A verdade não está nos discursos – esta foi a opinião de vários ouvintes que reagiam no “Angola Fala Só” ao discurso sobre o estado da nação feito pelo presidente Eduardo dos Santos na abertura de uma nova sessão legislativa do parlamento.
“ O presidente fez um bom discurso mas o discurso não beneficia nenhum cidadão,” disse Toni Mingo que telefonou ao programa do Kuando Kubango.
“A verdade não são os discursos que só ficam nos papéis e na televisão,” acrescentou.
Alguns dos ouvintes insurgiram-se contra o facto de o presidente não ter abordado a questão dos direitos humanos e as acções da polícia contra manifestantes.
Beto Cinco-Reis da Huíla referiu-se à detenção e jornalistas e manifestantes e ás greves de professores acusando o governo de não negociar os problemas destes.
“Os manifestantes têm o direito a manifestar-se e o presidente devia ter falado sobre o paradeiro de Isaías Cassule e Alves Kamolingue,” disse Cinco-Reis em referência a dois activistas desaparecidos há mais de um ano.
“O presidente deveria ter dito se estão ou não mortos,” acrescentou.
Marcolino Bernial disse não poder confiar nas estatísticas dadas pelo presidente .
“Não temos um censo nacional,” disse.
“Sem censo onde é que ele foi buscar aqueles números?,” interrogou Berinal que se insurgiu também contra a repressão de manfiestaçoes.
“Esse direito está na constituição,” disse
Jubito Chipingue do Kuanza Sul descreveu Eduardo dos Santos como “um presidente de discursos de beleza” mas que “não honra a sua palavra”.
O discurso da abertura do parlamento foi “um discurso que não corresponde á realidade”.
Este ouvinte referiu-se também à recente desavença diplomática com Portugal que levou o presidente angolano a anunciar o fim da pareceria estratégica com este país.
Em vez de se insurgir contra as acusações de corrupção que são feitas ao seu governo, o presidente deveria ter falado sobre as mesmas em particular sobre o chamado “escândalo Bento Kangamba” em que este general terá sido detido em França depois de seus companheiros terem sido apreendidos com centenas de milhar de dólares cuja origem se desconhece, disse Jubito Chipengue.
“Se o presidente reage assim contra um país como é que trata os cidadãos?” interrogou
Feliciano Bombita de Luanda também abordou as relações com Portugal afirmando que tudo se deve a “um problema pessoal”.
“O presidente devia explicar o que se passa com a justiça portuguesa,” disse, acrescentando que o presidente deveria falar sobre “o respeito pela constituição”.
“Esqueceu-se de falar sobre isso. Teve uma oportunidade de falar sobre isso e não o fez,” disse Chipengue.
“Isso foi uma falta de respeito , não se lembrou que a constituição deve ser respeitada por todos,” acrescentou.
Paulo Kalunga Júnior que telefonou da capital disse que as acusações de corrupção contra destacados dirigentes afectam a credibilidade do presidente.
O Presidente, disse, pode ter a vontade mas “aqueles que o rodeiam” afectam a sua credibilidade.
Para Paulo Kalunga Júnior o presidente devia abandonar o poder não só pelo tempo que já está no poder mas também pela sua idade.
“O ser humano agasta-se com o tempo e muito mais quando se governa,” disse Kalunga Júnior que se mostrou convencido que dentro do próprio MPLA há “gente boa e com capacidade” para governar.
“Basta! O povo sofre e o presidente deve ter um sentimento por esse povo. Por favor Sr. Presidente,” disse.
Severino Costa de Cabinda alertou para o que disser o descontentamento de elementos das forças armadas com os seus salários.
“É preciso que o governo reveja isso porque todos estão frustrados, “ disse.
Outro ouvinte de Cabinda João António identificou-se sendo um antigo membro das “operações especiais” das forças armadas que foi desmobilizado e que nunca recebe u”um kwanza” daquilo que lhe foi prometido porque o seu processo se perdeu.
O problema dos veteranos que continuam a não receber o que lhes foi prometido deve-se “ á falta de um processo de credível”, disse
“Somos esquecidos,” acrescentou.
João António criticou o facto de Cabinda continuar isolada do resto de Angola sendo mais fácil e mais barato uma deslocação aos dois Congos do que a Luanda
“ Angola de Cabinda ao Cunene não existe,” disse.
“Temos que reflectir sobre isto,” acrescentou.
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