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O Iraque à Beira da Guerra Civil Generalizada


Um novo relatório de uma organização de pesquisa internacional independente reconhece que o Iraque esta rapidamente a derrapar para uma situação de guerra civil generalizada e apela a administração americana para que inicie o processo de planeamento de formas de prevenir um conflito do que género, cujo impacto seria catastrófico a nível daquela região.

De acordo com os autores do relatório, a nova estratégia do presidente George Bush, que prevê o envio de mais de 20 mil soldados americanos para o Iraque, constitui o que se pode chamar de uma última oportunidade para se conseguir travar os combates e relançar o processo de reconstrução e de recuperação económica daquele conturbado país.

Kenneth Pollack, co-autor do relatório e analista sénior do departamento do Médio Oriente da Brookings Instituition, defende que os Estados Unidos e o governo iraquiano precisam de estar agora preparados para o que o documento considera a “ inevitável derrapagem para uma guerra civil”.

“Acima de tudo uma guerra civil no Iraque seria uma tragédia, mas permitir que a instabilidade dilacere o Iraque, para além disso seria catastrófico.”- palavras de Kenneth Pollack

O relatório e o resultado de um ano de estudos no terreno baseados na avaliação de situações de guerra civil em países tais como o Afeganistão, o Líbano e a ex-Jugoslávia, com o propósito de se apurar que lições são susceptíveis de se apreender para uma eventual minimização do risco dos confrontos no Iraque, evoluírem para uma situação de guerra civil generalizada.

Caso se venha a presenciar tal cenário de colapso no Iraque, o relatório prevê a morte de centenas de milhares de iraquianos, de milhões de outros condenados ao estatuto de refugiados e assim como a emergência de um terreno propício para a actividade terrorista, com impacto imediato a nível da reducao dramática da influência americana no Médio Oriente.

Dan Byman, co-autor do relatório e director do programa de estudos de segurança da Universidade Georgetown, na capital, Washington, e da opinião que os Estados Unidos seriam os únicos responsáveis por um tal cenário.

“ As consequências humanitárias estão a aumentar e seriam bem mais dolorosas, diria eu, porque o problema começou devido à invasão dos Estados Unidos. Eu penso que, aos olhos dos americanos, do mundo ou da região ou ainda do próprio Iraque, se trata de um problema criado pelos Estados Unidos pelo qual os Estados Unidos têm uma responsabilidade especial.”

Em caso de um cenário de guerra civil, o relatório recomenda a retirada das tropas dos Estados Unidos dos centros populacionais iraquianos e re-orientação dos esforços americanos no sentido da contenção do conflito.

Os autores do relatório a que temos estado a fazer referência recomendam, por outro lado, a criação de uma zona de segurança ao longo da fronteira iraquiana que possa servir de santuário de acolhimento dos refugiados e de zona tampão que consiga limitar o fluxo de terroristas e combatentes estrangeiros para o interior do Iraque.

Perante estas circunstâncias, defende o analista Kenneth Pollack, os Estados Unidos não deveriam retirar por completo as suas tropas do Iraque.

“ Se o plano do presidente falhar, não vejo como permanecer no Iraque. Mas, se abandonarmos o Iraque estaremos criando as condições para que a guerra civil se alastre além fronteiras iraquianas ou para que o conflito se transforme numa massiva guerra regional que poderia desestabilizar por completo a região, ameaçar o fornecimento do petróleo mundial”.

Os autores do relatório realçam ainda que a estratégia proposta no documento requer um continuo e a longo prazo envolvimento militar americano na região, o que segundo eles, acabaria por alimentar uma cada vez mais intensiva oposição interna à guerra.

Dan Byman prevê, por outro lado, que o conflito possa ainda influenciar a polícia externa americana desta e das administrações americanas vindouras.

“ O problema que estamos a fazer face no Iraque iria ter efeitos bem mais profundos nos centros de decisão da política dos Estados Unidos, nos partidos políticos ou nas proprias administrações americanas que teriam que lidar com a situação para os próximos, no mínimo dez anos. Quem sabe viesse a constituir-se também no principal vector da política americana para a região”.

O relatório a que temos estado a fazer menção conclui que qualquer tentativa para se evitar que a guerra civil se alastre por todo o Iraque teria custos, nomeadamente em sangue e dor. E que ignorar essa possibilidade evitando preparar-se para um tal cenário, contribuiria simplesmente para agravar ainda mais a situação.

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