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Bispo de Cabinda a VOA : As relações entre a Igreja e o poder, já foram melhores - 2004-03-26


O bispo de Cabinda Dom Paulino Madeka considera os independentistas cabindas tão responsáveis pela situação de instabilidade vivida no enclave, como o próprio governo angolano, devido à incapacidade dos primeiros em se constituírem numa única frente para negociar com Luanda.

Aquela autoridade eclesiástica proferiu estas declarações numa entrevista concedida a Voz da América e na qual começa por caracterizar o actual estado de tensão na província. Bispo Madeka: A situação política com o avanço dos militares, e claro que as aldeias estão a desaparecer. Muitos aldeões estão a fugir. E quase impossível que um missionário faça um trabalho valido como antigamente. A situação não está boa.

Voa: E qual o papel que a igreja poderá desempenhar para atenuar a tensão ?

Bispo Madeka: Muito temos feito, parecendo que não, mas a igreja muito tem feito. Tem dito que a Igreja tem estado a imiscuir-se na política, mas se não fosse a Igreja teríamos aqui em Cabinda um banho de sangue. A população em si não está contra os angolanos, mas sim contra o regime em Luanda. Talvez eu esteja menos que os outros, mas a maioria dos cabindas está contra o governo angolano, uma vez que deveria haver uma mão mais dura para reprimir certos abusos cometidos pelos militares que tem reprimido as populações.

Voa: Recentemente o líder da Flec-Fac, Nzita Tiago garantiu em entrevista a Voz da América que o Sr Bispo estaria disposto a assumir o papel de mediador do conflito Cabinda ... Está mesmo disposto em assumir esse papel ?

Bispo Madeka: Não posso assumir esse papel sem que eu seja autorizado pela hierarquia da Igreja. Estive em França em tempos para a cerimonia de ordenação de alguns sacerdotes originários de Cabinda. Na altura, em conversa com alguns lideres cabindas no exterior, eu disse-lhes que eles tinham uma certa conivência com o que se passa em Cabinda. Pois que estavam profundamente divididos. Por acaso no grupo estava um dos conselheiros do Nzita Tiago. Ele depois procurou-me e conversamos um pouco sobre a situação em Cabinda. Na altura lembro-me de lhe ter dito de que havia a necessidade de eles, os lideres independentistas, se unirem, numa só frente, uma vez que o governo vem insistindo não ter um interlocutor valido, para com quem dialogar. Nessa altura ele pediu-me que eu assumisse essa missão de reunir todos as alas da Flec para se conseguir uma unidade. E ele na altura ficou com a percepção de eu estaria na disposição de dialogar com o governo. Não sou eu quem deve dialogar com o governo. Acho que a Associação Mpalabanda, se fosse aceite, poderia ser um elemento muito bom para que se chegasse a um consenso. Seria um ponto de partida para que o governo pudesse de facto dialogar com os cabindas.

Voa: Como caracteriza o estado actual do relacionamento entre a Igreja em Cabinda e o poder em Angola ?

Bispo Madeka: Já foram melhores do que agora.

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