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A crise política no Oyo


A historia de África

A crise política no Oyo, tal como argumenta Ade Ajayi e o seu grupo, foi produto das ambições da classe militar e dos governadores provinciais do estado Yoruba em luta pelo trono do Alafim, tal como o demonstra o caso do celebrado Bashorum Afonja de Ilorin, que perdera o comando da província aos jihadistas de Nupe, seus aliados, que ele, Afonja organizara para o ajudarem na luta contra o Alafim: Tomé Mbuia João: A África no Século Dezanove ao Encontro da Europa.

Na ultima conversa dizíamos que os Yorubas do Oyo estavam mais ligados entre si por uma variedade de linhas comerciais do que com os europeus na costa, e que por conseguinte, a trata esclavagista nas margens do Atlântico não explica a desintegração do reino Yoruba nos dois séculos anteriores à ocupação colonial. Assim argumenta Ade Ajayi, e com ele a plêiade doutros estudiosos do fenómeno mais debatido da história dos yorubas do Oyo desde como indica Elizabeth Isichei, nigeriana, autora desta e outras histórias do Continente, que se afasta, também ela, da tese de Akingjobin, pioneiro de méritos, sem duvida ele próprio que aceita a escravatura como força dominante da sociedade Yoruba e responsável pela desintegração do reino dos Alafins nos séculos dezoito e dezanove. Ajayi, finalmente, centra a sua tese no militarismo Yoruba como a instituição que serviu bem à classe militar para tornar o estado Yoruba teatro das suas ambições pelo poder.

As instituições políticas existentes, argumentam, nunca mais chegaram a amenizar nesta hora de saturação política os conflitos já de longa data, entre o Alafim e as famílias sobretudo militaristas, desejosas de lhe ocupar o trono, e ainda o estado de rebelião latente das províncias periféricas do estado Yoruba, contra a autoridade central do Alafim, sob o impulso do comercio não de escravos na costa, mas com as cidades hausas, na fronteira norte - Nupe e Borgu - sobretudo aquela primeira. Muito ironicamente, contra a tese de Akingjobin, e outros da sua escola, quando o Oyo se desintegrou, a província que ficou a fazer parte ainda do centro foi o Egbado no mapa da nossa história, província virada e ribeirinha a costa atlântica. Recordarem-se os ouvintes que alguma vez dizíamos que o Dahomé passara a prestar homenagem e tributo aos alafins do Oyo, em resultado das guerras de Ojigi, Bashorum do Oyo e Tegbesu, o grande do Dahomé, entre os anos 30 e 40, de 1700. Mas agora o Dahomé se aproveita da oportunidade para reaver a sua independência. O colapso do Oyo foi tal numa altura que havia três Bahoruns que se atribuíam o título de Alafim. E o trono, não mais de uma vez vago, sem titular legitimo ou de qualquer outro protagonismo.

O militarismo e a cavalaria ficaram a ser o eixo dos problemas do Oyo até a sua desintegração final. O poderio militar do Oyo dependia muito da sua cavalaria. Mas os yorubas, como dizíamos, não produziam cavalos na savana em que se consolidaram como uma potência militar devido à mosca de sono, hostil à criação destes animais e das varias espécies bovinas. Este seria um outro assunto que nos levaria a um outro capitulo da história dos reinos da savana.

Os yorubas do Oyo, os cavalos os obtinham das cidades hausas, Borgu e Nupe, sobretudo esta última, na fronteira norte, onde os trocavam com produtos da floresta - a noz de cola, por exemplo, e escravos. Nupe se transformara, entretanto durante estas mesmas horas de crise no Oyo, num ponto de convergência e de contacto entre as duas sociedades : hausa e yoruba, sul e norte.

Os hausas existiam à base do Islamismo, forma religiosa universalmente aceite. Os que o não fossem não passavam de cidadãos de segunda classe, os habes, como os chamavam de significado muito aproximado dos romanos ”hebes”, na sua língua, diminuídos cidadãos de segunda classe – também privados de direitos cívicos, obrigados neste caso a pagarem impostos e taxas ao emir da cidade.

Nupe tornara-se muito frequentado por líderes muçulmanos do norte para espalhar a sua religião, comerciantes para vender cavalos e comprar escravos, jihadistas à busca de aventuras nas cidades yorubas, mais para o sul.

Oportunidades que os yorubas das classes mais ambiciosas não deixaram de aproveitar. Os pormenores do redemoinho social que se seguiu não cabem aqui. Não dá todavia, para esquecer o caso do Bashorum Afonja. O alafim tinha o habito de delegar a autoridade nas províncias e estados conquistados a comandantes militares, os famosos Areona Kakanfos, de origem servil, escravo.

Afonja foi um deles, nomeado Areona Kakanfo da província do Ilorin, na fronteira com os hausas de Nupe. Quando se sentiu seguro, Afonja forma um exercito próprio, dos recrutas muçulmanos de Nupe principalmente.

Promove-se Afonja a Bashorum, comandante supremo dos exércitos do Oyo, e marcha a ocupar o trono do Alafim. Afonja descobriu desde logo que a soldadesca muçulmana de que se rodeara, se transformara em uma força rival jihadista contra infiéis, entre os quais assim visto estava o próprio Afonja; força comandada por um pregador famoso, e senhor do talismã todo poderoso dos aficcionados desta religião

Al-Salih Alimi, tornara-se no novo senhor militar de Ilorin. Afonja morreu na revolta das suas próprias forças, agora transformadas em jihad também, sem falta sob o comando de Al-Salih Alimi. Ilorin, província Yoruba que nunca mais voltou a sê-lo. Esta história continua. Voltaremos.

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