As autoridades iranianas e russas arrancaram em regime experimental a primeira central nuclear no Irão, esta quarta-feira, depois de repetidos adiamentos em tornar aquelas instalações operacionais. Um funcionário iraniano disse que os testes foram efectuados ao nível dos computadores e que não foi utilizado urânio.
As operações piloto efectuadas com o reactor de água leve de mil megawatts, construído com a assistência técnica russa ao abrigo de um contrato no valor de um bilião de dólares foram adiadas, por diversas vezes, devido à controvérsia gerada entre os países ocidentais acerca das ambições nucleares do Irão.
Jornalistas estrangeiros e iranianos foram autorizados a filmar a central nuclear de Bushehr, no momento em que o seu reactor arrancou, tendo depois sido carregado com varetas não nucleares feitas de chumbo. Normalmente, essas varetas deveriam ser de urânio enriquecido.
O chefe da Organização de Energia Atómica Iraniana, Gholam-Reza Aghazadeh, orientou o teste inaugural do reactor, apoiado pelo chefe da agência russa de energia atómica, a Rosatom, Sergey Kiriyenko. Aghazadeh, falando através de um tradutor, descreveu a experiência: "Espero que a pré-entrega desta central nuclear abra caminho para o aumento da capacidade em mil megawatts. O Irão e a Rússia têm vindo a trabalhar em estreita cooperação, particularmente nos últimos meses para completar a central nuclear e o processo tem evoluído em ritmo acelerado. Esperamos que esta central produza, em breve, electricidade".
A Rússia construiu a central de Bushehr sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atómica, cujos inspectores controlam de perto o processo, 24 horas por dia, bem como os seus fornecedores de combustível nuclear. Mas, os países ocidentais estão preocupados que o Irão possa vir a usar este seu programa nuclear para produzir combustível para produzir uma arma nuclear, uma acusação que o Irão nega.
O perito nuclear iraniano Mohsen Shirazi disse à televisão do seu país que a utilização de varetas de chumbo no arranque experimental irá permitir simular o primeiro ciclo de condições hidráulicas para testes a quente e a frio.
Informações referem que cientistas nucleares iranianos irão também marcar uma data para utilizar varetas de urânio, se estas experiências se revelarem um êxito.
A central irá funcionar com base em urânio enriquecido importado da Rússia mas, depois de utilizado, esse urânio poderá ser transformado em plutónio, potencial material para utilização em ogivas nucleares. Mas, essas preocupações foram parcialmente reduzidas depois do Irão ter concordado em devolver o combustível utilizado à Rússia, por forma a garantir que Teerão não irá reprocessá-lo para produzir plutónio.
Paul Ingram, o director executivo do Conselho de Segurança Britânico-Americano, considera que o teste efectuado na quarta-feira é um grande marco na marcha do Irão a caminho da proliferação nuclear, já que Teerão tem assim a possibilidade de criar um stock de urânio enriquecido e quanto mais urânio tiverem mais, maior será a tentação de expulsar os observadores da Agência de Energia Atómica para os iranianos passarem a controlar todo o processo sem qualquer supervisão internacional.
O Irão está actualmente a violar várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que quer que o governo de Teerão suspenda todas as suas actividades nucleares, de forma a determinar se estas têm em vista fins meramente civis.
