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Barack Obama: O Discurso Aos Africanos


Na sua primeira visita a África, na qualidade de presidente dos EUA, Barack Obama definiu a sua política perante todo o continente no discurso que proferiu, este sábado, perante o Parlamento do Gana, na capital do país, Accra.

Foi nestes termos que o presidente Barack Obama iniciou o seu discurso de cerca de 30 minutos, recordando as suas raízes familiares em África: "Eu não vejo os países e os povos de África como um mundo separado. Eu vejo África como uma parte fundamental e interligada do nosso mundo – enquanto parceiros da América, em nome do futuro que queremos para todos os nossos filhos. Essa parceria tem que ser fundamentada na responsabilidade mútua e é sobre isso que lhes quero falar hoje. Temos que partir da simples premissa de que o futuro de África depende dos africanos."

O Avô de Obama,

Cozinheiro na Era Colonial

O chefe de Estado americano, referiu que "o seu avô foi cozinheiro para britânicos, no Quénia e, muito embora fosse muito respeitado entre os mais velhos na sua aldeia, os seus patrões chamaram-lhe "rapaz" durante grande parte da sua vida". E, "muito embora estivesse na periferia na luta de libertação do Quénia, ainda assim esteve preso durante algum tempo, durante os tempos da repressão".

"Na sua vida, disse Obama, o colonialismo não era apenas a divisão forçada das fronteiras ou o comércio injusto, era qualquer coisa que se vivia pessoalmente, dia após dia, ano após ano".

O presidente americano recordou ainda que o seu pai cresceu em África a guardar cabras, numa remota e pequena aldeia do Quénia, a uma distância aparentemente impossível das universidades americanas, acabou, afinal, por estudar na América, numa altura em que a geração do avô de Obama começava a dar vida a novas nações em África, num momento histórico para o continente.

A Democracia Não Se Esgota

Na Realização de Eleições

Remontando ao seu recente discurso proferido no Cairo, aos povos do Médio Oriente, o presidente Barack Obama sublinhou que "cada nação dá vida à democracia da sua própria maneira e de acordo com as suas tradições". O presidente americano adiantou, a propósito, que "a história oferece um veredicto claro, ou seja: os governos que respeitam a vontade do seu próprio povo são mais prósperos, mais estáveis e mais bem sucedidos do que não são".

"Democracia é muito mais do que realizar eleições. Tem também a ver com o que acontece entre essas eleições. A repressão assume muitas formas e demasiadas nações são afectadas por problemas crónicos, que condenam os seus povos à pobreza. Nenhum país irá criar riqueza, se os seus líderes explorarem a economia para se enriquecerem a si próprios, ou se a polícia puder ser comprada por traficantes da droga. Nenhuma empresa quer investir num país onde o governo retira para si 20 por cento dos lucros, ou onde o director das alfândegas seja corrupto. Ninguém vai querer viver onde o primado da lei abra caminho a um regime de brutalidade e subornos. Isso não é democracia, isso é tirania! E chegou agora a altura de pôr fim a tudo isso!".

Apesar de todas as dificuldades, o presidente Barack Obama reafirmou a sua esperança em que, em África, neste século XXI, "instituições capazes, transparentes e em que possamos confiar" irão dar vida à democracia, com "parlamentos fortes e forças policiais honestas; juízes e jornalistas independentes; com um sector privado e uma sociedade civil vibrantes".

Disse ainda Obama, no seu discurso aos africanos: "Por toda a África, temos visto exemplos sem conta de povos assumindo o controlo do seu destino e fazendo mudanças de baixo para cima. Vimos isso no Quénia, onde a sociedade civil e os comerciantes se uniram para ajudar a travar a violência post-eleitoral. Vimos isso na África do Sul, onde mais de três quartos do país votou nas recentes eleições, as quartas desde o fim do "apartheid". E vimos isso no Zimbabwe, onde a Rede de Apoio às Eleições fez face à repressão brutal, mantendo-se firme para defender o sagrado direito de uma pessoa um voto".

A América Não Vai Impôr

Um Sistema de Governo

Numa outra passagem do discurso que proferiu, este sábado, perante o Parlamento do Gana, o presidente Obama fez também questão em sublinhar a posição dos EUA perante o continente africano: "A América não irá procurar impor um sistema de governo -qualquer que ele seja - a qualquer outra nação. A verdade essencial da democracia é a de que cada nação determina o seu próprio destino. O que faremos é aumentar as responsabilidades individuais e das instituições, com o intuito de apoiar a boa governação, nos parlamentos, verificando os abusos de poder e garantindo que as vozes da oposição sejam ouvidas; defendendo o primado da lei, para garantir uma justa aplicação da justiça; observando a participação cívica, para que os jovens se envolvam no processo; e também na busca de soluções concretas para combater a corrupção, com contabilidade analítica, automatização de serviços, protegendo os que denunciam a corrupção para fazer avançar a transparência administrativa e a responsabilização."

Apostar Numa Parceria com África

O presidente Obama fez, depois, referência à situação em Darfur e no Congo e citou o exemplo de tolerância religiosa que se vive na Nigéria entre muçulmanos e cristão e recordou ainda que os EUA ofereceram 63 mil milhões de dólares para o combate ao HIV-SIDA. Por último, Obama falou da contribuição positiva que a União Africana e a CEDAO estão a dar para resolver conflitos, para manter a paz e para apoiar aqueles que necessitam, uma responsabilidade que também é dos americanos.

"A América tem a responsabilidade de fazer avançar aquela visão – disse Obama - não apenas com palavras, mas com um apoio que fortaleça a capacidade africana. Quando há um genocídio em Darfur ou terroristas na Somália, estes não são simplesmente problemas africanos: são desafios à segurança global e exigem uma resposta global"

O presidente Barack Obama disse, na oportunidade, que os EUA estão prontos a uma parceria com África através da diplomacia, do apoio técnico e do apoio logístico, apoiando os esforços para responsabilizar os criminosos de guerra. O presidente disse ainda que o novo comando africano não se destina a estabelecer a presença dos EUA no continente, mas para confrontar os desafios comuns e para fazer avançar a segurança da América, da África e do mundo.

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