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O cardeal Joseph Ratzinger era bem conhecido


O cardeal Joseph Ratzinger eram bem conhecido entre os seus pares e a rapidez da sua escolha causou pouca surpresa para a maioria dos observadores.

Durante cerca de 25 anos, o cardeal Ratzinger liderou o departamento do Vaticano que garante que os milhares de milhões de católicos espalhados pelo mundo não se afastem dos ensinamentos essenciais da Igreja. O novo pontífice serviu também como discreto administrador do seu antecessor, o Papa João Paulo II. O novo Papa, Bento XVI, cresceu na Alemanha Nazi e foi ordenado padre católico em 1951. Em meados dos anos 60 tomou parte no Segundo Concílio Vaticano, que liberalizou o catolicismo. O padre John Langan, é professor da Universidade de Georgetown, em Washington.

”Trata-se de alguém que começou sendo um teólogo liberal e progressista e depois, parcialmente em resposta a um período experimental depois do Concílio Vaticano II, tornou-se num conservador intransigente. Penso que ele sentiu que os valores fundamentais da civilização ocidental estavam em perigo de serem perdidos e que a Igreja tinha a responsabilidade de os defender.”

Desde então, o cardeal Ratzinger insistiu que para se ser parte da Igreja, dever-se-ia seguir à risca as suas posições relativamente a questões polémicas como é o caso do aborto e da homossexualidade. Chester Gillis, que ensina na Universidade de Georgetown, afirma que os católicos que discordam do Papa têm pouco espaço para expressar as suas opiniões.

”Eu não penso que ele vá mudar os ensinamentos da Igreja numa vasta gama de assuntos. Todos eles serão mantidos como têm vindo a ser mantidos. É isto o que o catolicismo ensina, a ser fiel aos princípios e a continuar”.

E é isso, diz o padre Langan, que irá causar problemas ao catolicismo.

”Penso que, muito provavelmente, um expressivo número de católicos irá desistir e ou deixam a Igreja ou se mantêm em silêncio.”

Uma questão importante para os cerca de 67 milhões de católicos americanos é a questão dos abusos sexuais cometidos por padres contra crianças. O então cardeal Ratzinger caracterizou o escândalo como ”uma campanha planeada” contra a Igreja. Mas, a irmã Christine Schenk, do grupo Futura Igreja, que reclama um Vaticano mais inclusivo e tolerante, afirma que o Papa Bento XVI tem que reconhecer a seriedade do escândalo dos abusos sexuais.

”O que ele disse no passado não lhe vai servir quando tentar lançar pontes de entendimento com muitos dos que, na Igreja, têm sérias preocupações sobre a forma como a instituição está a tratar da má conduta sexual do clero.”

A Igreja tem que encarar a questão num mundo que está em rápida mudança no último meio século. Mas um teólogo, o padre John Langlois, da Casa dos Estudos Dominicanos, em Washington, afirma não acreditar que o Papa Bento XVI vá mudar as suas convicções mais profundas.

”Ele irá expressar-se com uma voz forte e firme sobre toda a espécie de questões. Vai ser muito bom em termos de confrontar todas as questões que tem a ver com as novas tecnologias e com questões de moralidade como, por exemplo sobre experiências com células estaminais e sobre a clonagem”.

Alguns observadores afirmam que a eleição de um alemão para Papa terá sido, em parte, em reacção ao continuado declínio, no último ano, da adesão à Igreja na Europa.

O padre William Stetson, do Centro de Informação Católico, afirma que o Papa Bento XVI e o seu antecessor apelaram aos católicos europeus para seguirem a sua herança cultural.

”Mas o Papa e o cardeal Ratzinger pensavam que a Europa necessita de reconhecer a sua própria identidade está intimamente ligada às suas raízes cristãs, judeo-cristãs, penso eu, às raízes greco-romanas.”

Enquanto cardeal, Joseph Ratzinger advertiu publicamente contra a admissão da Turquia na União Europeia, afirmando que o continente europeu é largamente cristã. Isso deixou alguns observadores interrogando-se sobre se o novo Papa irá ou não estender a mão aos não-cristãos,como o fez João Paulo II. A opinião de Chester Gillis, da Universidade de Georgetwon.

”Não posso imaginar que ele não vá continuar alguns dos esforços de aproximação feitos pelo seu antecessor. O diálogo inter-religioso pode ser difícil, mas não penso que ele o vá abandonar. Poderá assumir uma postura diferente, dizendo que ”falamos a partir de uma posição de verdade”. Sobre o acolhimento dessa posição, em termos inter-religiosos e políticos, sobre isso não estou nada certo”.

Bento XVI afirma-se empenhado num ”diálogo sincero e aberto” com os seguidores de todas as religiões. Mesmo assim, diz Marc Morozowich da Universidade Católica, a reconciliação entre católicos e muçulmanos pode ser um longo processo. E adianta que o Islão terá também que ceder algum terreno para se encontrar um consenso.

”Os muçulmanos têm que fazer uma grande auto-análise. A história tem várias leituras. Os cristãos têm todo o direito a recordar as coisas que foram perpetradas contra si. É de um grande parcialismo olhar apenas para as cruzadas como qualquer coisa que foi feito contra os muçulmanos.”

Alguns observadores do Vaticano afirmam que a escolha do Papa Bento XVI poderá reflectir um desejo de manter o satus quo, deixando muito embora espaço para um novo líder num futuro não muito distante. Mas, porque o falecido Papa João Paulo II escolheu a quase totalidade dos cardeais que participaram no Conclave, muitos analistas afirmam que a doutrina do Vaticano poderá não mudar nos próximos anos.

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