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Mozambique: Vítimas das Cheias Concentradas em 90 Acampamentos


Há já várias semanas que os trabalhadores da assistência humanitária tentam debelar o sofrimento humano causado pelas cheias na bacia do rio Zambeze, em Moçambique, que destruíram casas e colheitas de mais de 140 mil moçambicanos.

Apesar das operações de assistência humanitária estar a ter algum impacto desejado, concretamente na estabilização da situação, diariamente é reportada a chegada aos campos de acolhimento de mais desalojados.

As populações desalojadas pelas piores cheias dos últimos seis anos em Moçambique estão concentradas em 90 campos, em quatro províncias, na região central de Moçambique.

O maior campo, com mais de oito mil desalojados, fica localizado perto da aldeia de Chupanga, a cerca de 100 quilómetros do rio Zambeze.

Os populares albergados em tendas de campanha nos campos de acolhimento, recebem uma ração de milho, de lentilhas e óleo alimentar. Às vezes, o pacote inclui outros géneros, nomeadamente sal e sabão.

As aulas para as crianças foram parcialmente reatadas em largas de tendas de campanha, com mais de setecentas crianças do nível primário, contabilizadas pela nossa reportagem nas diversas salas de aulas improvisadas e doadas pela UNICEF, a agencia das Nações Unidas que providencia, igualmente, todo o material didáctico, para além de roupas.

Para os funcionários locais é importante que as crianças retomem as actividades escolares, isto apesar de, em Moçambique, muitas crianças permaneceram ainda fora do sistema de ensino, sobretudo das áreas mais remotas do país.

Junto as tendas, a Cruz Vermelha montou uma unidade de saúde , que assiste diariamente cerca de 200 pessoas, incluindo na vacinação das crianças e adultos, para evitar eventuais surtos de doenças.

Diga-se que, graças à iniciativa, se tem conseguido evitar casos de surto de cólera, de malária, de bronquite ou de diarreia, esta último, por sinal, a mais comum em circunstâncias do género.

De acordo com as equipas médicas no terreno, muitas crianças não são detentoras de um certificado de vacina, o que pressupõe que nunca antes tinham tido acesso ao sistema nacional de saúde.

O chefe da equipa clínica no campo é o enfermeiro Caetano António Nota, que explicou à nossa reportagem que, para além de tentar curar as doenças de que padecem as populações vítimas da cheia, a equipa clínica tenta, igualmente, educar os desalojados do acampamento para com os cuidados a ter com a higiene e a saúde.

O centro de coordenação da campanha de assistência está localizado em Caia, a capital da provincial de Sofala.

O coordenador da Cruz Vermelha, Alex Claudon, supervisiona diariamente e sob um sol escaldante, no héli-porto de Caia às operações de embarque e desembarque de carregamentos de medicamentos destinados aos campos dos desalojados pelas cheias, sobretudo das áreas mais remotas do país.

De acordo com este responsável da Cruz Vermelha, apesar de todo o esforço que tem sido feito, a ajuda humanitária não tem estado a chegar a todas as vítimas das cheias.

“Sabemos que vai chover ainda mais. Sabemos que essas pessoas estão sem abrigo. Por isso, decidimos montar esta dispendiosa operação aérea” – conclui Alex Claudon.

As equipas de assistência humanitária reúnem-se, diariamente, em Caia, com as estruturas governamentais de coordenação da operação, do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades.

De acordo com João Ribeiro, director adjunto daquela estrutura governamental, o governo moçambicano quer reinstalar as vítimas das cheias em áreas onde tenham acesso a escolas e clínicas médicas.

Mas, para materializar a ideia, o governo vai precisar de ajuda. Para já, os doadores internacionais consideram um eventual apoio ao programa de reassentamento, desde que todas as partes concordem com a solução.

Mas, por enquanto, os doadores estão mais concentrados no apoio às vítimas, por um período de, pelo menos seis meses, isto até que consigam cultivar os campos e dela colher os frutos. E esperam, sobretudo, que as novas chuvas que se esperam não venham a agravar as já difíceis condições de trabalho no terreno.

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