Quando Barack Obama aceitar esta noite, quinta-feira, a nomeação do seu partido às eleições presidenciais de Novembro irá entrar para a história como o primeiro africano americano a candidatar-se por um partido ao mais alto posto do sistema político americano.
O discurso de Obama vai ser efectuado no mesmo dia em que se assinala o 45° aniversário do famoso discurso de Martin Luther King “I have a dream” - “Tenho um sonho.” Nesse discurso, o activista dos direitos cívicos dos negros americanos disse ter um sonho de igualdade racial em que as pessoas fossem julgadas pelo seu carácter e não pela sua cor.
É talvez uma ironia histórica que muitos negros americanos – muitos deles aqui presentes – receiem que a nomeação senão mesmo a eleição de Barack Obama a presidência sirva para atrasar a luta pela igualdade racial.
O raciocínio é que após uma possível eleição de Obama o resto de América diga que já não há nada mais a fazer para se garantir a igualdade racial pois já tudo foi feito.
Por exemplo o portal da Internet “The Root” - dedicado ao estudo de política e cultura dos negros americanos - publicou um ensaio com o título quase que se poderia dizer de provocador: “Presidente Obama: Um sucesso monumental ou um passo secreto à retaguarda?”
“Se Obama se tornar presidente todas as queixas que ainda existem por parte dos negros e todas as injustiças ainda profundamente enraizadas serão retiradas do discurso político da América.” Quem o escreveu foi Lawrence Bobo, um sociólogo negro da prestigiosa universidade de Harvard que apoia Obama mas que disse que “muitos negros se preocupam que após as eleições os brancos deixarão de dar ouvidos as queixas dos negros sobre injustiça”.
Aliás as percepções da actual situação são diferentes entre brancos e negros.
Uma sondagem do mês passado indica que 53 por cento dos brancos consideram por exemplo que brancos e negros gozam das mesmas possibilidades de avançar. Só 30 por cento dos negros são da mesma opinião. 55 por cento dos brancos consideraram que as relações raciais são boas enquanto apenas 29 por cento dos negros são da mesma opinião.
E é talvez dentro destas diferenças de opinião que muitos se interrogam se a América branca está pronta a eleger um americano negro. Uma sondagem da cadeia de televisão CBS e do jornal “New York Times” revelou que 94 por cento dos inquiridos disseram que votariam por um candidato negro. Mas quando interrogados sobre se a maioria das pessoas votariam por um presidente negro esse numero caíu para 71 por cento.
Os especialistas afirmam que entre 17 e 19 por cento dos democratas brancos e independentes de tendência democrática resistirão votar por um candidato negro o que poderá ser a razão porque num ano de extremas dificuldades para os republicanos a corrida permanece renhida.
Mesmo nas eleições primarias do partido democrático, Obama teve o apoio de 82 por cento dos democratas negros mas apenas 39 por cento do total do eleitorado democrata branco, embora entre os brancos com menos de 29 anos de idade esse apoio fosse de 53 por cento.
Mas há que notar que numa outra sondagem 16 por cento do eleitorado negro disse que não está pronto a votar por um candidato negro citando a sua provável inexperiência.
O próprio Barack Obama tem-se mantido afastado da velha política racial seguida pelos líderes tradicionais negros americanos, apresentando-se como um candidato acima da tradicional política racial dos dirigentes negros americanos que representavam na sua maior parte apenas os interesses do seu grupo. O seu apelo tem em parte sido precisamente esse, o facto de ser visto não como um candidato dos negros mas um candidato negro de todos, um candidato que presta mais atenção a questões de pobreza sem olhar à cor dessa pobreza.
Deste debate uma coisa é certa: Raça é uma questão que continuará a marcar a vida política na América com a vitória de Barack Obama ou com a sua derrota. Embora talvez em moldes totalmente diferentes.