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Toninho vs Feijó - 2004-12-14


Não faz muito tempo, uma publicação angolana dizia que o empréstimo de 2 mil milhões de dólares obtido na China iria provocar uma guerra civil em Angola. Pois bem.. estão aí as primeiras vítimas: Carlos Feijó, Chefe da Casa Civil e principal conselheiro para questões constitucionais, e António Vandúnem, secretário do Conselho de Ministros. Foram os dois demitidos pelo Presidente José Eduardo dos Santos na última quinta-feira.

O afastamento destes dois funcionários é o corolário de uma crise que se agravou desde que jornais angolanos puseram a circular há cerca de um mês, informação sobre alegados benefícios que o secretário do Conselho de Ministros pretendia tirar do empréstimo de 2 biliões obtidos junto da China.

Acossado pela contundência das reportagens, António Vandúnem não só rejeitou as acusações, como insinuou que Carlos Feijó era quem vazava informação para a imprensa. Chegados ao poder quase juntos viviam desde então num clima de competição permanente, sendo que nenhum dos dois alguma vez largou a guarda. A crise atingiu proporções alarmantes na última semana com sinais de que a coexistência já não era possível.

Com efeito, Carlos Feijó e António Vandúnem envolveram-se na última semana numa discussão acesa nos corredores do palácio, que em último caso veio a precipitar a intervenção do Presidente José Eduardo dos Santos.

Ouvidos os dois, José Eduardo dos Santos decidiu-se primeiro, pelo afastamento de António Vandúnem, e depois pela aceitação do pedido de demissão de Carlos Feijó que ante a ausência de sinais de confiança por parte do Presidente, entendeu que a melhor saída era colocar o cargo à disposição. A decisão do Presidente coloca fora do seu gabinete dois dos seus mais experimentados assessores. Carlos Feijó vinha liderando as consultas com a França relativas ao caso Falcone, e ao acesso da Total ao petróleo angolano. Era também o "team leader" nos contactos que o Governo de Angola vinha mantendo com a Global Witness, e a Human Right Watch. Era igualmente chefe da Comissão Nacional de Reforma do Sistema Judicial cargo que lhe colocou no topo da equipa que vem preparando a revisão constitucional.

António Vandúnem por sua vez, está associado à negociação das dívidas contraídas por Angola junto da Rússia, Espanha e Portugal. Liderou o processo que resultou na entrada de capital uruguaios no mercado angolano.

Foi também quem iniciou a negociação relativa à libertação por bancos suíços de dinheiro do Estado angolano retido naquelas paragens por força do Angolagate. A ele se deveu também a condução da negociação que levou a China a emprestar a Angola, 2 mil milhões de dólares.

Ironicamente ou não, andaram desde a chegada ao Futungo quase que em paralelo, senão mesmo um atrás do outro.

Carlos Feijó foi de 1992 a 1996 secretário do Conselho de Ministros, cargo em que foi substituído exactamente por António Vandúnem. Regressou ao gabinete presidencial em 1999 sendo nomeado Assessor para as questões Regionais e Locais acabando mais tarde por substituir nomeado José Leitão na chefia da Casa Civil .

António Vandúnem foi de 1992 a 1996 Assessor para as Assuntos Jurídicos, substituindo Carlos Feijó no secretariado do Conselho de Ministros em 1996. Ambos são juristas formados na Universidade Agostinho Neto. Nunca esconderam odesdém de um pelo outro.

O afastamento dos dois tornou-se eminente na terça-feira quando António Vandúnem retirou os seus haveres dos gabinetes que ocupava no Palácio e no Futungo, e a correspondência do secretarido do Conselho de Ministros e da Casa Civil começou a ficar encalhada.

No rescaldo desta alteração José Eduardo dos Santos nomeou para o cargo de Secretário do Conselho de Ministros, Joaquim António Carlos Reis Júnior, ligado à GEFI , holding controlada pelo MPLA. Reis Júnior terá como adjunta Ana Maria de Sousa e Silva, funcionaria superior da Presidência. Mota Lins que até aqui era secretário-adjunto do Conselho de Ministros é agora adjunto do vice-ministro da Admnistração.

Não foram avançados nomes para o cargo de chefe da Casa Civil, mas fontes bem informadas dizem que Aldemiro Conceição , Porta-Voz e Archer Mangueira, Assessor Económico de José Eduardo dos Santos, são tidos como prováveis sucessores de Carlos Feijó.

Entretanto fonte da presidência angolana foi citada pela Televisão Pública de Angola como tendo dito que Carlos Feijó será doravante consultor do Governo para questões constitucionais. A notícia do novo cargo de Carlos Feijó, feita por uma fonte anónima da Presidência, coisa rara, e não por via de um comunicado oficial levanta dúvidas. Pode ser, segundo observadores em Luanda, um artifício para manter Carlos Feijó, "em cima de grandes dossiers” sem entretanto ter assento no Conselho de Ministros, e na sua Comissão Permanente , pode ser também, o início da redução progressiva do seu papel", disse um observador ouvido pela fonte da Voz da América.

No mesmo dia José Eduardo dos Santos exonerou Paulo Tjipilika do cargo de Ministro, nomeando para o seu lugar, Manuel da Costa Aragão.

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