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Começou Cimeira de Líderes Africanos


Cimeira de líderes africanos começou hoje em Sharm El Sheikh, no Egipto. Um clima de cordialidade marcou a recepção ao líder do Zimbabué, Robert Mugabe. E isto, apesar das muitas reticências da comunidade internacional em relação à legitimidade da segunda volta das presidenciais. Os discursos de abertura do evento foram marcados por críticas suaves à forma como foram conduzidas as eleições da passada sexta-feira.

Quem assistiu aos primeiros momentos deste evento viu Robert Mugabe caminhar até ao hall de entrada da estância turística do Mar Vermelho, acompanhado do anfitrião da Cimeira, o presidente do Egipto, Hosny Mubarak, e do presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete. Kikwete ocupa actualmente a presidência da União Africana.

Nos bastidores, sabe-se que muitos países do continente têm exercido pressão para que seja divulgado um comunicado condenando a recente eleição de Robert Mugabe. Muitos inclusive concordaram com os Estados Unidos e com alguns países europeus e, tal como eles, pretendiam que fosse declarada a ilegitimidade do pleito e, por conseguinte, do juramento feito ontem por Mugabe e que marcou o início de seu sexto mandato presidencial.

Essa disputa de bastidores, no entanto, não foi revelada quando as portas da cimeira africana se abriram hoje no Egipto. Longe das luzes da ribalta, o número um da Comissão da União Africana, Jean Ping, vem exercitando um papel de mediador entre os que apoiam Mugabe e aqueles que pedem uma acção mais enérgica contra o seu regime. Ping, ex-ministro dos negócios estrangeiros do Gabão, apelou aos líderes regionais para que cheguem a uma solução negociada:

«A África tem que carregar nos ombros as suas responsabilidades e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar os partidos do Zimbabué a trabalharem juntos, guiados pelos interesses maiores do país. Só assim poderão superar os actuais desafios».

As palavras mais duras vieram da antiga ministra dos negócios estrangeiros da Tanzânia, Asha Rose Migiro - actualmente ela é vice-secretária geral das Nações Unidas. Para Migiro, a crise política do Zimbabué é o único grande desafio para a estabilidade na África Austral.

«Este é o momento da verdade para os líderes regionais. Muitos levantaram suas vozes em relação a este assunto. O Secretário Geral apela a vossas excelências para que se mobilizem e dêem todo o apoio a uma solução negociada. Só o diálogo entre os partidos zimbabueanos apoiado pela União Africana e outros actores regionais poderá restaurar a estabilidade», afirmou.

Em declarações à Voz da América, a Secretária de Estado Adjunta dos Estados Unidos para Assuntos Africanos, Jendayi Frazer, classificou a eleição de Mugabe de «clara expressão da tirania». Disse ainda Frazer que o mundo deve estar atento e ver como os líderes africanos reagem.

«No passado, a questão que se punha para os líderes africanos era como lidar com governos militares que chegavam ao poder pela força das armas. Agora, deverão dar um passo em frente, aprendendo a lidar com presidentes que se ´inauguram´ a eles mesmo em eleições duvidosas, não credíveis. Isto é um assunto com o qual é difícil lidar já que houve muitas eleições que não foram o que se deveria esperar. Não foram livres e justas», finalizou.

A resolução sobre o Zimbabué que deve ser divulgada amanhã, durante a sessão final desta cimeira da União Africana, não deverá criticar directamente Mugabe ou a eleição. Admite-se que critique, isso sim, a violência em geral e que apele ao diálogo. Segundo fontes diplomáticas, muita gente gostaria de usar uma linguagem mais forte nesta resolução, mas é mais provável que vença o tom escolhido pelos muitos amigos de Mugabe presentes no evento.

Afinal, Mugabe faz parte desse clube de líderes africanos há 28 anos.

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