O retrato fiel da identidade cultural, das tradições africanas trazidas para o Brasil no período escravagista e da miscigenação com os portugueses está presente no quotidiano da comunidade Arturos.
É uma comunidade familiar, tradicional, de ascendência negra localizada no estado brasileiro de Minas Gerais, no município de Contagem, ao lado da capital Belo Horizonte.
Esta comunidade é formada pelos descendentes e agregados de Arthur Camilo Silvério que, em meados do século XIX, chegou ao Brasil num navio negreiro vindo da Angola. Por isso, o nome Arturos.
Mesmo inserida numa grande cidade, a comunidade está cercada da natureza, numa mata preservada e com árvores frutíferas.
Entre os irmãos, Artur Camilo Silvério foi o que mais prosperou. Nasceu em 1885, época da Lei do Ventre Livre e casou-se com Carmelinda Maria da Silva. Os dois tiveram 10 filhos e vieram morar em Contagem, na localidade então conhecida como Domingos Pereira, onde adquiriram a propriedade na qual ainda vivem os seus descendentes.
Actualmente, na sua quarta geração, 80 famílias, cerca de 500 pessoas, fazem parte da comunidade. Todas mantêm vivas diversas expressões culturais e festas tradicionais como Batuque, Folia de Reis, Candombe, Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Festa da Abolição e Festa do João do Mato.
Nem todos passam o dia completamente na comunidade. Há profissionais, como educadores, que exercem as suas funções na cidade. No espaço deles, tem uma creche que preserva um aspecto essencial da cultura local: a oralidade. A creche fica a cargo das mulheres idosas que cuidam das crianças.
Em 2014, o Conselho Estadual de Patrimônio de Minas Gerais, no sentido de preservar a cultura local, reconheceu por unanimidade a Comunidade dos Arturos como bem cultural de natureza imaterial que constitui patrimônio cultural do estado.
Um dos líderes dos Arturos, Jorge Antonio da Silva, diz que o reconhecimento dentro de Minas e do Brasil eleva a autoestima de cada membro da comunidade.
“Saber que os trabalhos de pesquisas em nossa comunidade resultaram no seu registro como bem cultural de Minas Gerais, é sinal que os nossos ancestrais não trabalharam em vão”, diz.