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Angola: Toponimia colonial questionada por nacionalistas


Avenida Cavaleiros Lopes, Huambo, Angola
Avenida Cavaleiros Lopes, Huambo, Angola

A cidade de Huambo, na província angolana do mesmo nome, tem uma toponímia com vários símbolos da era colonial.

Há poucas semanas, como a Voz da América noticiou, foi retirada a estátua do militar português Norton de Matos, considerado o fundador da cidade, dando origem a posições contrárias entre aqueles que dizem que esses símbolos devem ser preservados, enquanto outro afirmam ser um escândalo manter figuras coloniais.

O debate está aberto entre personalidades, mas o Governo não se tem pronunciado.

O jornalista e ativista Rafael Marques considera ser um escândalo o Governo manter a toponímia com símbolos e nomes de figuras coloniais depois de quase 50 anos de independência.

Marques, que fez um estudo sobre o assunto, acrescenta não se justificar manter a toponímia com nomes que não significam nada aos angolanos.

"Isto tem a ver com a identidade dos angolanos. Não é possível Portugal estar agora a celebrar os 50 anos do derrube do fascismo e, nós em Angola, a manter figuras deste mesmo fascismo, que tanto nos oprimiram com a guerra", defende Marques.

Aquele investigador aponta também a exclusão de figuras angolanas que deram a vida pelo país.

"Muitos angolanos deram o seu melhor para o engrandecimento deste país e, nada tinham a ver com o MPLA. Precisamos acabar com esta ideia que nacionalistas são apenas do MPLA", conluiu Rafael Marques.

Já o antigo deputado e nacionalista Makuta Nkondo defende a ideia de se rebatizar as avenidas à maneira angolana.

"As ruas são umas estátuas, Rua Lenine, Revolução de Outubro, etc, etc, devem ser rebatizadas com nomes de figuras angolanas", sugere Nkondo.

Em contrapartida, o sociólogo Lukombo Satuzola diz ser normal manter personas non grata como acontece noutras latitudes, apenas para o conhecimento das novas gerações.

"Se formos à África do Sul vamos encontrar ainda figuras do apartheid nas ruas, avenidas. Em Portugal no Marquês de Pombal, na Avenida da liberdade, há estátuas, pelo mal ou bem que fizeram", apont Satuzola.

O historiador Alberto Peres questiona como ficam os valores e a identidade de um povo.

"Se a toponímia angolana não respeitar a identidade do povo, existem vários grupos com lições e tradições que compõe a herança cultural que pode estar comprometida”, sustenta aquele historiador.

Na semana passada na cidade do Cuito, província do Bié, na sequência de uma petição pública de ativistas, o Governo local de Pereira Alfredo removeu dísticos em duas ruas principais com nomes de Salazar e Marcelo Caetano, mas o registo mantém-se.

Em 2014, o antigo Presidente José Eduardo dos Santos criou uma comissão para tratar da toponímia, um projeto que não andou e cujas razões se desconhecem.

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