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FNLA : Crise terminada reconciliação à prova - 2004-05-01


A crise demorou sete anos, a negociação consumiu mais de um ano, e o restabelecimento da harmonia durou 3 horas. A prova dos nove virá no próximo mês altura que em principio será eleita uma nova direcção. Até lá, a liderança da FNLA estará a cargo da comissão preparatória do dito congresso, composta por representantes de Holden Roberto e de Lucas Ngonda.

A crise que há sete anos dividiu a FNLA em duas partes, terminou com a assinatura do memorando de reconciliação esta manhã no Palácio dos Congressos em Luanda, sob o olhar de representantes de partidos políticos da oposição, do bispo auxiliar de Luanda, do corpo diplomático, além da mediação do processo de reconciliação interna deste partido. A fórmula encontrada para juntar os irmãos desavindos do mais antigo partido político e subscritor dos acordos de Alvor que conduziram Angola à independência, foi a suspensão das presidências das duas alas, substituindo-as por uma comissão preparatória do congresso da reconciliação, a realizar-se brevemente, de onde sairá uma direcção legítima.

A referida comissão que tomou posse esta manhã vai ser presidida por Holden Roberto que será coadjuvado por Lucas Ngonda, até então assumido presidente da outra ala da FNLA.

Discursando na ocasião, Holden Roberto, que foi várias vezes referido como líder histórico da FNLA, considerou o momento como de satisfação e de sensação de missão cumprida, agradecendo a todos os intervenientes no processo de supressão das divergências que dividiram aquele partido, mas deixou um claro aviso.

“A política não é um emprego mas sim uma missão”. Por sua vez, Lucas Ngonda evocando conceitos sócio-políticos fez como que uma reflexão à volta da situação vivida pelo partido, aludindo também a dinâmica interna dos partidos políticos em qualquer democracia no mundo, dando a sua palavra de que as divergências do passado estão definitivamente ultrapassadas, dirigindo uma palavra particular a Holden Roberto.

“Com a reconciliação não perdeu nada, a julgar pela estatura política que ostenta”.

O formato político que hoje conforma a FNLA alimentou, entretanto, leituras pessimistas quanto ao futuro deste partido que foram esclarecidas pelo jornalista William Tonet um dos membros da comissão mediadora integrada ainda por padre Luís Konjimbe, reverendo Ntoni Nzinga e o politologo João Kambwela.

Para Tonet, que afirmou sentir-se como quem cumpriu a missão, o formato encontrado foi o melhor passo para a resolução definitiva dos problemas internos que a FNLA conheceu, manifestando-se certo de que a reconciliação será para durar.

“Algo falou mais alto nas partes desavindas que era o sentimento FNLA e isto levou-os a deixarem alguns caprichos e irmanarem-se naquilo que era fundamental que é a unidade da própria FNLA”.

Tido por muitos como o obreiro da reconciliação, Ngola Kabango preferiu a modestia e reconhecer a intervenção de todos para o acto acabado de testemunhar e manifestou-se satisfeito com o fim da divisão que abre o caminho ao renascimento do partido para os desafios do futuro que já estão definidos.

“Temos entendimentos internos que são muito felizes, mas deixem-nos trabalhar e esperem por resultados é que vos peço sobretudo a comunicação social. Olhem para nós e esperem por resultados. Teremos daqui para frente uma FNLA mais interventiva, mais actuante e sobretudo com uma visão de poder”.

Os partidos políticos da oposição que sempre acusaram o partido maioritário de fomentar as dissensões internas nos partidos para enfraquecê-los e melhor reinar, manifestaram-se regozijados com a prova de diálogo democrático manifestado com a assinatura do memorando de reconciliação da FNLA.

O secretário para os assuntos políticos e parlamentares da Frente para a Democracia, Filomeno Vieira Lopes, considera que o facto reveste-se de um grande alcance político e significado histórico, mostrando como a sociedade civil também joga papel importante no aproximar de posições. “Como Angola precisa que os partidos estejam unidos e que esta unidade represente a verdade nos próprios partidos, tudo aquilo que muitas vezes foi a divisão foi a mentira que se instaurou no seio dos partidos. Isto significa que é uma vitoria da verdade, é uma vitoria dos angolanos e isto só é bom para a democracia”.

A dissensão na FNLA aconteceu há cerca de sete anos, por afastamento de Lucas Ngonda que realizou um congresso para legitimar a sua condição de presidente, facto que na altura foi visto como uma manobra do MPLA a julgar pelos desenvolvimentos subsequentes.

O Tribunal Supremo a quem Holden Roberto viria a endereçar cartas a protestar contra o alegado reconhecimento pelo Governo da nova liderança, nunca se pronunciou com clareza sobre o assunto, alegando que as querelas internas eram da responsabilidade dos próprios partidos políticos.

Nessa altura, a ala liderada por Holden Roberto tinham sido coarctadas as possibilidades de gestão das contas do partido que foram passadas para a responsabilidade de Lucas Ngonda.

O clima ficou mais desanuviado quando, após uma audiência concedida por José Eduardo dos Santos, a Holden Roberto.

Acto contínuo a Presidência da Republica emitia logo a seguir um comunicado em que deixava claro o fim de todo o tipo de apoio a ala de Ngonda.

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