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A Tensão Aumentou ao Longo da Fronteira entre a Etiópia e a Eritréia


A tensão aumentou ao longo da fronteira entre a Etiópia e a Eritréia no decurso do ano de 2007 e em antecipação do dia 30 de Novembro data marcada para um acordo por uma comissão internacional de fronteiras.

No final do ano as duas nações rivais da região do Corno de África tinham possuíam quase 250 mil soldados frente a frente ao longo da disputada fronteira.

Se a data marcada pela comissão arbitraria passou sem incidentes, o perigo de uma guerra permanece considerável.

O primeiro ministro etíope, Meles Zenawi tem afirmado repetidamente que o seu país não será levado a um conflito com a rival Eritréia, mas num encontro recente com jornalistas, Zenawi abriu uma excepção.

‘Nunca iremos para a guerra com a Eritréia a menos que se registe uma invasão. Não por qualquer provocação, mas por uma invasão. Esta será a única condição que nos irá forçar a lutar contra a Eritréia. Não espero que o lado Eritreu desencadeie uma invasão por que estou convencido que sabem que será um suicídio.’

Meles Zenawi e o presidente vitalício da Eritréia, Isaias Afewerki foram outrora companheiros de armas, tendo lutado juntos no decurso de 20 anos de guerra de guerrilha que levou, em 1991, ao derrube do ditador marxista etíope, Mengistu Haile Mariam.

Todavia o relacionamento entre os dois antigos amigos deteriorou-se rapidamente após a Eritréia ter obtido, em 1993, a independência da Etiópia.

Num espaço de cinco anos os dois países estavam envolvidos numa guerra de fronteiras, com cada lado a reivindicar a pequena localidade de Badme.

O conflito de dois anos custou a vida a 70 mil pessoas, tendo terminado em Dezembro de dois mil, com as partes aceitando que uma comissão internacional resolvesse a disputa.

Todavia quando dois anos mais tarde a comissão a presenteou a decisão, atribuindo Badme a Eritréia, a Etiópia recusou-se a aceitar. Após mais cinco anos de tentativas para encontrar um acordo mutuamente aceitável, a comissão desistiu e deu, no final de Novembro, por concluídos os trabalhos reiterou que a decisão de 2002 era definitiva.

Tanto a Eritréia como a Etiópia tinham colocado objeções à denominada demarcação virtual da fronteira, baseada em mapas antigos e dados de satélites. Mas quando a data limite passou a Eritréia reivindicou vitoria, exigindo que a comunidade internacional reconhecesse a demarcação como sendo vinculativa.

O primeiro ministro etíope, Meles, rejeitou a decisão, argumentando que a fronteira teria de ser marcada no terreno.

‘No que diz respeito à demarcação de fronteira, tenho ouvido a respeitados diplomatas e a advogados adiantar que não faz sentido legal. Os nossos advogados concordam com esta caracterização, e até que seja demarcada no terreno não se encontra marcada.’

O dirigente etíope tinha previsto que a data limite de Dezembro iria passar sem problemas, como aconteceu, a meio de uma vaga de diplomacia preventiva destinada a arrefecer os ânimos.

A secretaria de Estado americana, Condoleezza Rice visitou Addis Abeba para conversações com Meles.

A pressão diplomática, não tinha, todavia esbatido os receios da irrupção de uma guerra ao longo dos 900 quilómetros da fronteira altamente militarizada.

Observadores políticos sustentam que dada a animosidade pessoal entre os dois dirigentes, a guerra de propaganda que tem polarizado os dois lados, parecendo impossível nesta altura o dialogo bilateral.

Gebru Asrat combateu ao lado tanto de Meles como Afwerki na guerra de guerrilha que derrubou o regime de Megistu e levou a independência da Eritréia. Mais tarde serviu como governador da região etíope que faz fronteira com a Eritréia.

Asrat manifesta preocupação para com a possibilidade de um acidente, ou um erro de calculo, poder mergulhar a região num outro conflito prolongado.

‘Trata-se de uma situação precária. Mobilizaram os respectivos exércitos nas fronteiras. Tem ambos enormes exércitos e se forem malucos, se forem ilógicos podem iniciar uma guerra, uma guerra que não tem objectivo.’

Muitos diplomatas ocidentais e observadores partilham do receio de Gebru, um receio de que uma guerra, mesmo que não seja intencional, possa irromper dentro de dias. Sustentam que a Etiópia entusiasmada pelo relacionamento com os Estados Unidos no combate ao terrorismo no Corno de África possa ser tentada a tentar esmagar o seu vizinho menor, que os Estados Unidos consideram ser um problema regional.

O antigo embaixador dos Estados Unidos na Etiópia, David Shinn, rejeita o argumento, sublinhando que a ira da comunidade internacional vai cair sobre qualquer dos lados que inicie uma guerra.

‘Saber-se-á quase imediatamente quem iniciar o ataque. Não é possível esconder, e se o fizerem as duas partes serão crucificadas pela comunidade internacional. E no meu ponto de vista até mesmo os Estados Unidos, não penso que os Estados Unidos fiquem de lado e aceitem que a Etiópia inicie um ataque contra a Eritréia, mal grado a horrível relação existente entre a Eritréia e os Estados Unidos.’

Shinn sublinha que a condenação internacional poderá não ser eficaz contra a Eritréia, que habitualmente tem ignorado a opinião mundial, embora os dirigentes eritreus estejam cientes da superioridade militar da Etiópia.

Ainda mesmo que a Etiópia seja mais forte militarmente, analistas militares sublinham que os dois lados são significativamente mais fracos do que eram na guerra anterior. Encontram-se já envolvidos numa guerra por procuração na vizinha Somália, onde milhares de soldados etíopes estão ocupados no apoio ao governo de transição somali contra extremistas islâmicos que conduzem uma rebelião ao estilo iraquiano.

A Etiópia combate igualmente uma rebelião na região de Ogaden.

O analista etíope, Medhane Tadesse, acentua que a fraqueza mutua constitui uma oportunidade, e embora o dialogo entre as lideranças possa ser impossível, Medhane advoga construir aquilo que denomina de apoio para a paz, entre intelectuais e elementos influentes dos dois países no seio da diáspora Eritréia e etíope, que já se encontram envolvidos num acesso debate através da Internet.

‘Não quero ser pessimista. O que quero dizer é que será possível criar uma base enquanto se negoceia o conflito. Existe um equilíbrio de poder entre a Etiópia e a Eritréia, estranhamente baseado na fraqueza. Exploremos esta situação, pois pelo menos abre outras vias para as negociações.’

Existem outras avenidas. Uma fonte das Nações Unidas indicou que a organização mundial está a encarar formas para minorar as tensões. Um pequeno contingente da ONU permanece na fronteira, pelo menos até ao mandato expirar no final deste mês de Janeiro, e um responsável da ONU está a planear para breve uma visita de consultas a região.

Com o voltar da página do ano de 2007 para 2008, a rivalidade entre dois antigos camaradas, e a disputa pelo controle de uma localidade estrategicamente sem significado, mas com potencial emocional, continua a ser um ponto perigoso de confrontação.

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