economia".

Fórum

XS
SM
MD
LG