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Chefe do Governo de Bissau Visita Portugal


O primeiro-ministro da Guiné Bissau, Martinho Ndafa Kabi, inicia hoje uma visita de uma semana a Portugal , com a situação dos guineenses que serviram a tropa e a administração colonial portuguesa, entre outros aspectos, na agenda da visita..

Trata-se da primeira vez que a problemática questão dos guineenses que serviram a tropa colonial portuguesa e a administração colonial portuguesa figura entre as prioridades da agenda da visita de um chefe de governo da Guiné-Bissau a Portugal.

Encarada ,em certa medida, como uma questão tabu, raros têm sido os dirigentes políticos dos sucessivos governos e regimes na Guine-Bissau a aventurarem-se a uma abordagem descomplexada da situação desse grupo especifico de guineenses que, num capítulo da história recente do país, teriam cometido o “pecado” da opção por uma trincheira oposta à do movimento nacionalista.

Diga-se, uma opção que os governantes da Guiné- Bissau pós colonial nunca perdoaram. No período que se seguiu à independência do país, vários elementos dos antigos comandos africanos da então tropa de elite do exército colonial, abandonados à deriva naquela antiga província ultramarina, na hora da debandada, foram sumariamente julgados e fuzilados pelo PAIGC, que então assumia o poder.

Dos sobreviventes, uma boa parte conseguiria refugiar-se no vizinho Senegal. Vários outros, por vias íngremes, acabariam por fixar residência em Portugal. Mas, os poucos resignados à sorte de terem que ficar no país, fizeram-no durante todos estes anos, submetidos a um pacto de silêncio sepulcral.

São precisamente estes antigos soldados do exército português que, invocando os acordos de Argel, que consubstanciavam os termos da transferência do poder, da administração colonial território, para os nacionalistas do PAIGC, que têm vindo, nos últimos tempos, a manifestarem-se junto à embaixada de Portugal em Bissau exigindo, designadamente, o pagamento de pensões pelos anos que serviram o exército da antiga potência colonial.

Mas, sempre que confrontados com as exigências dos ex-soldados, as autoridades de Bissau remetem para Lisboa a responsabilidade pelo pagamento de qualquer reivindicação.

A cruzada dos governantes guineenses contra os antigos servidores da potência colonial portuguesa conheceria, todavia, em 1977, um novo episódio. Uma medida governamental, decretava a exoneração compulsiva dos funcionários do novo Estado guineense que, junto da administração portuguesa, reivindicassem o pagamento de pensões pelos anos que serviram a antiga potência administrante da então província da Guiné.

E, daí em diante, seria o descalabro da administração do Estado na Guine Bissau, com todo o seu cortejo de desfuncionalidades e limitações que se arrastam aos dias de hoje.

É, pois, perante este cenário que a atitude do primeiro-ministro guineense, Martinho Ndafa Kabi,de agendar a questão dos antigos funcionários da administração colonial no topo da agenda da visita a Portugal, está sendo encarada, em determinados círculos políticos, como um acto de contrição, diga-se tardio, mas que não deixa, paralelamente, de reflectir um gesto de coragem política orientada no sentido da superação de um dos mais problemáticos atritos de sempre no relacionamento entre a Guiné-Bissau e Portugal.

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