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Guiné Equatorial: A Riqueza Que Vem do Petróleo


Com a subida do preço do petróleo, países exportadores da África Central escassamente povoados como a Guiné Equatorial estão, quase literalmente, a nadar em dinheiro. Dinheiro que permite obras como a construção da nova e moderna capital, a chamada Malabo Dois. Mas, não obstante a maré de recursos provenientes do «ouro negro», muita gente continua a viver em bairros da lata, sem água canalizada, sem electricidade.

Esse é o cenário na África subsariana. Cada dia que passa, aprofundam-se as desigualdades sociais. A distância entre ricos e pobres é cada vez maior.

Malabo, capital da Guiné Equatorial, fica na ilha de Bioko. Se subirmos a uma colina para observar a cidade do alto, veremos por todo o lado operários. Operários que constróem uma nova estrada, que leva a uma nova ponte. Ponte que fica perto de um novo estádio, de um centro de conferências, dos edifícios do governo, do parlamento e do palácio presidencial.

Não muito longe fica um bairro da lata onde encontramos uma mulher irritada por que a bomba d’água que tem atrás da barraca há três dias que não funciona. A roupa suja amontoa-se e as crianças correm nuas pelas ruas. Ela recusa-se a dizer o nome ou a dar entrevista. Diz-nos que é óbvio que não tem nada. Nada, nada, faz questão de repetir.

As pessoas aqui têm medo falar. Aliás, quando os jornalistas estrangeiros recebem as credenciais do Ministério da Informação e Turismo são imediatamente informados que o seu limite de acção são os bairros da lata. Dizem-lhes também que apenas as áreas turísticas podem ser fotografadas.

A Guiné Equatorial tem entre quinhentos mil a um milhão de habitantes, a maioria dos quais vive na mais completa pobreza. E isto, apesar do país ter um rendimento per capita que é dos mais altos do mundo.

Um porta-voz do partido do Governo diz que os estrangeiros gostam de exagerar quando falam dos problemas do país. Ele não nos deixou gravar entrevista, mas explicou-nos que estava muito orgulhoso de todas as estradas que estão a ser construídas pelo país afora.

A Directora Nacional do Banco dos Estados da África Central, Mariola Bindang Obiang, concordou em dar-nos uma entrevista. Ela recusou-se, no entanto, a dizer-nos qual a percentagem de dinheiro que sua organização recebe da Guiné Equatorial. «Em termos de percentagem, a Guiné Equatorial tem um peso considerável no conjunto dos bancos, mas não seria sensato da minha parte revelar esses números», explicou.

Acredita-se que o país represente mais de metade do total desse “pool” de bancos. E pensar que há muito pouco tempo atrás - antes da escalada dos preços do petróleo - era apenas uma fracção de percentagem.

Obiang sente-se mais à vontade para falar quando o assunto são os planos de longo prazo do governo em termos desenvolvimento. Diz ela que «o grande desafio da actualidade é como esses recursos resultantes do petróleo podem beneficiar toda a gente. Acho que foi por isso que o Governo realizou aquela conferência em Bata em novembro do ano passado. Para definir a estratégia para a Guiné Equatorial até 2 mil e 20. Quero eu dizer que a política económica do governo que se segue está bem descrita. A ideia é tentar que todos os sectores económicos recebam recursos gerados pelo sector petrolífero».

Obiang lembra que o petróleo traz dinheiro, mas não traz muitos empregos. Por isso, ela sugere que o Governo encontre meios de reverter essa situação. «O que faremos agora é ver se, depois da conferência de Bata e ao longo do próximo ano, o que estava descrito no documento vai ser implementado nos diferentes sectores da economia. Parece-me que os rendimentos resultantes do petróleo atingirão cada vez mais camadas da população», finalizou.

Durante uma manifestação recente em Malabo, a oposição queixou-se que apenas uma minoria, no poder, a começar pelo presidente Teodoro Obiang Nguema, controla boa parte da riqueza proveniente do petróleo. A oposição diz ainda que os programas de desenvolvimento do Governo estão mais ligados a projectos que resultam em cobertura dos media, a exemplo dos grandes eventos desportivos. Fazem isso, em vez de levarem água, educação e qualidade de vida às áreas mais pobres.

Mas o partido do Governo conquistou 99 dos cem lugares das instituições do poder municipal nas recentes eleições ou seja, a oposição não tem voz, não pode sugerir que o dinheiro do petróleo seja gasto desta ou daquela forma.

Uma fonte diplomática também se queixou das decisões do governo em relação ao uso dos recursos vindos do sector petrolífero. Disse à “Voz da América” que elas seguem objectivos muito mais estatais do que os ditados pelo mercado.

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