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Analistas angolanos apontam elites africanas como responsáveis pela fuga das riquezas do continente


João Lourenço, Presidente angolano, com políticos durante visita ao Gana, 3 de Agosto de 2021
João Lourenço, Presidente angolano, com políticos durante visita ao Gana, 3 de Agosto de 2021

Em visita ao Gana, João Lourenço defendeu que África deve deixar de ser apenas potencialmente rica e passar a ser efectivamente rica.

O Presidente angolano defendeu no Gana na terça-feira, 3, que a África deve deixar de ser apenas potencialmente rica e passar a ser efectivamente rica e que isto só depende dos próprios africanos.

Em Angola, especialistas consideram que João Lourenço devia fazer este pronunciamento olhando no espelho porque essa responsabilidade passa pelos líderes africanos.

“Ninguém nos vai oferecer isso de borla, ou nós conseguimos esta proeza de sair de potencialmente ricos para ricos de facto ou ninguém fará isso por nós", afirmou o Chefe de Estado angolano.

O analista social e político Adão Ramos entende que João Lourenço devia ter-se dirigido ao espelho por fazer parte do restrito grupo da elite do continente que tira proveito das riquezas nos seus países e faz desenvolver outros países fora de África.

"Existe um grupo muito restrito destas lideranças que se beneficiam destas riquezas, para enriquecimento próprio e, para piorar, depositam esses recursos fora do continente”, sustenta Ramos, para quem “o nosso Presidente, ao fazer este pronunciamento, mostra que ele tem consciência desta realidade que há muito os têm beneficiado".

O sociólogo e académico João Sassando entende que os líderes africanos substituíram as elites coloniais, ao adoptarem adoptando as mesmas práticas, por serem os únicos que se beneficiam dos recursos que os países africanos possuem em detrimento das suas populações.

"Eles têm as suas indústrias, por exemplo lá na Turquia, onde o Presidente da República esteve, querem vir para cá colher o nosso algodão, levar para Turquia, produzirem o vestuário, os fatos que voltam a vender-nos a preços exorbitantes", exemplifica Sassando, lembrando que quem “determina as dinâmicas sociais são as elites dominantes e devem ser elas a mudar o quadro”.

No seu entender, o discurso de Lourenço está gasto.

"O antecessor de João Lourenço, José Eduardo dos Santos, está exactamente a pagar a factura da acumulação primitiva do capital que fez em 38 anos de poder em Angola, é o exemplo claro, as novas elites devem saber que discurso pelo discurso já não motiva nem cativa porque já é velho", conclui aquele académico.

Leitura diferente tem o analista político Jorge Neto, que sustenta que "o Presidente João Lourenço está a alertar para si mesmo e outros líderes africanos que é altura de mudar o paradigma.

"As visitas que o Presidente vem fazendo, abrindo novos mercados internacionais, enquadram-se nesta perspectiva de tornar África rica de facto e não apenas potencial”, diz Neto, que sublinha que “o combate à corrupção visa exactamente isso, repatriar toda riqueza que foi levada para fora de Angola”.

“Isto mostra que João Lourenço quer mudar os hábitos do passado, e adoptar novos", defende.

Em Accra, após o encontro com o seu homólogo, Nana Akufo-Addo, o Presidente angolano reiterou querer “encontrar aqui mesmo, no nosso continente africano, muitas das soluções que muitas vezes vamos à procura fora do continente” e, por esta razão, justificou a aprovação e ratificação do acordo que cria a Zona de Livre Comércio Continental Africana (ZLCCA), cuja sede está naquela cidade.

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