Os namibianos vão hoje e amanhã participar nas quartas eleições democráticas desde que obtiveram a independência da África do Sul em 1990. O primeiro e até agora único presidente da Namíbia, Sam Nujoma, prepara-se para se afastar do poder.
Enquanto herói da libertação e fundador da Namíbia, Sam Nujoma, tem dominado a cena política durante décadas. Agora, os namibianos entram em território desconhecido. O homem afectuosamente conhecido como Pai Sam deixará de estar ao leme da Namíbia.
O presidente Nujoma vai abandonar o poder depois de três mandatos. Nujoma foi o primeiro e o único líder que os namibianos conheceram.
”Ele foi o fundador. Ele é o líder que conhecemos. Ele trouxe-nos tudo. Por isso, não vejo qualquer razão para o afastar”.
Ferdinand Gertze tinha apenas sete ou oito anos de idade quando Sam Nujoma se tornou presidente. Hoje, Gertze tem 21 anos de idade e acaba de tirar um curso de contabilidade na Universidade da Namíbia. Esta é a primeira vez que tem idade para votar numas eleições presidenciais e não tem dúvidas de que irá votar a favor do candidato Hifi-ke-punye Pohamba, que foi escolhido por Nujoma para lhe suceder.
”Penso que ele vai desempenhar bem as suas funções porque se irá basear nas políticas e de Sam Nujoma, por isso penso que não irá fazer grande diferença relativamente ao passado. A continuidade é muito importante.”
O Partido SWAPO, de Nujoma, ganhou 75 por cento dos votos nas eleições gerais de há cinco anos atrás e é provável que, desta feita, a SWAPO venha a manter ou mesmo aumentar o seu nível de apoio. Muitas pessoas pensam que as eleições mais importantes não são aquelas que se realizam esta semana, mas as que aconteceram há seis meses atrás quando Pohamba se tornou o candidato da SWAPO. Foi quando se tornou no herdeiro político do fundador da Namíbia.
Nujoma liderou a luta armada contra o regime de apartheid sul-africano e tornou-se no primeiro presidente da Namíbia após a independência. Há cinco anos atrás, mudou a constituição política do país para poder concorrer a um terceiro mandato. Os partidos da oposição objectaram, receando que Nujoma nunca mais iria abandonar o poder. Mas, não vai haver um quatro mandato para Nujoma. Irá continuar como presidente da SWAPO, partido que lidera desde a sua fundação em 1960. Isso irá manter aquele líder, de 75 anos de idade, na cena política pelo menos até o ano 2007.
O analista político Graham Hopwood afirma que o presidente cessante deverá manter grande influência sobre o seu sucessor.
”Tem tudo a ver com a continuidade e a transição gradual da era de Nujoma. Por isso, não irá haver quaisquer mudança súbitas na política, não irá haver sobressaltos na economia. Será, em larga medida, uma mudança gradual”.
Como a maioria dos líderes políticos carismáticos, Nujoma é uma figura carismática. Tem um temperamento férreo. Tem criticado de forma aberta o que designa como os males da homossexualidade. Há quatro anos, disse perante uma conferência que a SIDA era uma arma biológica feita pelo homem. A sua amizade próxima com o presidente Robert Mugabe, do Zimbabwe, tem gerado alguma preocupação na comunidade internacional, especialmente em combinação com alguns comentários mais extremistas de Nujoma relativamente à reforma agrária.
Mas, apesar da sua retórica frequentemente inflamada, as suas políticas têm sido geralmente moderadas, a economia namibiana tem progredido e, ao contrário do seu homólogo zimbabweano, Sam Nujoma tem sido largamente elogiado pelo facto de estar disposto a abandonar o poder, depois de ter cumprido três mandatos na presidência.
Muito embora os namibianos vão às urnas esta semana, não terão um novo presidente até o próximo ano. O sucessor de Nujoma não irá ser empossado até ao dia 21 de Março, dia em que a Namíbia irá celebrar o seu 15º aniversário da independência.