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A Situação Agrava-se na Somália


Na Somália, recentes ataques terroristas, em Baidoa, e informações de que estrangeiros treinam e combatem ao lado de milícias dos tribunais islâmicos têm levantado sérias questões sobre se a cada vez mais poderosa liderança islâmica do país constitui uma ameaça para a segurança e para a paz regional.

Os ataques bombistas suicidas do mês passado visaram o presidente do governo secular de Baidoa, que é apoiado pela ONU, abalaram muitos somalis que nunca tinha visto acções deste género cometidas no seu país.

Não é ainda claro que terá levado a cabo a frustrada tentativa de assassinato. Mas, a liderança do governo interino responsabiliza a Al Qaida e os seus simpatizantes no âmbito dos tribunais islâmicos.

Os líderes islâmicos, em Mogadixo, negam qualquer envolvimento no ataque, mas perderam grande parte da sua credibilidade, na semana passada, quando islâmicos reconheceram que combatentes estrangeiros, ligados à Al Qaida, os ajudaram a assumir o controlo da estratégica cidade de Kismayo, no Sul do país.

O analista sénior da organização americana Power and Interest News, Michael Weinstein, disse que se houvesse quaisquer dúvidas sobre a existência de radicais da linha dura nos tribunais islâmicos, estes mais recente incidentes afastaram todas as dúvidas: “O atentado bombista com o carro armadilhado, em Baidoa – o que não faz parte da cultura da resistência somali – significa que se verificou uma mudança. Estou a chegar à conclusão de que existe sem dúvida o que designo por uma ala revolucionária islâmica. Não gosto de lhes chamar terroristas, porque terrorismo é uma táctica. Mas chamo-lhe revolucionários islâmicos porque penso que são exactamente isso mesmo”.

Desde que beneficiaram de uma vaga de apoio popular para expulsar de Mogadixo, em Junho, alguns destacados membros dos tribunais islâmicos têm vindo a ser perseguidos por alegações de que o seu verdadeiro objectivo não é a unidade ao abrigo da lei islâmica e estabelecer a lei e a ordem, mas transformar a Somália num paraíso para o extremismo muçulmano.

No anos 90, o líder supremo do grupo islâmico, o Xeique Hassan Dahir Aweyes, liderou a organização islâmica somali conhecida pela designação “Al-Itiyaad al-Islamiya”, que se crê tenha recebido apoio da Al Qaida. Aweys ainda faz parte da lista de suspeitos de terrorismo do Departamento de Estado americano.

Nos últimos meses, jovens militantes em Mogadixo, leais ao chefe militar islâmico, Aden Hashi Ayro, formaram uma obscura organização conhecida como “Shaabab”, cuja exacta actividade não é clara, embora muita gente na capital afirme que os seus elementos tenha sido escolhidos a dedo por Ayro e que tenham sido treinados, possivelmente por estrangeiros, para levar a cabo actos terroristas.

Entretanto, há notícias de que combatentes estrangeiros provenientes do Afeganistão, do Paquistão e de outros países muçulmanos estão a afluir à Somália, o que está a causar ansiedade entre os cidadãos somalis, os países vizinhos e no Ocidente.

Num relatório do Conselho de Segurança da ONU, divulgado na semana passada, uma equipa das Nações Unidas disse ter recebido informações de que guerrilheiros taleban estariam a ser treinados na Somália.

Numa entrevista à VOA, em Maio, o então presidente da União dos Tribunais Islâmicos, o Xeique Sharif Sheikh Ahmed, negou veementemente a presença de quaisquer combatentes estrangeiros na Somália e disse que aqueles elementos nunca seriam bem recebidos pela sua organização.

O enviado especial da Itália para a Somália, Mario Rafaelli, afirma ser possível que Ahmed tenha sido sincero. Mas, adianta que os Tribunais Islâmicos nunca foram uma organização unificada, dividida internamente entre os moderados, seguidores de Ahmed e os da linha dura, de Aweys. Disse Rafaelli: “Nós sabíamos disto desde o início. Era muito claro que o movimento islâmico era constituído por diversas componentes e os Shaabab são provavelmente os mais radicais dentro do movimento.”

O analista regional sediado em Nairobi, Matt Bryden, afirma acreditar que o debate interno se está a intensificar e que ainda está longe de ser claro que lado é que irá vencer: “Os tribunais em si mesmo estão num processo de transição e reorganização. E penso que não iremos ter uma ideia clara de como se estão a organizar e de quem serão os seus líderes aos mais diversos níveis, senão nas próximas semanas.”

Analistas afirmam que um importante factor que talvez influencie, e decida mesmo, o resultado da luta pelo poder será o próprio povo somali.

Muitos somalis mergulham as suas raízes nas práticas tradicionais liberais do islamismo sunita. Milhares de somalis, em Kismayo e noutras zonas do país, têm protestado contra o tipo de Islão ultra-conservador Wahabi que lhes está a ser imposto por alguns dos líderes dos Tribunais.

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