O antigo primeiro-ministro português e ex-Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, afirmou que é “hora de mudança” nas Nações Unidas e que é hora do processo dar lugar às pessoas.
Guterres fez esta declaração no discurso de tomada de posse como secretário-geral das Nações Unidas nesta segunda-feira, 12, em Nova Iorque.
"Eu, António Guterres, juro solenemente exercer com toda a lealdade, discrição e consciência as funções que a mim atribuídas como secretário-geral das Nações Unidas", disse Guterres, numa breve cerimónia, em que, como diz o texto do juramento, comprometeu-se a não aceitar instruções de nenhum Governo ou outra autoridade no exercício das suas responsabilidades.
Na sua intervenção, António Guterres revelou que as grandes tendências, como as alterações climáticas, a insegurança alimentar, a escassez de água, os picos de tensão e instabilidade caracterizam o nosso mundo.
Ele destacou que chegou o extraordinário progresso tecnológico, o número de pessoas em situação de pobreza absoluta caiu dramaticamente, mas com este progresso tecnológico, muitos ficaram para trás e está cada vez maior o fosso das desigualdades"
“É tempo de reconstruir relações entre as pessoas e os líderes, a nível nacional e internacional, tempo de los líderes ouvirem as pessoas e deixaram-nas saber que se preocupam com elas”, defendeu o novo secretário-geral, considerando, no entanto, que “o medo” está a “orientar as pessoas em todo o mundo”.
O antigo primeiro-ministro português revelou que uma das coisas que mais teme “tem a ver com a incapacidade de evitar e prevenir as guerras”, no entanto, garantiu “estar pronto” a empenhar-se “para exercer os meus bons ofícios para estabelecer a paz”.
Ao referir-se à reforma das Nações Unidas, ele disse que a aposta tem que ir mais para a “produção de resultados” e “menos para o processo, mais para as pessoas, menos para a burocracia”.
“Colocar um membro das Nações Unidas no terreno não pode durar nove meses”, denunciou Guterres.
Ao iniciar o seu discurso, António Guterres lembrou que quando há 21 anos prestou juramento como primeiro-ministro em Portugal, o mundo estava numa onda de otimismo”, diferente ao que se vive nos dias de hoje, mas reiterou “ser preciso ir ao encontro das necessidades” de todas as pessoas, e que está preparado para neste “mundo complexo” trabalhar com “os povos e os líderes internacionais”.
Natural de Lisboa e formado em física e engenharia eléctrica, António Guterres cede abraçou a carreia pública, durante a Revolução dos Cravos.
Mais tarde, foi secretário-geral do Partido Socialista e foi primeiro-ministro entre 1995 e 2002, tendo pedido a sua demissão depois de o partido perder as eleições autárquicas.
Entre 2005 e 2015, dirigiu a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), período no qualpromoveu uma série de reformas que aprimoraram a actuação da agência, segundo vártios diplomatas.
O Acnur é considerado uma das agências mais funcionais e bem-sucedidas da ONU, organização frequentemente criticada pelo excesso de burocracia e pouco impacto na vida das pessoas.
Uma das principais iniciativas de Guterres à frente da Acnur foi a de ampliar o número de funcionários nas áreas com mais refugiados para melhorar o atendimento.
É fluente em inglês, francês e espanhol, além de português, sua língua maternal.
O novo secretário-geral das Nações Unidas entre em funções a 1 de Janeiro.