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Crise no Irão é "Disputa Entre Facções do Regime"


A instabilidade politica no Irão após as eleições presidenciais apanhou quase todos os observadores e analistas de surpresa.

Mas especialistas da situação no Irão afirmam que na verdade são apenas reflexo de uma luta interna que se tem vindo a desenrolar nos corredores de poder em Teerão desde as eleições presidenciais de 2005.

Nessas eleições o então quase que desconhecido presidente da câmara de Teerão Mahmoud Ahmadinejad surpreendeu quase todos ao derrotar nas presidenciais um dos pilares da ordem politica vigente, Ali Akbar Hashemi Rafasanjani. Nessas eleições houve também alegações de fraude eleitoral que nunca foram no entanto investigadas de modo sério.

Quatro anos mais tarde Ahmadinejad mais uma vez surpreende os observadores ao derrotar o antigo primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi. Surgem de imediato novas alegações de fraude. Desta vez contudo há protestos e o líder supremo do país Ali Khamenei dá ordens para o Conselho dos Guardiões investigar a votação.

O antigo sub-secretário de estado para questões políticas, Nicholas Burns afirma ser claro que o governo iraniano foi apanhado de surpresa pelas manifestações e hesitou quanto à via a seguir:

Para Burns governo e o Conselho de Guardiões "estão numa posição muito difícil"."Óbviamente", disse ele "querem manter a estabilidade política mas o governo já disse que Ahmadinejad venceu as eleições".

"Por isso estão a responder passo a passo, dia a dia porque a força da oposição é enorme", acrescentou

Durante a campanha presidencial que foi caracterizada por um nível sem precedente de ataques de natureza pessoal, o Presidente Ahmadinejad acusou Rafsanjani e a sua família de serem os apoiantes corruptos do candidato reformista Mir Hossein Mousavi.

Alex Vatanka, analista para questões do Médio Oriente do Grupo de Publicações e Informação Jane's afirma que as disputas que vieram a público durante a campanha continuam a desenrolar-se nos corredores do poder em Teerão. E isso trouxe para os confrontos a figura do líder supremo do país o Ayatollah Ali Khamenei.

"Eu penso que o que na verdade se passa é um feudo familiar", disse este especialista.

" Ahmadinejad vai para a ofensiva, ameaçando pessoas que ainda têm posições de poder no Irão, afirmando que vai levar essas pessoas a tribunal para serem julgadas e condenadas," disse Vatanka para quem "óbviamente essas pessoas não iam ouvir isso e ficar caladas".

"Ahmadinejad sobre estimou a sua própria influencia e apelo e houve também talvez uma sobre estimação de Ahmadinejad sobre a verdadeira influencia de Khamenei" acrescentou.

Alguns analistas fazem notar que o interessante no meio deste confronto é o silêncio público de Ali Rafsanjani o candidato derrotado por Ahmadinejad nas eleições anteriores. Até hoje não tinha feito qualquer declaração pública embora os analistas concordem que continua altamente envolvido na luta de bastidores.

O conselho de guardiões que está agora a investigar a votação é liderado pelo Ayatollah Ahmed Jannati geralmente reconhecido com um dos dirigentes da linha dura e anti reformista. Mas dois anos após a sua derrota nas presidenciais Rafsanjani tornou-se presidente da Assembleia de Peritos, um outro organismo não eleito que ao abrigo da constituição tem o poder de nomear ou demitir o líder supremo.

Alex Vatanka disse não ser provável que a Assembleia de Peritos demita Khamenei. Isso nunca foi feito e seria algo de radical. Mas Vatanka disse que Rafsanjani pode usar a sua liderança deste orgão para influenciar o Líder Supremo e minar a autoriade do presidente.

"Sabemos que do ponto de vista constitucional podem pressionar Khamenei", disse Vatanka para quem contudo "tudo depende de como é que isto se vai desenrolar nos próximos dias". Mas há uma via pela qual o Líder Supremo, que é nomeado e pode ser demitido pela Assembleia de Peritos, pode começar a sentir pressões", acrescentou.

Regime Não Deverá Caír

As manifestações de rua no Irão fizeram de imediato lembrar as imagens das manifestações de 1979 que levaram à queda da monarquia e à instalação no poder do regime islâmico.

Mas Nicholas Burns, o antigo sub-secretário de estado para assuntos políticos e que durante o governo do presidente Bush foi o diplomata que controlava a política americana para o Irão afirma que é pouco provável que isto leva à queda da teocracia iraniana.

"Não penso que se deva assumir que o estado vai desintegrar-se" disse Burns para quem o estado iraniano "é um estado muito forte".

Mas, disse, "os reformistas também são fortes".

"Temos que ver se as manifestações vão continuar e se o governo continua a fazer marcha-atrás, acrescentou.

Burns disse que ainda que o que se passa "é um dos momentos mais importantes na história do Irão desde a revolução".

" É obvio que há gente a manifestar-se nas ruas verdadeiramente irritadas por sentirem que estas eleições foram realizadas em circunstâncias muito estranhas", acrescentou

O professor Ali Ansari director do Instituto de Estudos Iranianos na Universidade de St. Andrews na Escócia disse que o tamanho das manifestações não tem precedente e deverão continuar.

"Penso que isto vai ser um verão quente", afirmou, acrescentando que as manifestações não deverão acabar rápidamente.

"Os elementos da linha dura vão lutar trincheira por trincheira e tudo depende se a oposição consegue manter o seu ímpeto", acrescentou.

Se isso acontecer como é que o ocidente em geral e os Estados Unidos em particular devem reagir?

Aqui em Washington o Presidente Barack Obama reagiu para já com extrema cautela. É óbvio que os acontecimentos no Irão estão a afectar a diplomacia de Obama de estender uma mão ao regime iraniano na esperança de poder resolver a questão do programa nuclear iraniano.

O presidente Obama expressou já o que chamou de profunda preocupação sobre as eleições mas fez notar que os Estados Unidos não devem ser vistos como estando a interferir nos acontecimentos.

O antigo embaixador da Grã Bretanha em Teerão Sir Richard Dalton concorda com esta posição

"O interesse dos Estados Unidos 'é evitar colocar-se no meio de uma disputa doméstica iraniana", disse o antigo diplomata britânico.

Dalton disse que quando a situação acalmar em Teerão será do interesse do Irão explorar a possibilidade de negociações com os Estados Unidos.

Talvez seja por isso que Barack Obama tenha escolhido ser muito cauteloso nas suas declarações sobre a crise no Irão.

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