“Democracia sob cerco”, é o título que a organização não governamental com sede em Washington, Freedom House, atribuiu ao seu relatório sobre Liberdade no Mundo 2021, divulgado nesta quarta-feira, 3.
“As investigações deste ano deixam bem claro que ainda não contornamos a maré autoritária”, disse Sarah Repucci, vice-presidente de pesquisa e análise da Freedom House num comunicado, no qual reitera que “os Governos democráticos terão que trabalhar em solidariedade uns com os outros e com os defensores da democracia e defensores dos direitos humanos em ambientes mais repressivos, se quisermos reverter 15 anos de declínios acumulados e construir um mundo mais livre e pacífico.”
O relatório afirma que a pandemia do novo coronavírus proporcionou a muitos regimes em todo o mundo uma oportunidade de “reduzir a transparência, promover informações falsas ou enganosas e reprimir o compartilhamento de dados desfavoráveis ou visões críticas”.
“Os confinamentos às vezes foram excessivos, politizados ou brutalmente impostos pelas agências de segurança. E líderes antidemocráticos em todo o mundo usaram a pandemia como cobertura para enfraquecer a oposição política e consolidar o poder ”, disse a organização.
Efeitos duradouros
Na análise, a Freedom House considera que “na verdade, muitos acontecimentos negativos do ano provavelmente terão efeitos duradouros, o que significa que o eventual fim da pandemia não irá necessariamente desencadear uma revitalização imediata da democracia”.
“A longa recessão democrática está a aprofundar-se”, avisa a Freedom House.
No seu relatório, a organização que monitora a liberdade no mundo, “rebaixou as pontuações de liberdade” de 73 países.
Países importantes em queda
O documento destaca a profunda influência em 2020 da “influência perversa do regime da China” que apelida de “a ditadura mais populosa do mundo”, com o país a conseguir nove em 100 pontos.
A Freedoom House aponta ainda o dedo à Venezuela, com apenas 14 pontos, e ao Camboja (24) cujos regimes, “exploraram a crise para anular a oposição e fortificar o seu poder”.
A Índia, a democracia mais populosa do mundo, desceu do grupo de países livres para parcialmente livres.
Outros destaques indicam para o Mali, o país que mais caiu no índice em África, e Malawi com aquele que mais progrediu.
Estados Unidos voltaram a cair no índice, com a organização a falar num “estado deplorável da democracia norte-americana”.
“Os Estados Unidos terão de trabalhar vigorosamente (…) se quiserem proteger a sua venerável democracia e recuperar a sua credibilidade global”, afirmou a organização.
Lusófonos
“A proporção de países não livres é agora a mais elevada dos últimos 15 anos. Em média, a pontuação destes países diminuiu cerca de 15 por cento durante o mesmo período”, concluiu o relatório.
Entre os países africanos de língua portuguesa, Cabo Verde é o melhor classificado, com 92 em 100 pontos possíveis, sendo o melhor em África.
São Tomé e Príncipe também está no grupo dos países livres, com 84.
Guiné-Bissau, com 44 pontos, e Moçambique, com 43, estão no grupo de Estados parcialmente livres, enquanto Angola é considerado um país não livre, com 31 pontos.
Ainda no mundo da lusofonia, Portugal obteve 96 pontos e Brasil, 74, sendo ambos países livres.