Links de Acesso

As chaves de soberania da Louisiana


Historia da democracia americana

Finalmente, no dia 30 de Novembro de 1803, o governador espanhol Dom Juan Ventura Morales, entregou ao representante francês, Pierre Clément de Laussart, as chaves de soberania da Louisiana que Napoleão considerava sua, mas ainda sob a administração da Espanha. Pouco depois, 20 de Dezembro, o governador americano, C.C.Claiborne, proclamava a Louisiana, território dos Estados Unidos. Para Jefferson surgia uma nova fase de apreensões, antes do júbilo do sonho realizado : Tomé Mbuia João: Democracia Americana: Os Primeiros 45 Anos

”Ocupem a terra tal como nós a recebemos. Concluístes um negócio rendoso para vocês mesmos e para o vosso povo. Estou certo que a vossa nação irá aproveitar o máximo que puder”. Palavras de parabéns de Talleyrand aos negociadores americanos, Robert Livingston e James Monroe em Paris, no termo das negociações sobre a compra da Louisiana, em 1803. Notámos numa das conversa passadas as lutas de consciência que afligiram um dos protagonistas mais interessados neste parágrafo da nossa história, o presidente americano, Thomas Jefferson. Para Jefferson começava, na verdade, um novo capítulo de lutas, lutas politicas, antes que se cumprissem as palavras de Talleyrand sobre o aproveitamento futuro do novo território pela nação americana iria. Jefferson apresentara-se para o segundo mandato presidencial em 1804. Diria que a nova aquisição territorial, a Louisiana, seria o seu trunfo nas urnas. Ainda não, não o seria para já. A aquisição do Território a oeste do Mississipi, esta Louisiana, dividiu a nação americana nas suas linhas tradicionais, norte e sul, reacendendo os receios de sempre, da Inglaterra a espreitar lá do Canadá para a zona dos Grandes Lagos e do Vale do Mississipi, que a Inglaterra nunca deixou de cobiçar - apesar de tudo - desta feita, porém atiçando ainda o nacionalismo frustrado e irredento das confederações Índias do interior. Havia também a questão da escravatura levantada pela incorporação do novo território na União. Haverá guerra, da qual iremos falar muito extensamente em conversas futuras.

A Louisiana atiçou também uma conspiração famosa, da qual já falámos também noutro contexto, e tornamos a falar dela ainda aqui. Recordarem-se os ouvintes do tal Aaron Burr, Vice-presidente que tinha sido de Thomas Jefferson, no primeiro mandato, depois de um empate de 73 votos, na eleição de 1801, decidida pela Câmara dos representantes a favor de Jefferson, moção apoiada por Alexandre Hamilton, voto e bastidores, sendo esta, também uma das razões do duelo em que Aaron Burr matou Hamilton na manhã de 11 de Julho de 1804.

Aaron Burr foi uma personalidade insondável, de um figurino político do seu tempo sem muita definição ou nenhuma. Alguns o chamaram Catilina, merecedor dos impropérios do ”quousque tandem abuteris patientia nostra” de César, só que agora seria Jefferson o atingido. Do impasse com Jefferson, Aaron Burr passou a despejar as suas ambições nas tentativas de se apropriar, ele Aaron Burr, da Louisiana, agora americana, para uma variedade de propósitos como estamos a ver. Aaron Burr, ainda vice-presidente estaria a vingar-se muito certamente do facto de Jefferson o ter excluído como seu candidato vice-presidencial na eleição para o seu segundo mandato em 1804. Aproximou-se do embaixador britânico na América, a quem inquiriu se a Grã-Bretanha estaria interessada em destacar e ocupar o novo Território da Louisiana, e que ele, Aaron Burr, oferecia os seus serviços na empresa, através de meios diplomáticos ou doutras formas se lhe pagassem um meio milhão de dólares.

Aaron Burr pisava o terreno resvaladiço da traição, desta feita não apenas contra Jefferson mas ainda contra a nação americana. Mas essa de secessão na América, não estava ainda na agenda da Inglaterra. Apesar da Inglaterra, muito efectivamente estar interessada nos chamados territórios do noroeste, não mostrou interesse pela ocupação da Louisiana, tal como sugerida pelo vice-presidente de Jefferson. Não desta vez. Burr virou-se para os compatriotas da Nova Inglaterra, em particular para os Federalistas de Nova Yorque, que não enquadravam também eles no seu esquema político a aquisição do novo território. Para os Federalistas do norte, a Louisiana significava o desequilíbrio de forças políticas no centro do poder, no Congresso da União, uma vez estabelecidos novos estados ali, na Louisiana, que os nortenhos acreditavam como um artigo de fé, que seriam estados que iriam aderir à agenda política do sul, para não dizer da Virgínia de Thomas Jefferson. Provas já eles tinham eles do estado do Ohio, o primeiro a ser criado no novo Território em 1803, o Ohio que desde logo manifestou orientações sulistas, pró-virginianas.

Fervilhava no norte federalista uma conspiração secessionista. Grito de insegurança de sempre, que ainda iremos ouvir. Burr apresentou-se como solução imediata, já agora, às apreensões dos políticos do norte. Porquê, perguntava ele, não proclamar a independência do norte, elegendo-o a ele, Aaron Burr, para seu primeiro presidente?.

Burr teve o jeito de se candidatar primeiro a governador de Nova Iorque - apenas como trampolim para aquela maior ambição. Quando foi derrotado nesta candidatura, Burr atirou as culpas ao seu adversário de sempre, Alexandre Hamilton, federalista nova-iorquino que não assinava a tese.

Aaron Burr apontou o facto de ter sido o seu adversário na corrida o sogro de Hamilton. Mais lenha para o duelo que daí pouco iria acontecer. Diremos muito mais. Voltaremos.

XS
SM
MD
LG