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Refugiados Zimbabueanos na África do Sul


A crise forçou milhões de zimbabueanos a refugiarem-se nos países vizinhos. Muitos fugiram da repressão política, enquanto outros preferiram fugir dos efeitos do colapso do sistema económico e financeiro do país. A maior parte dos refugiados, procuraram a África do Sul, como país de acolhimento. A Yohana Andrade apresenta de seguida um apontamento de reportagem enviado pelo nosso correspondente na região, Scott Bob, que visitou o campo de Musina, na África do Sul.

Amanhece na cidade de Musina e um amontoado de tijolos pode ser visto espalhado pelo campo. Abrigos feitos de papelão e forrados de plástico estão dispersos pelo terreno. Alimentos são lentamente cozidos em latas de estanho.

Milhares de pessoas juntam-se em frente a um grupo de carrinhas, o centro de registo móvel do governo da África da Sul.

Esta é a primeira escala, na África do Sul, para muitos daqueles que estão fugindo da crise no Zimbabué.

Mike Cziva, um mecânico de 23 anos, está na fila para registar seu pedido de asilo político: "Eu saí do Zimbabué porque as condições estão terríveis. Você tem que lidar com violência e instabilidade política. E o sistema de saúde é muito pobre. Pessoas estão morrendo de cólera. Até mesmo a educação. As escolas estão fechadas até hoje".

Muitos refugiados chegam com pouca ou nenhuma posse. Frequentemente, eles são atacados por gangs, intituladas de gumaguma's, que ficam nas fronteiras assaltando e batendo nos refugiados.

Ray Shumba, de 17 anos, é uma dessas vítimas. Diz ele: "Eu estava com meu irmão. Nós atravessamos o rio vindo a Musina, quando encontramos com alguns gumaguma's. Eles pegaram toda nossa roupa e dinheiro, tudo que nos tínhamos".

Muitas pessoas ficam desesperadas para entrar e atravessar a cerca para começar a se registar. Contudo, elas vão sem documentos e acabam sendo deportadas pela polícia.

O gerente do centro de registo móvel, Sakhile Dlalisa, disse que sua equipe pode lidar com até 300 pessoas por dia: "Nós estamos sob pressão porque temos apenas nove funcionários trabalhando aqui. Se tivéssemos mais condições, mais funcionários e também mais recursos, caminhões e computadores adicionais ou novas estacões de trabalho, poderíamos fazer mais".

Sua equipa registou mais de 60 mil pessoas, a maioria zimbabueanos, desde que o centro começou a funcionar, há seis meses atrás. Porém, outras duas mil estão esperando e cada dia a fila fica maior.

Dlalisa disse que 95 por cento dos nascidos no Zimbabué são rejeitados porque o governo da África do Sul considera que esses imigrantes estão a procura de melhores condições de vida, ao invés de estarem fugindo do regime político.

Mas isso não parece intimidá-los, porque eles pensam que, no fim, podem apelar.

Muitas pessoas, uma vez que recebem os documentos, mudam-se para cidades grandes ou fazendas do interior. Não raramente, também procuram por familiares e amigos que possam ajudá-los.

Um dos sinais evidentes da crise actual do Zimbabué é a epidemia de cólera, uma doença que pode ser facilmente prevenida e tratada que está matando milhares de zimbabueanos nos últimos meses.

A doença expandiu-se além da fronteira por causa dos refugiados, infectando sul-africanos e matando mais de 50 pessoas.

Esta semana, a organização Médicos Sem Fronteiras advertiu que a cólera poderá ficar fora de controlo no Zimbabué. Um dos especialistas em Musina, Fabrizio Ferli, disse que a doença ainda pode ser tratada na África do Sul: "A epidemia não acabou no Zimbabué e não deveria ser considerada terminada nessa área. Nos ainda estamos procurando infectados. Estamos pegando amostras e tratando todos aqueles com diarréia como pessoas com cólera".

Ele afirma que a cólera é o sinal mais visível que o sistema de saúde do Zimbabué falhou. Mas também há muitos casos de malária, tuberculose e HIV.

Alguns refugiados também atravessam a fronteira atrás de educação, já que as escolas no Zimbabué estão fechadas

Grupos de ajuda abrigaram 250 alunos em escolas locais, mas a maioria vai a salas informais nos campos com professores voluntários.

Voluntários dizem estar preocupados sobre as mil e quinhentas crianças desacompanhadas e sem famílias que ficam vulneráveis a exploração sexual e trabalho escravo.

Tropas de ajuda dizem estar surpresos com o número de mães com filhos pequenas fugindo do Zimbabué. Eles cuidam dessas crianças em centros especiais.

Agnes Moyo levou seu filho de seis meses para o centro após atravessar a fronteira com seu marido e mais outras duas crianças. Ela afirma que saiu de seu país pois partidários de Robert Mugabe bateram em seu pai: "Eu simplesmente não posso voltar ao Zimbabué. Não posso porque tenho visto terríveis consequências, então não posso voltar para lá".

Há pouca comida, e os refugiados dormem ao relento. E uma árdua tarefa. Mas eles mantêm a esperança e habilidades para sobreviver. Quaisquer que sejam as razões por terem fugido do Zimbabué, praticamente não há razões para retornar.


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