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Mutilação genital feminina  - 2004-09-17


“Pela manhã agarram-me e deitaram-me ao chão. Foi quando três mulheres se sentaram e me crucificaram. Chorei até não mais poder. A única coisa que perguntava era ”minha mãe onde estás?” A única resposta que recebia era ”calada, calada rapariga.” Minha mãe é isto o que eu de facto merecia?” É isto que pergunto a todos os que aqui estão se é isto o que de facto as raparigas merecem.”

Fazia Hassam, uma jovem queniana de 13 anos de idade disse aos embaixadores, activistas, trabalhadores de saúde, políticos e outros reunidos para a conferência o que foi ter sido circuncisada, à força, quando tinha 11 anos de idade.

Oradores africanos e europeus que se lhe seguiram sublinharam que a mutilação genital feminina é uma violação dos direitos humanos que contraria convenções internacionais e que deve ser ilegalizada em toda a parte.

A prática, na qual parte ou todos os órgãos genitais são retirados, é usualmente executado como rito de passagem para a idade adulta e um pré-requisito para uma rapariga se casar.

Waris Dirie, uma modelo somáli, e embaixadora da boa-vontade das Nações Unidas, diz que a mutilação genital feminina tem sido, com frequência, associada à cultura e religião, mas que na realidade é um sinal da repressão económica, social e política exercida sobre as mulheres.

“A ONU estima que todos os anos há dois milhões de raparigas que são mutiladas em África. O que quer dizer que só apenas no dia de hoje há seis mil raparigas a serem submetidas a essa prática, amanhã serão outras seis mil, seis mil vidas arruinadas todos os dias. Deixem-me ser muito clara: ”a mutilação genital feminina não é uma tradição, não é uma questão cultural, nada tem a ver com a religião. A mutilação genital feminina não é mais do que um crime.”

A ministra dos Assuntos Internos do Quénia, Linah Kilimo, disse que no seu país, 38 por cento das quenianas foram submetidas à mutilação. Acrescentando que, em algumas áreas rurais, ou entre certos grupos étnicos, as mulheres submetidas à mutilação pode chegar aos 90 por cento.

Práticas antigas e crenças são difíceis de mudar e, disse a ministra queniana, os que tentam mudar a situação enfrentam grande resistência, não só no Quénia como noutras partes do mundo.

“De facto parece que os políticos receiam perder votos se tentarem mudar a situação. De facto, os que falam contra a mutilação arriscam-se a ser isolados pelos seus colegas.”

A conferência que decorre até sábado é patrocinado pelo governo queniano e pela organização internacional ”Não Há Paz Sem Justiça.”

Os organizadores dizem que o propósito do encontro é encontrar formas de pôr em prática o protocolo da União Africana, adoptado em 2003 em Maputo, Moçambique, que, entre outras coisas, ilegaliza todas as formas de mutilação genital feminina.

Muitos dos 53 estados membros da União Africana estão no processo de assinar o protocolo.

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