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Angola Fala Só - Padre Pio Wakussanga: "Lourenço herdou uma bomba que explodiu"


Padre Pio Wakussanga
Padre Pio Wakussanga

"É perigoso centrar todas as expectativas numa só pessoa", alertou o sacerdote e activista social

15 Dez 2017 AFS - Padre Pio Wakussanga: "Lourenço herdou uma bomba que explodiu"
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Há uma clara diferença entre a actual governação de João Lourenço e a anterior, disse o padre Pio Wakussanga que avisou, contudo, que os angolanos podem estar a criar expectativas que o actual Presidente poderá não poder cumprir.

Ao falar no programa “Angola Fala Só” nesta sexta-feira, 15, o padre Pio disse que “parece há uma vontade genuína do actual ocupante da cadeira presidencial em fazer diferença”.

“Isso é notório pela linha discursiva e pelas medidas que está a tomar e ao mesmo tempo nós que vivemos no interior e fazemos parte da sociedade civil verificamos que há um clima de distensão em relação a algumas liberdades fundamentais”, sublinhou.

Pio Wakussanga, que preside à Associação Construindo Comunidades, revelou que antes da Presidência de João Lourenço qualquer iniciativa de dialogar com o Governo sobre questões de direitos humanos “tinha sempre imensos obstáculos e comentários feitos nas redes sociais eram sempre respondidos com insultos perseguições".

“Há mais espaço, respiramos um outro ar e isso nota-se”, acrescentou o também activista, que avisou que “todas as expectativas” estão agora centradas “numa única pessoa que é o João Lourenço” e isso “pode ter o seu lado negativo”.

Para resolver isso seria importanteque o novo Presidente acelere “a descentralização das liberdades e a descentralização de poderes, como por exemplo através das eleições autárquicas, da liberdade de expressão e de imprensa”.

Wakussanga pediu para que não concentrem no Presidente “os problemas acumulados durante décadas”.

João Lourenço, disse, “não é divino, é humano e eu não acredito que a maior parte dessas pessoas que estão agora no poder queira as mudanças que ele está a querer implementar”.

Para o padre Pio, como é conhecido, “isto pode ser uma faca de dois gumes que pode fragilizar o poder dele”, lembrando ainda que Angola está na “bancarrota” em parte devido ao facto do dinheiro que “as pessoas no poder surripiaram dos fundos públicos”.

Muitos dos problemas não têm solução imediata e só poderão ser resolvidos a longo prazo na óptica do entrevistado.

“João Lourenço herdou esta bomba que explodiu e que ele sozinho não pode resolver”, alertou o padre Pio Wakussanga lembrando que é preciso “atrás daquele que roubou um bilião”, mas também de quem “roubou medicamentos de um posto de saúde de uma comuna, de um município”.

Para isso, o sacerdote propôs a criação de uma “ampla comissão ao nível da sociedade civil” para se avaliar o “volume das coisas desviadas”.

Essa comissão, explicou, poderia ser equiparada a uma comissão de verdade e reconciliação para que destruir “de maneira estruturada, de maneira transformacional esse grande cancro da corrupção que entrou na sociedade e que se estabeleceu desde o topo até à base”.

Quanto à situação nos Gambos onde vive e que tal como outras regiões do sul de Angola tem sido vítima de uma seca prolongada, o padre Pio Wakussanga disse que o início da época das chuvas foi marcado por “bons sinais” mas que infelizmente as chuvas “levantaram há mais de 15 dias e isso está a criar apreensão”.

Para ele, devem ser adoptadas políticas de apoio ao cultivo de produtos que possam resistir à seca, mas avisou que a situação no que diz respeito à seca poderá continuar ainda por muitos anos e corre-se o perigo de “irmos ver coisas nunca vistas”.

Na generalidade, os ouvintes que participaram no programa, quer pelo telefone quer pelas redes sociais, manifestaram-se entusiasmados com a actuação do Presidente João Lourenço, mas expressaram também cautela quanto ao futuro.

“O Presidente está a falar muito bem, mas vamos ver a prática”, advertiu o ouvinte Paulo Kalunga.

A esmagadora maioria dos ouvintes e internautas classificaram a saúde e a educação como áreas prioritárias da actuação do Executivo.

Um dos ouvintes fez notar que quando José Eduardo dos Santos subiu ao poder “também foi assim pois Eduardo dos Santos mudou o governo “.

“É preciso haver responsabilização criminal”, daqueles que cometeram fraudes e desvio, disse o ouvinte Marivaldo Amparo, concluindo ser "triste ver um país tão rico com tanta gente pobre”

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