O nome do antigo Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso está a circular em Brasília para assumir o país numa possível eleição indireta em 2017 , caso a candidatura Dilma/Temer for cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral, ou mesmo se o Presidente renunciar ao cargo ou se for afastado pela justiça em função das investigações da Lava Jato.
A Constituição prevê para os dois últimos anos do período presidencial que em caso de vacância dos cargos de presidente e vice, o Congresso Nacional escolha por ‘eleições indiretas’ o novo governante do país.
Essa possível troca no Governo pode agravar ainda mais a crise institucional no Brasil, avalia o cientista político Osvaldo Deon.
“Há em Brasília e também nos corredores do Palácio do Planalto muitos debates acerca disso. Vivemos um momento de muita turbulência nas instituições brasileiras, vide os dados recentes no relacionamento entre o Legislativo e o Judiciário. É claro que não gostaríamos que houvesse um acirramento, mas também esse cenário de aumento das pressões sobre o Legislativo pode levar a um quadro institucional um pouco diferente. Não estou falando claramente de autoritarismo. Estou falando de uma mexida no sistema político numa hipótese, por exemplo, de novas eleições”, disse.
A situação política do Presidente Michel Temer pode se agravar ainda mais caso surjam novas denúncias na Lava Jato, de acordo com Deon.
Apenas na primeira delação da Odebrecht, o governante brasileiro foi citado 44 vezes em esquemas de recebimentos de propinas.
Por isso, aquele analista diz ser muito difícil Temer se manter firme na Presidência e não só pela quantidade de potenciais delatores.
"Os acordos que foram firmados com o ministro Teori Zavascki indicam que mais de 70 agentes internos à Odebrecht podem iniciar um processo de delação. O que a gente pode observar é que a Odebrecht tinha muitas relações com o Governo federal e da mesma forma com o legislativo. Parte importante da base do Governo Temer tem sido indiciada ou pelo menos acusada nessas delações preliminares. É provável em função dos problemas do passado e em função das pressões, portanto há muitos riscos, não só que vários ministros próximos ao Presidente Temer, mas ele mesmo possa passar por momentos muitos turbulentos em um período muito rápido no início do ano”, concluiu.
Esse também é o pensamento do cientista político Malco Camargos que reforça que antigos políticos não têm a aceitação popular e nem mesmo moral para acabar com esse grave momento no país.
“Se 2016 não foi o ano para o Presidente Michel Temer, certamente 2017 não será. Caso ele seja afastado, teremos a escolha indirecta para a escolha de um novo presidente. Na falta de lideranças, nomes antigos, que já saíram da política e que não têm mais a aprovação popular são lembrados nas conversas nos cafés de Brasília, como o do antigo residente Fernando Henrique Cardoso. Nomes de pessoas que até podem estar livres das delações ou de escândalos políticos recentes, mas pessoas que nem de longe tem a aprovação popular e a autoridade moral esperada para conduzir o país em tempos de crise”, ressaltou.
Outro cientista político, Paulo Diniz, lembra que não é a primeira vez que são lembrados nomes de velhos políticos brasileiros em momentos difíceis como o actual.
Para ele, não passa de um boato e o retorno de Fernando Henrique Cardoso à Presidência é muito pouco provável.
“Esse realmente é um boato que vem circulando de uma maneira repetida. De tempos em tempos ele volta e isso tem que ser notado com certeza, como um fato importante. Não acredito por enquanto que seja uma opção viável porque primeiro depende só de uma decisão judicial. As relações entre o judiciário, o Executivo e o legislativo principalmente estão no limite, bastante desgastadas depois deste ano e também do último enfrentamento envolvendo o presidente do Senado Renan Calheiros. Acho pouco provável que alguém do judiciário esteja disposto a assumir a responsabilidade de tomar uma decisão desse peso e afastar o Presidente Michel Temer, o que seria uma segunda transição em menos de um ano”, avaliou.
Paulo Diniz ainda completa.
“A questão do retorno do antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso acho muito pouco provável porque ele tem sido extremamente veemente nesse sentido de que não está disposto a ocupar algum cargo, muito menos numa situação dessa. Acredito que o nome dele vem sendo aventado como possível candidato a uma eleição indirecta muito mais por intriga da oposição", concluiu.