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Mauritanianos Negros Contestam Práticas de Escravatura


Na fase final da campanha para a segunda volta das eleições presidenciais na Mauritânia, os dois candidatos de origem árabe tentam granjear os votos da comunidade negra de um país dividido por acentuadas linhas étnicas.

Cabe, entretanto, aos negros - expulsos há duas décadas - identificar os candidatos que melhor perfilhem os ideais de um eventual regresso dos refugiados mauritanianos aquele país do Norte de África.

A VOA foi descobrir muitos desses potenciais eleitores mauritanianos no Senegal , num campo de refugiados a 20 quilómetros da fronteira com a Mauritânia.

Campos de refugiados, à semelhança deste, em Dodel, visitado pela nossa reportagem albergam milhares de mauritanianos ao longo da fronteira comum entre o Senegal e a Mauritânia.

Com 600 quilómetros de extensão, escassa vegetação estes campos, acolhem principalmente indivíduos de raça negra, expulsos da Mauritânia no início da década de 90, durante os conflitos de natureza étnica e regional.

Seguem atentamente o desenrolar da segunda volta das eleições, que terá por protagonistas, os candidatos Sidi Ould Sheik Abdellahi e Ahmed Ould Daddah.

Só que nenhum desses refugiados, apesar de abordarem de forma acalorada as questões políticas do pais em redor de uma mesa, acompanhado de um chá de hortelã-pimenta, tem o direito ao voto.

Alegam que, quando abandonaram a Mauritânia, os funcionários dos serviços fronteiriços recolheram os seus documentos de identificação, pelo que hoje estão privados de meios para provar a sua cidadania mauritaniana.

O chefe do campo é Amadou Samba Ba, uma ex-alta patente das forcas armadas mauritanianas.

Samba Ba diz que deseja regressar à Mauritânia, caso o presidente eleito cumpra a promessa de pôr fim à escravatura e garanta o regresso dos refugiados aos seus locais de origem.

Caso assim não seja, admite Samba Ba, aceitaria a repatriação para um terceiro pais.

Este antigo militar quer, sobretudo, dar aos sete filhos uma oportunidade de vida, fora daquele campo de acolhimento.

Grupos dos direitos humanos e indivíduos da raça negra têm vindo a denunciar o racismo e a escravatura na Mauritânia como práticas abertamente praticadas naquele país.

O porta voz da Associação dos Mauritanianos Refugiados no Senegal, Moustapha Toure, diz que muitos compatriotas seus desejam regressar ao país de origem, a Mauritânia, mas sob a condição dos governantes daquele Estado do Norte de África, admitirem a existência de abusos dos direitos humanos , que têm, regra geral, os negros por vítimas.

Para este activista, a sua comunidade esta inclusivé disposta a negociar o regresso: “Estamos abertos. Vamos, provavelmente, aceitar analisar a questão com as autoridades mauritanianas. Mas, temos as nossas condições”- conclui Moustapha Toure.

Entre as condições que a comunidade de refugiados mauritanianos no Senegal impõem para o seu eventual regresso ao país, destaca-se a criação de uma espécie de comissão para a reconciliação e verdade e um processo de repatriação, supervisionado pela comunidade internacional.

Os mauritanianos deslocados e refugiados, na sua maioria negros, desejam ainda recuperar a cidadania e obter apoios para a sua reintegração social.

Mas, de acordo com a Refugee International, um grupo defensor dos direitos dos refugiados, com sede nos Estados Unidos, os mauritanianos expulsos não têm, em termos práticos, uma pátria, já que a maior parte não é detentora do estatuto de refugiado devido, em parte, a um oneroso e complicado processo imposto pelo Senegal, país que acolhe a maioria dos mauritanianos exilados no exterior.

E sem o devido comprovativo de cidadania mauritaniana, torna-se numa espécie de missão impossível fazer com estes refugiados sejam aceites pelas autoridades da Mauritânia como cidadãos de pleno direito.

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