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Enviado frances de mãos a abanar - 2004-06-21


Se depender do governo de Angola, as relações com a França vão manter-se como estão, ou seja frias. A visita que Boné Corse assessor principal de Jacques Chirac efectuou a Angola esta semana, valeu sobretudo para a França dizer que as coisas em Paris, embora lentamente estão a caminhar bem. Luanda tomou nota do progresso, mas mudanças da sua parte, só quando a França mudar. O embaixador de Angola em Paris, Ambrósio Lukoki, vai continuar em Luanda, e o embaixador da França vai continuar a aguardar pela acreditação.

Dois dias depois de Boné Corse ter saído de Luanda, fontes oficiais angolanas disseram à Voz da América que só a anulação do processo contra Pierre Falcone pode alterar as coisas. Luanda insiste, e ao que consta Paris já está de acordo, em como não tendo as armas passado pela França, não se pode falar de um caso de contrabando, nem sequer de uma ilegalidade.

Os dois governos estão em consultas há mais de 3 meses. A pedido de Paris suspenderam as negociações até a realização das eleições europeias, que acabaram por resultar num revés para o partido de Jacques Chirac.

Luanda esperava que Boné Corse viesse dizer que o processo judicial seria arquivado, mas o melhor que ele pode oferecer, foram garantias políticas de que Pierre Falcone, acusado de tráfico de armas, não seria molestado. Promessas idênticas foram feitas em Março, em Paris, durante consultas que envolveram membros do staff de Eduardo dos Santos, e Dominique de Villepin, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros responsável agora pela pasta do Interior.

Tal como da primeira, Luanda também não aceitou a oferta. Quer garantias «jurídicas», por essa razão, Corse, como se diz na gíria partiu «de mãos a abanar». Numa audiência tratada longe dos olhos da imprensa, Corse disse ao Presidente de Angola que em respeito à independência dos tribunais, o seu governo não poderia fazer mais nada. Luanda que toma o processo contra Falcone, como um caso contra o estado angolano, espera muito mais.

Para Luanda a posição francesa conforma alguma contradição na medida em que por um lado aceita o principio de que não houve nenhuma transgressão, mas por outro sugere que nada mais pode fazer.

Luanda não abre mão também da admissão pública pela França, de que afinal o governo de Angola actuou com lisura. Estas promessas não foram postas de partes na medida em que o executivo francês, autor da queixa, tem como bem encaminhadas as consultas que mantém com o juiz Philipe Courrier, a quem foi confiado o processo.

Courrier teria dito, e disso Angola tinha sido informada que independentemente do ministério da Defesa ter retirado a queixa, um desfecho como Luanda exige só seria possível quando a instrução estiver concluída, pois só ela pode dizer que Pierre Falcone é inocente ou não. Por outras palavras, o governo francês vai continuar «entalado» entre o juiz Courrier , e as pressões que Luanda não faz intenção de abrandar apesar dos sinais que chegam de Paris.

Luanda usa como arma de arremesso o petróleo. Neste contexto estão suspensas as negociações relativas à renovação da concessão do bloco 3 , explorado pela TotalFinaElf.

É voz corrente em Luanda e em Paris que a petrolífera francesa é dos que mais tem pressionado o palácio do Eliseu, sede da presidência , a usar todos os meios para que o processo seja arquivado. Companhia bem sucedida em Angola, a TotalFinaElf está apreensiva com a possibilidade de vir a perder o bloco 3. A negociação da concessão já deveria estar concluída, mas Luanda vem adiando qualquer contacto. Um acordo entre as duas partes dará à TotalFinaElf autorização para explorar o bloco 3 até 2012. Tão sério como isto é o facto dos interesses que a TotalFinaElf detém no bloco 15, cuja concessão apresta-se a vencer, poderem ficar igualmente comprometidos pelas mesmas razões.

Angola tem dado indicações de que vai manter a pressão a todo terreno. O seu embaixador em Paris, Ambrósio Lukoki, chamado há mais 5 meses vai continuar em Luanda. Por outro lado, nada indica que o embaixador francês designado para Angola, Guy Azais venha a ser acreditado proximamente pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Ele está em Luanda há mais de 4 meses.

Luanda deu o primeiro sinal de que as coisas não estavam bem há dois anos, quando na cerimónia de acreditação do antigo embaixador francês, Alan Richard, o presidente José Eduardo dos Santos disse que a amizade, era como as plantas,...se não for regada, pode murchar. A Elf, e de alguma forma a França receiam agora que alguma coisa esteja a morrer. Os dois países voltarão a conversar a alto nível no próximo mês por altura da visita que ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Michel Barnier efectuará a Luanda.

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